Da Redação
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu adiar a indicação para a vaga deixada por Luís Roberto Barroso no STF, segundo auxiliares, até após sua viagem à Indonésia e à Malásia — abrindo espaço para pressão política e negociações nos bastidores.
O presidente Lula optou por adiar o anúncio da indicação para preencher a vaga aberta no STF com a aposentadoria de Luís Roberto Barroso, segundo relatos de ministros e auxiliares próximos ao Planalto. A decisão de esperar até depois da sua viagem à Ásia, com passagens pela Indonésia e Malásia, revela que o governo está priorizando a articulação política interna e a gestão de riscos antes de acelerar o processo institucional.
A vaga no Supremo Tribunal Federal é altamente estratégica: além de tratar de composição da Corte, também mobiliza diferentes grupos de influência dentro da aliança governista e fora dela — advogados, ministros, bancadas parlamentares e setores do Judiciário. O adiamento da indicação sinaliza que o presidente Lula e sua equipe querem minimizar custos políticos e evitar embates antecipados.
Ministros do Palácio do Planalto relataram que o presidente deve aproveitar o período pré-viagem para afinar os nomes, avaliar pressões regionais e garantir que a opção escolhida passe com maior tranquilidade pela sabatina no Senado. O movimento também mostra que o governo está atento ao calendário internacional e ao simbolismo de fazer o anúncio após retorno de rota diplomática, deixando a pauta “menos contaminada” por movimentações domésticas.
Os potenciais candidatos à vaga seguem sendo mencionados nos bastidores. Entre eles, destaca-se o nome do atual ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, enquanto o senador Rodrigo Pacheco aparece como alternativa apoiada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre. A cautela de Lula indica que a escolha precisa não apenas atender critérios jurídicos de “notável saber e reputação ilibada”, mas também suportar resistências políticas e regionais.
A escolha do momento para anunciar a indicação pode ter múltiplos efeitos. Por um lado, permite ao governo diluir disputas internas, ganhar margem de manobra e negociar com calma. Por outro, cria expectativa pública e pressiona aliados que aguardam avanço da pauta — o que pode gerar desgaste se o anúncio sofrer atrasos ou vazamentos. Em termos institucionais, a decisão reforça o protagonismo do presidente no processo de composição da Corte.
Analistas políticos destacam que o adiamento coincidirá com a viagem do presidente à Ásia — ocasião de relevo diplomático — o que reforça a leitura de que o governo quer que o anúncio ocorra em momento de foco externo e menor barulho interno. A estratégia pode servir para “resetar” a agenda política doméstica, colocando a indicação como acontecimento pós-viagem, possivelmente em ambiente mais controlado.
Entretanto, o pano de fundo é de incerteza. A pedra de toque será a reação do Senado e da sociedade civil à escolha e ao cronograma. Alguns aliados avaliam que o governo corre o risco de parecer “indeciso” ou “reagindo” em vez de proativo. A oposição, por sua vez, poderá explorar o atraso como sinal de instabilidade ou de que o governo está numa “panelinha” ao escolher nomes sem transparência ou rapidez.
No fim das contas, a decisão de Lula reafirma que as nomeações para o STF não são meramente tecnocráticas — envolvem estratégia política, momento simbólico e risco de repercussões institucionais. O adiamento da indicação para depois da viagem à Ásia será testado na prática: se o cronograma for cumprido com elegância e mínimas turbulências, poderá fortalecer o Palácio do Planalto; se arrastar-se, poderá virar mais um ponto de tensão na base aliada.


