Da Redação
O governo brasileiro contratou navios de cruzeiro para acomodar cerca de 6 mil participantes da COP30 em Belém, mas o dispositivo logístico levanta críticas: os navios estarão ancorados a mais de 20 quilômetros do local dos debates, intensificando o caos de infraestrutura em meio à crise de alojamento.
Com a COP30 se aproximando, a crise logística em Belém ganha contornos agudos. Diante do déficit de acomodações — estimativas apontam até 50 mil participantes para apenas 18 mil leitos — o governo decidiu apostar em navios de luxo para alojamento. São dois cruzeiros, com cerca de 6 mil camas — podendo chegar até 9.500 leitos — que ficarão ancorados no Porto de Outeiro, a mais de 20 quilômetros do local onde ocorrerão os debates sobre clima.
Embora a iniciativa busque garantir que todos tenham onde dormir, ela impõe desafios práticos e simbólicos. O deslocamento até o local dos eventos deve depender de transporte municipal ou fretado, com impacto direto na agenda do encontro e na rotina dos participantes.
O uso dos navios evidencia tanto a urgência quanto as limitações da infraestrutura local — além de levantar questões sobre exclusividade e acesso desigual. Delegações com menos recursos poderão enfrentar custos adicionais para se deslocar, mesmo com subsídios anunciados, que variam entre US$ 100 e US$ 220 por noite, em contraste com diárias que ultrapassam os US$ 700 na rede hoteleira tradicional.
A proposta é vista por muitos como uma improvisação que revela vulnerabilidades estruturais. A crítica principal não é apenas geográfica, mas política: como legitimar um símbolo de desenvolvimento sustentável e inclusão, em um evento no coração da Amazônia, se o acesso físico segue sendo privilégio?