Da Redação
Em sua quarta edição, a Marcha das Mulheres Indígenas reuniu milhares de lideranças de 192 povos de todas as regiões do país
Sob o lema “Mulheres biomas em defesa da biodiversidade através das raízes ancestrais”, mais de oito mil indígenas de 192 povos tomaram as ruas de Brasília entre os dias 5 e 9 de agosto, em um dos maiores encontros de mulheres originárias da história recente. A IV Marcha das Mulheres Indígenas não apenas reforçou a pluralidade dos povos presentes, mas destacou, com potência e organização, o papel central das mulheres na defesa dos territórios, da vida e da soberania ambiental do país.
A cobertura deste marco histórico contou com entrevista exclusiva no programa Democracia no Ar, da Rádio e TV Atitude Popular, no dia 5 de agosto, com a participação da Cacika Irê, Juliana Alves.
Juliana Alves é Cacika do povo Jenipapo-Kanindé, em Aquiraz, e Secretária dos Povos Indígenas do Estado do Ceará. Antropóloga, professora indígena, possui licenciatura em Educação Indígena e mestrado em Antropologia pela Universidade Federal do Ceará. Já foi diretora na Escola Indígena do Povo Jenipapo-Kanindé e é cofundadora da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga).
“Estamos levando nossos corpos, nossos territórios para dentro dos espaços de governo, mas sem esquecer os campos de luta que sempre estivemos”, afirmou a Cacika Irê, Juliana Alves. Filha da histórica Cacique Pequena, Juliana compartilhou a memória da primeira marcha, realizada em 2019, e a trajetória coletiva que deu origem à Anmiga. “A gente sempre sentiu falta do protagonismo das mulheres nos espaços políticos indígenas. Foi ali no Acampamento Terra Livre que decidimos não mais silenciar”, contou.
A marcha também serviu como espaço de denúncia e de elaboração de estratégias coletivas. Entre as principais pautas estiveram o combate ao avanço do agronegócio sobre terras indígenas, a urgência da demarcação de territórios e o enfrentamento aos impactos das mudanças climáticas que atingem diretamente os biomas habitados por esses povos.
“A nossa luta não é individual. Quando lançamos a ideia da bancada do cocar, foi para afirmar que queremos estar nos espaços de decisão, com nossas vozes, com nossa encantaria. Não vamos passar por cima de ninguém, mas também não ficaremos na estaca zero”, declarou Cacika Irê, destacando que muitas das violências sofridas por mulheres indígenas vêm do próprio território. “Não podemos romantizar. Muitos homens indígenas ainda rejeitam o protagonismo feminino. Isso não é cultura, é resquício do colonialismo”, afirmou, citando os escritos da doutoranda Elisa Pankararu.
A IV Marcha também marcou a abertura da Primeira Conferência Nacional das Mulheres Indígenas, um marco histórico que reuniu participantes de todas as regiões do Brasil, além de representantes de países como Guatemala, Equador, México, Panamá e Colômbia. Foram organizadas sete conferências regionais preparatórias, que culminaram em cinco eixos temáticos de debate, entre eles: políticas públicas, violência de gênero, acesso à saúde e enfrentamento às desigualdades.
Segundo a Cacika Irê, a ausência de acesso adequado às redes de proteção e à saúde especializada ainda é gritante. “Muitas dessas mulheres morrem de câncer de mama por falta de diagnóstico precoce. Quando conseguem um encaminhamento, já é tarde demais. As casas da mulher não são acessíveis para as mulheres indígenas, porque o modelo não foi pensado para a realidade dos territórios”, denunciou.
Além da presença de lideranças veteranas, chamou atenção o protagonismo das jovens, que transitam entre aldeias e universidades, articulando saberes tradicionais e conhecimento acadêmico. “Essa marcha não é apenas um ato. É um projeto de futuro. Somos as guardiãs do planeta, pela cura da terra”, resumiu a Cacika.
A IV Marcha das Mulheres Indígenas reafirma, portanto, que a luta das mulheres originárias ultrapassa o campo da resistência: é também projeto de vida, de reexistência e de reconstrução do Brasil a partir de suas raízes mais profundas.
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