Atitude Popular

“Nós não vamos conter a violência com bala, vamos conter com inteligência e políticas públicas”

César Barreira, fundador do Laboratório de Estudos da Violência, analisa a dinâmica das facções no Ceará e defende que só a presença do Estado, com prevenção, educação e cultura, pode enfrentar o avanço do crime organizado

O programa Café com Democracia, da Rede de Comitês Populares pela Democracia, recebeu nesta terça-feira (23) o sociólogo César Barreira, fundador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV). Em entrevista conduzida por Luiz Regadas, o professor refletiu sobre os desafios da segurança pública no Ceará e destacou a importância de políticas que ultrapassem o caráter repressivo.

“Essa discussão é muito delicada, não existe solução fácil. Nós temos que trabalhar com planejamento de curto, médio e longo prazo”, afirmou. Para Barreira, as facções vivem ciclos de alianças e rupturas que exigem do Estado constante capacidade de adaptação. Ele ressaltou que a inteligência policial é um ponto de avanço: “Na medida em que percebo a presença maior do serviço de inteligência, vejo um controle maior desse mundo da criminalidade”.

Facções e territórios

O pesquisador lembrou que, além de Fortaleza, o crime organizado passou a disputar espaço em municípios do interior, alterando o equilíbrio de forças locais. “É impressionante a mudança de peso que algumas cidades passaram a ter com a entrada das facções”, explicou. Segundo ele, as prisões em massa têm efeito imediato de mostrar a presença do Estado, mas não resolvem o problema estrutural: “As prisões são necessárias, mas alimentam contradições, porque acabam fortalecendo as facções”.

O papel da prevenção

Barreira insistiu que a política de segurança deve priorizar a prevenção. Ele citou a necessidade de articulação entre diferentes secretarias e de investimentos em educação, cultura, esporte e oportunidades de trabalho para jovens em áreas vulneráveis. “Quem mais sofre com a violência são os pobres, os negros e os jovens das periferias”, alertou.

Ao comentar a proposta de campanhas públicas sobre drogas, comparáveis às ações contra o cigarro, o sociólogo defendeu a adoção de políticas consistentes que diferenciem traficantes de usuários. “Não podemos continuar correndo atrás do prejuízo. Precisamos de campanhas e serviços voltados aos dependentes, com políticas de saúde pública”, disse.

Dinheiro e poder

Outro ponto destacado foi o financiamento das facções e sua ligação com setores econômicos. “Hoje já se fala muito na presença das facções na Faria Lima. Isso é muito preocupante”, observou. Para Barreira, a estratégia deve ser sufocar a base econômica do crime, investigando a origem do dinheiro e a circulação de armas.

Cultura e Estado presente

O professor citou exemplos internacionais, como Medellín, para defender a presença do Estado nos territórios por meio de equipamentos culturais e esportivos. “Mais museus, mais arte, mais cinema, menos bares, mais esporte. Essa é a direção”, reforçou. Ele também destacou políticas locais, como as areninhas, ainda que reconheça problemas de apropriação pelos grupos criminosos.

Encerrando a entrevista, Barreira citou Max Weber: “O primeiro passo para superar um fenômeno é conhecer suas bases de sustentação”. Para ele, compreender a dinâmica da violência é o caminho para que políticas públicas e inteligência possam, de fato, reduzir o poder das facções.

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