Da Redação
Nova rodada Atlas/Bloomberg, coletada entre 3 e 6 de agosto, confirma que a maioria dos brasileiros é contra a anistia ampla aos envolvidos no 8 de janeiro; confiança no Judiciário cresce, STF amplia condenações e ambiente político isola a tese da anistia.
A pesquisa Atlas/Bloomberg divulgada em 14 de agosto aponta que 51,2% dos brasileiros rejeitam a concessão de anistia ampla, geral e irrestrita aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023. O levantamento, com amostra nacional de 2.447 entrevistas e margem de erro de dois pontos percentuais, foi realizado entre 3 e 6 de agosto e confirma que a maioria da população mantém posição firme contra o perdão indiscriminado, abrangendo tanto lideranças políticas quanto manifestantes que participaram das invasões às sedes dos três Poderes em Brasília.
Esse resultado confirma a tendência observada em levantamentos anteriores. No início de agosto, dados do Datafolha já indicavam que 55% dos brasileiros se opunham à anistia, enquanto 35% eram favoráveis. Essa constância nas pesquisas desloca o debate do campo da “pacificação” para o terreno da responsabilização, reforçando o entendimento de que a preservação da democracia passa pela punição proporcional aos crimes cometidos.
No Judiciário, o Supremo Tribunal Federal segue ampliando o número de condenações. Entre junho e agosto, 119 réus foram sentenciados em sessões virtuais, elevando para mais de mil o total de pessoas responsabilizadas de alguma forma. Há dezenas de prisões preventivas e definitivas em curso, e o tribunal tem mantido a posição de que os ataques ao Estado de Direito não serão relativizados.
Especialistas em direito constitucional afirmam que uma anistia ampla aos crimes relacionados ao 8 de janeiro seria inconstitucional, pois violaria cláusulas pétreas de proteção à ordem democrática e abriria precedentes para a tolerância com futuros atentados. A avaliação predominante é que, nesse caso, a anistia serviria como incentivo a novas investidas extremistas, minando a estabilidade institucional.
O contexto político também ajuda a explicar a resistência popular. Pesquisas recentes mostram recuperação da aprovação do governo federal, mesmo em meio a disputas diplomáticas e comerciais com potências estrangeiras. Nesse cenário, propostas de anistia não encontram tração fora de nichos ideológicos mais radicais.
O avanço das ações judiciais contra figuras de destaque do bolsonarismo reforça essa percepção. A Procuradoria-Geral da República denunciou o ex-presidente e dezenas de aliados por tentativa de golpe e outros crimes correlatos. Com o andamento das fases processuais e a adoção de medidas cautelares, a pauta da responsabilização consolidou-se como eixo central.
O detalhamento dos dados da pesquisa revela que, embora exista uma parcela significativa favorável ao perdão, ela não atinge maioria e apresenta tendência de queda desde março. Enquanto isso, cresce o contingente que defende a punição, ainda que parte dessa população critique a dosimetria das penas aplicadas.
Na esfera penal, o Ministério Público e a Justiça têm recorrido a instrumentos como acordos de não persecução penal para casos de menor gravidade, diferenciando responsabilidades sem comprometer a responsabilização dos organizadores e executores mais perigosos. Essa calibragem jurídica reduz a pressão por soluções políticas abrangentes e mantém a coerência no tratamento dos casos.
A fotografia política e social de agosto mostra, portanto, três vetores claros: maioria da população contra a anistia ampla, avanço consistente dos julgamentos no Supremo e isolamento político da tese do perdão irrestrito. A expectativa é que essa configuração se mantenha, ainda que setores radicalizados insistam em usá-la como bandeira ou moeda de troca nas disputas institucionais.