Atitude Popular

“Ninguém quer morrer na rua”

Em entrevista à TV Atitude Popular, Ednilza Kokama denuncia violências, cobra políticas de moradia e destaca a solidariedade como caminho de resistência


O programa Café com Democracia, apresentado por Luiz Regadas, transmitido pela TV Atitude Popular, recebeu nesta semana a militante do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), Ednilza Kokama, diretamente de Fortaleza. Em uma fala marcada por franqueza e emoção, ela relatou as razões que levam tantas pessoas a viver nas ruas, os desafios diários dessa realidade e as bandeiras de luta do movimento.

“Na rua a gente encontra de tudo, mas também encontra solidariedade. Os irmãozinhos de rua olham na nossa cara e percebem o sofrimento, acolhendo com respeito”, afirmou Ednilza. Para ela, a experiência da vida nas calçadas é atravessada tanto por violência e vulnerabilidade quanto por redes de apoio invisíveis ao olhar comum.

Caminhos que levam às ruas

Ednilza destacou que a ida para as ruas não é uma escolha livre, mas resultado de processos de decepções familiares, desemprego, perda de moradia, adoecimento e exclusão. “Quando a gente tem uma humilhação, uma decepção, a autoestima vai lá embaixo. A rua parece ser a saída, porque nela não se revive o passado”, explicou.

Ela lembrou também a presença significativa de indígenas entre a população de rua, expulsos de suas terras ou vítimas de conflitos internos em aldeias. “Eu sou indígena, e há muitos que estão nessa situação sem apoio psicológico ou social adequado”, relatou.

Violências e disputas de território

A militante denunciou os riscos cotidianos enfrentados por quem vive sem teto: furtos, agressões físicas, violência sexual e conflitos territoriais. “Na rua também existe disputa por espaço, existe estupro, existe violência. Mas quando estamos em grupo temos alguma proteção”, disse.

Segundo ela, o preconceito aprofunda a vulnerabilidade, sobretudo contra mulheres e pessoas trans. O uso de drogas, por sua vez, aparece tanto como motivo de expulsão do convívio familiar quanto como estratégia de sobrevivência nas ruas, ampliando ainda mais a exclusão.

A força do movimento organizado

Foi no artesanato e no convívio com outras pessoas em situação de rua que Ednilza conheceu o MNPR. O movimento, segundo ela, não discrimina e atua como espaço de acolhimento e luta por direitos. “O movimento surgiu da luta da Maria Lúcia, e a principal bandeira é a moradia. Um teto faz toda a diferença”, afirmou.

Ednilza contestou a visão de que oferecer casa à população de rua seria inútil. Para ela, o problema não é a concessão de habitação, mas a precariedade e a descontinuidade das políticas públicas. “O aumento da população de rua não é porque as pessoas vendem casas, é porque só existem promessas. Moradia digna é o que pode devolver a vida para muita gente”, frisou.

Ações paliativas e políticas necessárias

A militante reconheceu a importância de equipamentos públicos que oferecem banho, alimentação, higiene e apoio psicológico, mas considera que essas iniciativas ainda são insuficientes. “Esses locais ajudam muito, porque ninguém quer viver na rua sem higiene, sem comida. Mas é preciso mais. Precisamos de políticas de habitação e de trabalho que devolvam autoestima e dignidade”, disse.

Para Ednilza, a redução da população de rua passa também por reconstruir vínculos familiares e por uma mudança no olhar da sociedade. “Ninguém quer estar na chuva, dormindo em papelão, sendo roubado ou violentado. Ninguém quer morrer na rua. A solução está no amor, no cuidado e em políticas que enxerguem a gente como gente.”

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