Da Redação
Pesquisa Genial/Quaest divulgada hoje indica que 49% dos brasileiros consideram que Lula ficou politicamente mais forte depois do breve encontro com Donald Trump em Nova York; o levantamento também mostra melhora na aprovação do governo e expectativa de diálogo entre os dois presidentes.
A nova rodada da Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira, 8, confirma um ponto de inflexão na percepção pública sobre a relação Brasil–Estados Unidos e seus efeitos na política doméstica. Segundo o instituto, 49% dos brasileiros avaliam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu politicamente mais forte após o breve encontro com Donald Trump nos bastidores da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York. A leitura de “fortalecimento” supera com folga os 27% que veem Lula mais fraco, enquanto 10% consideram que nada mudou e 14% não souberam responder.
O dado não é isolado. A pesquisa registra um ambiente ligeiramente mais favorável ao governo: a aprovação chega ao melhor patamar do ano, com empate técnico entre aprovação e desaprovação. Em paralelo, a sondagem mapeia que quase metade do país acredita que uma conversa mais madura entre os dois presidentes é possível, sugerindo que o simbolismo de uma reaproximação tende a repercutir não apenas na diplomacia, mas na economia e no humor político interno.
O efeito reputacional do encontro na ONU convive com um quadro de informação assimétrica. De um lado, a maioria dos entrevistados diz ter tomado conhecimento do gesto público de Trump em relação a Lula; de outro, menos da metade afirma ter acompanhado o discurso brasileiro na sessão de abertura da Assembleia. Mesmo assim, entre os que souberam do discurso, a avaliação majoritária foi positiva. O conjunto desses fatores ajuda a explicar por que o episódio em Nova York funcionou como catalisador de uma percepção de força política.
A segmentação por posicionamento político revela nuances importantes. Entre os entrevistados identificados como lulistas e entre a esquerda não lulista, prevalece maciçamente a percepção de que Lula saiu mais forte do episódio. Já entre a direita não bolsonarista e o eleitorado bolsonarista, há uma divisão mais crítica, com maior proporção de respostas que enxergam enfraquecimento. Esse recorte deixa claro que o gesto na ONU produziu convergência entre bases governistas e segmentos de centro, mas não alterou de imediato a convicção do núcleo duro oposicionista. Politicamente, o saldo é significativo: para ampliar margens de governabilidade e reduzir atritos externos, o governo precisa justamente falar com o “meio” do espectro — e foi aí que a imagem de força cresceu.
Quando a pesquisa pergunta sobre os próximos passos, o eleitorado divide-se em duas correntes quase equivalentes: uma ligeira maioria defende que Lula se esforce para uma reunião com Trump, enquanto parcela quase do mesmo tamanho recomenda cautela e paciência. Na atitude desejada para uma eventual conversa, porém, a preferência se desloca claramente para uma postura amigável — sinal de que o público enxerga custos econômicos e diplomáticos na escalada e, portanto, recompensa gestos de distensão. A maioria também acredita que, caso a reunião aconteça, os dois líderes “vão se dar bem”, o que reforça a janela de oportunidade para um desarme gradual do contencioso.
No pano de fundo, a economia reage ao sinal político. Após a videoconferência de 6 de outubro entre os presidentes, o dólar recuou ante o real e o Ibovespa oscilou em leve queda, num comportamento típico de dias com notícias mistas: alívio cambial diante da possibilidade de redução de tensões comerciais, combinado a movimentos setoriais na bolsa. Do ponto de vista do governo, a mensagem que importa é que o mercado precifica diálogo — e que a diplomacia econômica pode, sim, amortecer choques tarifários e sancionatórios.
Do lado norte-americano, as sinalizações oficiais reconhecem uma conversa “muito boa”, com troca de contatos pessoais e promessa de nova reunião. O Brasil, por sua vez, insiste na retirada de tarifas e no recuo de medidas punitivas contra autoridades brasileiras. Ainda não há compromisso firmado, mas a retórica de ambos os lados, após semanas de atrito, deslocou-se do confronto para a negociação. Em termos de opinião pública, esse simples reposicionamento já rendeu dividendos domésticos a Lula.
É preciso, contudo, calibrar expectativas. A política externa dos Estados Unidos pode seguir pressionada por atores domésticos e pelos arranjos de poder no Congresso e no gabinete, o que limita movimentos rápidos. O eleitorado brasileiro, segundo a própria pesquisa, deseja uma combinação de firmeza e pragmatismo: aproximação sem concessões que firam soberania, foco em oportunidades econômicas e proteção institucional no contencioso judicial brasileiro. Esse equilíbrio explica por que a percepção de “força” de Lula cresce quando ele ocupa o centro do tabuleiro, evita a personalização do conflito e se apresenta como fiador de uma normalização baseada em interesses comuns.
No curto prazo, o governo tende a explorar três linhas: consolidar a leitura de que o país não está isolado; reforçar a pauta econômica pró-renda e pró-investimento; e traduzir, no Congresso, o ganho de capital político em votos para a agenda tributária e regulatória. Ao mesmo tempo, seguirá monitorando o desfecho do capítulo comercial bilateral. Se houver um cronograma para redução ou suspensão das tarifas, o efeito simbólico sobre confiança, câmbio e expectativas pode ser expressivo. Se, ao contrário, prevalecer a pressão externa, o Planalto buscará ancorar-se no respaldo popular à defesa das instituições e à diplomacia assertiva.
Em síntese: a fotografia do momento mostra Lula recolhendo ganhos de imagem e abrindo corredores de diálogo internacional, com reflexos na percepção econômica interna. O filme, porém, ainda depende de cenas a gravar — e de como cada lado administrará sua própria base política enquanto tenta recompor a relação. Por ora, a opinião pública brasileira está premiando sinais de pragmatismo e de liderança capaz de combinar firmeza com civilidade.