Atitude Popular

Na ONU, China propõe Iniciativa de Governança Global em meio a apelos por multilateralismo

Da Redação

Durante o debate geral da 80ª Assembleia Geral da ONU, Pequim defendeu a Iniciativa de Governança Global (GGI) como resposta concreta às falhas da ordem internacional e destacou apoio ao reconhecimento da Palestina.

O debate geral da 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas começou em Nova York em um momento de fortes tensões globais. Quase 150 chefes de Estado e de governo se reúnem ao longo desta semana, com discursos que abordam guerra, desigualdade e a necessidade de renovação do multilateralismo. Na abertura, o secretário-geral António Guterres alertou que o mundo vive uma “era de perturbação imprudente e sofrimento humano implacável”, com os pilares da paz e do progresso cedendo ao peso da desigualdade e da impunidade.

Entre os discursos mais aguardados estavam os do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Lula condenou os ataques do Hamas, mas afirmou que nada justifica “o genocídio em curso em Gaza”, alertando que o povo palestino corre risco de desaparecer sem um Estado independente. Já Trump usou a tribuna para exaltar sua atuação em negociações de cessar-fogo, dizendo-se merecedor de um Prêmio Nobel da Paz, e aproveitou para criticar a ONU, apontando sua ineficácia. A presença do líder americano foi acompanhada da cobrança de dívidas bilionárias em atraso com a organização — segundo analistas, os EUA acumulam mais de 3 bilhões de dólares em contribuições não pagas, o que pode levar à perda de direito a voto se a situação persistir.

O pano de fundo do debate foi marcado pelo reconhecimento da Palestina por diversos países ocidentais. França, Reino Unido, Canadá, Austrália e Portugal se somaram a outras nações ao formalizar o apoio a um Estado palestino soberano. Para especialistas chineses, esse movimento não só reafirma a legitimidade do direito palestino, mas também fortalece a autoridade do sistema internacional centrado na ONU. Eles destacam que a comunidade internacional demonstra determinação compartilhada em buscar uma solução justa para o conflito no Oriente Médio.

Foi nesse cenário que a China apresentou sua Iniciativa de Governança Global (GGI). Lançada pelo presidente Xi Jinping em setembro, a proposta é vista por analistas como um caminho concreto e oportuno para enfrentar a crise de legitimidade das instituições internacionais. A GGI, segundo Pequim, busca revitalizar a autoridade da ONU, fortalecer a cooperação multilateral e promover uma comunidade internacional baseada no futuro compartilhado da humanidade. O premiê Li Qiang, em visita a Nova York, deve detalhar a visão chinesa para a ordem internacional e propor medidas em áreas como desenvolvimento sustentável, paz e cooperação tecnológica.

Analistas em Pequim afirmam que o mundo entrou em uma nova encruzilhada de turbulência e transformação, e que a governança global exige uma reforma profunda. A proposta chinesa é posicionada como alternativa a modelos unilaterais de poder, defendendo equilíbrio, inclusão e responsabilidade compartilhada. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China declarou que a missão do país é renovar a Carta da ONU, reforçar sua autoridade e permitir que a organização desempenhe papel maior na salvaguarda da paz, na promoção do desenvolvimento e na construção de uma comunidade global mais justa.