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Megaoperação em São Paulo mira PCC e empresários ligados a rede de postos de combustíveis

Da Redação

Polícia Civil e Ministério Público deflagraram uma megaoperação contra lavagem de dinheiro do PCC por meio de redes de postos de combustíveis. Mandados de busca e apreensão atingem dezenas de endereços ligados a empresários e laranjas do crime organizado.

A Polícia Civil de São Paulo, em conjunto com o Ministério Público Estadual (Gaeco), deflagrou neste sábado, 4 de outubro, uma megaoperação contra o Primeiro Comando da Capital (PCC), tendo como alvo empresários e sócios de postos de combustíveis supostamente usados para lavagem de dinheiro da facção.

A operação, considerada uma das maiores deste ano contra o braço financeiro do crime organizado, cumpre mandados de busca e apreensão em dezenas de endereços da capital e do interior paulista. Entre os alvos, estão postos de combustíveis, empresas de logística, transportadoras e imóveis comerciais ligados a integrantes e colaboradores do grupo criminoso.

Segundo as investigações, a rede de postos funcionava como fachada para a movimentação de valores milionários, permitindo o escoamento de recursos oriundos de tráfico de drogas, contrabando, extorsões e apostas ilegais. A estratégia, segundo os promotores, consistia em misturar dinheiro lícito com receitas adulteradas de combustíveis, criando um circuito de faturamento difícil de rastrear.


A rota do dinheiro sujo

As apurações indicam que a estrutura de lavagem envolvia empresas de fachada registradas em nome de laranjas e sócios ocultos com antecedentes criminais. O grupo também utilizava intermediários para aquisição de propriedades rurais e veículos de luxo, além de criar cooperativas falsas para justificar movimentações bancárias acima de R$ 10 milhões por mês.

Fontes ligadas ao caso afirmam que um dos núcleos empresariais monitorados movimentou cerca de R$ 400 milhões nos últimos dois anos, valor considerado incompatível com o fluxo operacional dos estabelecimentos. Parte das transações teria sido feita em espécie, utilizando intermediários e contas em nome de familiares de criminosos já identificados pela inteligência policial.

A operação foi resultado de mais de um ano de investigações conjuntas entre o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), a Promotoria de Crimes Econômicos e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).


Endereços e alvos principais

Entre os endereços investigados estão postos localizados nas zonas Norte e Leste da capital, além de empresas em cidades como Campinas, Ribeirão Preto, Sorocaba, Santos e Presidente Prudente. As forças de segurança também realizaram buscas em residências de empresários suspeitos e apreenderam documentos, computadores, celulares e registros contábeis.

Em uma das propriedades, foram encontrados cofres com grandes quantias em dinheiro vivo, joias e contratos de compra e venda de combustíveis. Os investigadores acreditam que parte desses recursos era utilizada para financiar a estrutura de comunicação e segurança interna do PCC, incluindo a manutenção de advogados e familiares de líderes presos.


Lavagem de dinheiro e poder paralelo

O setor de combustíveis há anos figura entre os ramos preferidos do crime organizado para branqueamento de capitais. Trata-se de um mercado de alta liquidez e difícil controle fiscal, com grande volume de operações em dinheiro e margens que permitem disfarçar ganhos ilícitos.

Segundo especialistas em segurança pública, a profissionalização do PCC nas últimas décadas criou um modelo de “empresariado criminal”, no qual empreendimentos formais são utilizados tanto para lavar recursos quanto para exercer influência territorial e política.

A operação de hoje representa uma ofensiva contra essa simbiose entre o capital legal e o capital criminoso. Fontes do Ministério Público afirmam que novas fases estão previstas e poderão atingir intermediários financeiros, contadores, auditores e agentes públicos que facilitaram a expansão do esquema.


Impacto e desdobramentos esperados

O governador de São Paulo foi informado pessoalmente das diligências e reforçou que o Estado “não tolerará infiltração do crime organizado em setores estratégicos da economia”. Já o secretário de Segurança Pública destacou que o objetivo é sufocar a base econômica da facção, não apenas prender seus líderes.

Analistas afirmam que a operação tem potencial de afetar a estrutura financeira regional do PCC, reduzindo sua capacidade de reinvestir lucros ilícitos e de corromper agentes do setor privado. O caso também reacende o debate sobre o papel do sistema bancário e do fisco na detecção de movimentações atípicas, além de expor a fragilidade da regulação sobre o comércio de combustíveis no país.

Com o avanço das investigações, espera-se o bloqueio de centenas de contas bancárias e o sequestro judicial de bens avaliados em mais de R$ 200 milhões. As autoridades também avaliam solicitar cooperação internacional para rastrear valores transferidos ao exterior por empresas offshore.