Da Redação
Lula reafirma que Brasil está “sempre aberto ao diálogo”, mas não aceitará pressão externa sobre seu sistema judicial, enquanto EUA impõem tarifas de até 50% e sancionam ministro do STF.
Na manhã de 3 de agosto de 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou publicamente a posição do Brasil diante da escalada de tensões com os Estados Unidos, após a imposição de tarifas comerciais por Donald Trump. Em uma coletiva no Palácio do Planalto, Lula foi categórico ao afirmar que o Brasil “não aceitará interferências externas sobre suas instituições” e que o país está pronto para adotar medidas firmes em defesa da soberania nacional.
A crise começou a se intensificar após Trump anunciar, no final de julho, a aplicação de tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras, sob o argumento de que o Brasil estaria promovendo uma “perseguição judicial contra a liberdade de expressão”, numa clara referência ao julgamento de Jair Bolsonaro e às investigações conduzidas pelo Supremo Tribunal Federal. A decisão foi acompanhada de sanções diretas ao ministro Alexandre de Moraes, que teve bens congelados nos Estados Unidos e passou a ser alvo de restrições comerciais.
Lula, no entanto, deixou claro que o governo brasileiro não aceitará chantagens. Em suas palavras, “o Brasil está e sempre estará aberto ao diálogo, mas quem decide os rumos do nosso país são os brasileiros e suas instituições democráticas. Nenhuma potência estrangeira terá o direito de ditar regras sobre nosso sistema de justiça”. A resposta veio após Trump insinuar, pelas redes sociais, que “Lula poderia ligar quando quisesse para resolver a situação”.
Nos bastidores, fontes do Itamaraty confirmam que o governo brasileiro já realizou uma série de tentativas diplomáticas, incluindo o envio de cartas oficiais e a solicitação de reuniões formais com representantes norte-americanos. Até agora, as respostas recebidas foram consideradas evasivas e pouco produtivas, limitando-se a declarações públicas de Trump, sem avanços reais nas tratativas bilaterais.
Diante do agravamento da crise, o Brasil acionou formalmente a Organização Mundial do Comércio (OMC) e prepara uma série de contramedidas com base na Lei de Reciprocidade Comercial aprovada em julho deste ano. Entre as medidas em análise estão a imposição de tarifas sobre produtos norte-americanos, especialmente nos setores agrícola e tecnológico, além da suspensão de acordos preferenciais em áreas estratégicas. O governo também estuda redirecionar exportações para mercados alternativos, como China, União Europeia e países do BRICS.
O impacto econômico das tarifas já começa a ser sentido. Exportadores brasileiros de café, carne bovina, suco de laranja e aeronaves relatam cancelamentos de contratos e aumento da insegurança no comércio exterior. A Embraer, por exemplo, pode ser uma das empresas mais afetadas, com previsões de perdas bilionárias caso a crise se prolongue. Para mitigar os efeitos imediatos, o Ministério da Fazenda anunciou a criação de linhas de crédito emergenciais e programas de apoio à exportação, mas deixou claro que não pretende recorrer a subsídios ou isenções fiscais que possam prejudicar a arrecadação e o equilíbrio fiscal.
Internamente, a postura firme de Lula tem fortalecido seu apoio popular. Movimentos sociais e centrais sindicais organizaram manifestações em diversas cidades brasileiras, com destaque para o “vampetaço”, uma mobilização digital e presencial contra as tarifas impostas pelos Estados Unidos. Em São Paulo, protestos levaram milhares às ruas, com queima de bonecos representando Trump e Bolsonaro, além de faixas em defesa da soberania nacional.
Politicamente, a ofensiva de Trump é vista como uma tentativa de interferência direta no cenário político brasileiro, com apoio explícito de setores bolsonaristas. Aliados de Lula afirmam que a estratégia de Trump busca criar instabilidade interna no Brasil, utilizando o comércio como arma de pressão política. O governo, no entanto, aposta que a retaliação poderá se voltar contra os próprios interesses norte-americanos, sobretudo em setores que dependem de commodities e produtos brasileiros.
Apesar do clima tenso, Lula insiste que o caminho do diálogo diplomático ainda é possível, desde que seja baseado no respeito mútuo e na não interferência nas questões internas do Brasil. “Não fecharemos as portas, mas não aceitaremos sermos tratados como colônia”, afirmou o presidente.
No momento, as negociações estão em um impasse, com o governo brasileiro aguardando um posicionamento oficial de Washington além das declarações de Trump nas redes sociais. A expectativa é que os próximos dias sejam decisivos para definir se haverá abertura para uma mediação internacional ou se o Brasil avançará com as medidas de retaliação previstas.