Da Redação
Nomeado ministro-chefe da Secretaria‑Geral da Presidência da República, Guilherme Boulos terá como missões centrais “levar o governo para a rua”, melhorar a relação com os trabalhadores de aplicativos e mobilizar a base popular até 2026.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aposta no deputado licenciado Guilherme Boulos para reforçar a conexão do governo com os movimentos sociais, a sociedade civil e categorias vulneráveis do trabalho. A troca no comando da Secretaria-Geral da Presidência da República, oficializada no fim de outubro de 2025, representa uma manobra política e simbólica com vistas à agenda da base e à eleição de 2026.
Boulos assumirá formalmente a pasta com três missões centrais atribuídas pela base palaciana: colocar o governo “na rua” — isto é, ampliar a visibilidade das políticas federais junto à população e ouvir demandas locais em todos os estados; melhorar o diálogo do governo com os trabalhadores de aplicativos, categoria emblemática da “uberização” e das lutas de direitos no trabalho; e mobilizar a base aliada em torno de pautas como o fim da escala 6×1, uma reivindicação de setores operários que simboliza a luta por melhores condições laborais.
Ao declarar que a “filosofia” de sua trajetória no movimento social agora será levada ao Planalto, Boulos sinaliza que o governo pretende dar mais protagonismo à mobilização e à interface direta com a comunidade, e não apenas à articulação institucional tradicional. Ele afirmou que sua missão será “ajudar a colocar o governo na rua, levando as realizações e ouvindo as demandas populares em todos os estados do Brasil”.
A estratégia do governo reflete duas frentes. Por um lado, é um esforço de reativação da base social: sindicatos, movimentos urbanos e categorias emergentes foram menos visíveis nos primeiros anos deste mandato, e agora o Planalto procura resgatar esse vínculo. Por outro lado, há uma dimensão eleitoral clara: ao aproximar o governo dos trabalhadores de apps — que operam em condições precarizadas e se mobilizaram ativamente nos últimos anos — o governo tenta consolidar e ampliar seu apoio entre segmentos que fogem do ciclo tradicional de representação.
A categoria dos trabalhadores de aplicativos representa um desafio e uma oportunidade para o governo. São profissionais muitas vezes sem vínculo formal, com jornada irregular, remuneração flutuante e exposição a riscos. A pauta específica de Boulos inclui não apenas ouvir estes trabalhadores, mas articular políticas que melhorem sua regularização, condição de trabalho, negociação coletiva e renda — ainda que os detalhes e o alcance dessas políticas dependam da negociação com ministérios do Trabalho, Justiça e Infraestrutura, além dos estados e municípios.
Já a missão de “colocar o governo na rua” implica intensificar programas de governo, visitas, feiras, mutirões e ações públicas em estados e municípios — buscando diminuir o distanciamento entre o centro da política federal e as bases locais. Trata-se de dar prática ao discurso de “governo de presença”, sobretudo em regiões historicamente pouco atendidas pela administração central. A meta do Planalto é que a interlocução direta com a sociedade civil não seja apenas simbólica, mas estrutural, alimentando formulação de políticas mais responsivas e construídas em parceria.
No entanto, a operação não está isenta de riscos. A articulação com os trabalhadores de aplicativos abre o governo a pressões para intervir num mercado que até agora teve regulação limitada. Há choques potenciais entre grandes plataformas de tecnologia, estados, prefeitos e a regulação trabalhista, além de resistências empresariais. Do lado da mobilização social, levar o governo “às ruas” pode implicar em exigência de entregas concretas — e se as realizações não acompanharem o ritmo da mobilização, o risco de desencanto pode crescer.
Internamente, a escolha de Boulos também sinaliza recuo ou reposicionamento de correntes internas do PSOL e da esquerda institucional, que veem sua nomeação como uma convergência pragmática para a eleição de 2026. A expectativa é que o ministro articule não apenas movimentos sociais, mas também a base política de centro-esquerda, ampliando alianças sem abrir mão da agenda de justiça social.
Em resumo, o governo federal assume que a próxima etapa política será menos tecnocrática e mais “de contato” — visível nas ruas, próxima aos trabalhadores, ativa nos territórios. Se bem-sucedida, a operação poderá revitalizar a base social do governo, antecipar temas centrais para 2026 e entregar avanços nas categorias emergentes de trabalho. Se fracassar, poderá revelar uma tensão entre mobilização e governança.


