Da Redação
Em entrevista à Reuters nesta quarta-feira (6 de agosto de 2025), o presidente Lula afirmou que não vai ligar para Trump e se humilhar para negociar, enquanto Brasil protocola consulta na OMC e articula resposta junto ao BRICS.
Nesta quarta-feira, 6 de agosto de 2025, entrou em vigor o polêmico tarifaço imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, com alíquota total de 50% aplicável a cerca de 36% das exportações brasileiras, equivalentes a aproximadamente 4% do total do comércio externo do país. O governo brasileiro, em resposta, acionou formalmente a Organização Mundial do Comércio (OMC) para questionar a legalidade da medida.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou seu posicionamento em entrevista à imprensa internacional: “No dia em que minha intuição me disser que Trump está disposto a conversar, eu não hesitarei em ligar para ele. Mas hoje, minha intuição diz que ele não quer conversar. E eu não vou me humilhar”. Lula classificou a imposição unilateral das tarifas como uma intromissão inaceitável na soberania brasileira, vinculando diretamente a medida às pressões sobre o processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
O contexto dessa crise remonta ao retorno de Trump à Casa Branca em janeiro de 2025, implementando uma intensa política tarifária que escalou desde 10% em abril até os 50% anunciados em julho e efetivados agora. A justificativa oficial de Washington envolve acusações sobre práticas anticompetitivas do Brasil, ações contra redes sociais e o julgamento de Jair Bolsonaro, considerado alvo de perseguição por Trump.
O Brasil anunciou que não vai retaliar com tarifas adicionais, mas sim buscar apoio internacional. Lula planeja articular apoio junto aos parceiros do BRICS, incluindo Índia e China, em busca de solidariedade diplomática e comercial. Além disso, indicou conversas com o primeiro‑ministro indiano Narendra Modi em lugar de Trump, reafirmando a estratégia de cooperação multilateral.
Em termos econômicos, o impacto já se faz sentir no setor exportador: os agronegócios, carne, café, máquinas agrícolas e autopeças aparecem entre os segmentos mais afetados. Segundo especialistas do governo, esse tarifão deve gerar efeitos jurídicos e institucionais, desde cancelamentos de contratos à pressão sobre o câmbio e o PIB nacional.
A reação brasileira também envolve medidas domésticas: o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), comandado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, e o Ministério da Fazenda, coordenado por Fernando Haddad, trabalham em propostas de financiamento, crédito e incentivos para setores prejudicados, além de uso da Lei de Reciprocidade Comercial aprovada em abril deste ano.
No front político, a crise reacende debates sobre soberania e independência frente a pressões externas. Economistas de renome, como Paul Krugman e Joseph Stiglitz, elogiaram a firme postura de Lula, classificando a tarifação como política inflamada e injustificada, e defendendo que governos enfrentem agressões comerciais com firmeza e altivez.
Em resumo: o Brasil rejeita a negociação humilhante, busca respaldo multilateral, apela à OMC e aposta na resiliência econômica e diplomática. A disputa se intensifica enquanto o governo prepara respostas legais e institucionais para garantir autonomia e contornar os impactos do tarifão de Trump.