Da Redação
Em discurso nesta quinta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil precisa corrigir distorções tributárias e que “quem ganha muito vai pagar o imposto que merece”. Ele criticou a resistência parlamentar às medidas e defendeu que trabalhadores de baixa renda sejam poupados.
Nesta quinta-feira, 9 de outubro de 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a colocar a taxação dos super-ricos no centro do debate público. Em sua fala, ele questionou a desigualdade presente no sistema tributário brasileiro, afirmou que “eles vão pagar o imposto que merecem” e criticou a postura de parlamentares que rejeitaram propostas no Congresso destinadas a aumentar a contribuição dos mais ricos.
Lula fez uma distinção clara entre trabalhadores e elites econômicas. Ele lembrou que quem ganha até R$ 5 mil não terá aumento de imposto de renda, enquanto atacou a lógica de que quem já contribui pouco pague mais: “É engraçado, porque o povo trabalhador paga 27,5% do seu salário, e os ricos não querem pagar 18%”, afirmou ao lamentar a falta de aprovação de medidas consideradas básicas de justiça fiscal.
Na sua leitura, uma parte do Congresso rejeitou a taxação prevista porque ela feria interesses poderosos. Ele citou que foram propostas alíquotas entre 12% e 18% para tributação de bilionários, bancos e empresas de apostas (“bets”), mas que muitos parlamentares resistiram a aprová-las. Em sua avaliação, essa recusa não representou apenas uma derrota política do governo, mas uma derrota simbólica para o povo brasileiro, que esperava ver uma mudança estrutural.
Outra bandeira levantada por Lula foi a taxação de fintechs: ele defendeu que essas empresas, muitas vezes maiores do que bancos tradicionais, paguem impostos proporcionais à sua dimensão. A medida era parte do texto original da Proposta ou Medida provisória de taxação dos super-ricos, que acabou não avançando no Congresso. Com sua retirada da pauta, o texto perdeu vigência. Lula afirma que o governo vai pensar novas formas de tributar setores até agora com privilégios ou lacunas regulatórias.
O revés no Legislativo provocou reações duras do governo e de lideranças partidárias aliadas. Parlamentares do PT e de partidos da base classificaram como “vergonhosa” a decisão de derrubar ou empurrar para baixo de forma velada a proposta de taxar fortunas, alegando que foi uma vitória de interesses econômicos em detrimento da justiça social. A avaliação é que a recusa demonstra que parte do Congresso prefere preservar privilégios do 1% mais rico da população em vez de promover uma distribuição mais equilibrada da carga tributária.
Analistas econômicos e políticos veem nessa disputa um ponto de inflexão para o governo Lula. Por um lado, a agenda de taxação de super-ricos reforça o discurso tradicional da esquerda sobre desigualdade e justiça social. Por outro, a resistência parlamentar revela os desafios práticos de converter ideais em políticas em um Congresso fragmentado, com forte pressão de grupos de interesse financeiro.
Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, observou que a combinação da isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil e da proposta de taxação mínima para os super-ricos pode representar um reequilíbrio simbólico e político favorável ao presidente. Ele considera que essa pauta pode ampliar a base de apoio do governo entre trabalhadores formais, sobretudo em segmentos que historicamente resistem a governos de esquerda.
Porém, o empecilho estrutural permanece: aprovar medidas tributárias que atinjam poderosos exige coalizões robustas, articulação parlamentar e disposição de enfrentar resistências. Além disso, há questionamentos técnicos e jurídicos que deverão ser enfrentados, inclusive sobre constitucionalidade, definição de faixas de tributação, mecanismos de fiscalização e combate à evasão.
Para Lula, o recuo do Congresso não será suficiente para se esquivar da causa. Ele afirmou que o governo vai buscar novas formas de tributar setores como fintechs e que manterá a luta política por justiça fiscal. Ele protege a narrativa de que a política tributária deve ser progressiva: quem ganha menos, paga menos; quem ganha muito, paga mais.
O pronunciamento desta quinta reforça que a taxação dos super-ricos será uma das pedras angulares da estratégia de comunicação e mobilização do governo nos próximos meses. Resta saber se, no tabuleiro institucional, haverá fôlego para transformar projeto discursivo em política pública concreta.