Da Redação
A Nvidia tornou-se a primeira empresa pública do mundo a atingir uma capitalização de mercado de US$ 5 trilhões, enquanto a Apple alcançou US$ 4 trilhões. A virada simboliza a supremacia da inteligência artificial e das cadeias tecnológicas dos EUA — mas também lança luz sobre os desafios para países emergentes que ainda dependem de exportação de commodities e enfrentam maior volatilidade externa.
1. A ascensão sem precedentes
No dia 29 de outubro de 2025, a Nvidia consolidou-se como a empresa mais valiosa do planeta, ultrapassando a marca de US$ 5 trilhões em valor de mercado.
Quase simultaneamente, a Apple atingiu US$ 4 trilhões, confirmando o domínio quase absoluto das gigantes norte-americanas sobre a nova fronteira tecnológica global.
A escalada dessas companhias reflete uma mudança profunda na estrutura do capitalismo contemporâneo: a transição do capital produtivo e energético para o capital cognitivo, baseado em algoritmos, chips, dados e inteligência artificial.
2. O poder da Nvidia e a era da IA
A Nvidia alcançou sua posição de liderança por ser o coração da revolução da inteligência artificial.
Seus chips e processadores gráficos alimentam praticamente todos os grandes modelos de IA generativa, sistemas de aprendizado profundo e supercomputadores.
A empresa tornou-se indispensável para governos, exércitos e corporações que disputam a supremacia tecnológica mundial.
Essa dependência transformou a Nvidia em um ator geopolítico — não apenas econômico.
Hoje, o domínio sobre semicondutores e infraestrutura de IA é tão estratégico quanto o controle do petróleo no século XX.
Por isso, a empresa é vista como uma peça-chave da soberania tecnológica dos Estados Unidos e como instrumento de poder sobre o restante do mundo.
3. Apple: a força do ecossistema
Enquanto a Nvidia se impõe como espinha dorsal da infraestrutura da IA, a Apple mantém sua hegemonia pelo ecossistema integrado de hardware, software e serviços.
O sucesso recente da empresa não está apenas no iPhone, mas em sua capacidade de transformar cada usuário em parte de uma rede econômica e de dados que sustenta o crescimento de seus serviços — nuvem, saúde, finanças, entretenimento e inteligência embarcada.
A Apple se torna, assim, uma potência silenciosa da vida cotidiana digital, onde cada interação do consumidor gera valor.
O salto para US$ 4 trilhões representa o triunfo do modelo de economia fechada e hiperdependente da fidelização algorítmica do usuário.
4. A assimetria global e o impacto no Brasil
O domínio das big techs representa o fortalecimento de um sistema global concentrado, em que o controle da tecnologia define quem detém o poder econômico e político.
Para o Brasil e o Sul Global, o desafio é duplo: reduzir a dependência tecnológica externa e construir uma soberania digital que garanta autonomia sobre dados, infraestrutura e inovação.
A nova era da economia global não será definida por quem extrai petróleo ou exporta soja, mas por quem controla chips, servidores e algoritmos.
Enquanto países como os Estados Unidos e a China disputam a vanguarda da inteligência artificial, nações emergentes ainda lutam para desenvolver bases industriais compatíveis com o século XXI.
Se o Brasil não investir pesado em ciência, tecnologia e educação técnica, corre o risco de se tornar um mero consumidor da tecnologia alheia — condenado a exportar matéria-prima e importar inteligência.
5. O risco da bolha e a ilusão da abundância
Analistas alertam que a valorização acelerada dessas empresas pode representar uma nova bolha financeira, sustentada mais por expectativas do que por fundamentos concretos.
Mas, ao contrário da bolha das ponto-com no início dos anos 2000, a atual corrida tecnológica é sustentada por infraestrutura real, inteligência artificial funcional e demanda corporativa crescente.
A diferença é que agora a especulação está acoplada a uma revolução industrial tangível — e isso torna o cenário mais complexo.
Mesmo que parte do valor de mercado seja inflado, o poder estrutural dessas corporações é inegável.
6. A nova geopolítica do silício
O domínio tecnológico das big techs está redesenhando fronteiras políticas.
Hoje, a guerra comercial entre EUA e China é, na verdade, uma guerra pelos chips — pelos cérebros eletrônicos que movem a economia digital e o poder militar contemporâneo.
A Nvidia, a Apple, a Microsoft e outras empresas deixaram de ser apenas corporações privadas: tornaram-se braços estratégicos do Estado americano e instrumentos de influência global.
Essa fusão entre poder econômico e político gera uma nova forma de imperialismo: o imperialismo tecnológico, onde a dominação se dá pelo controle da informação, da infraestrutura digital e dos algoritmos que regulam o comportamento humano.
7. O desafio do Sul Global
A ascensão da Nvidia e da Apple deve servir de alerta.
Não há soberania sem infraestrutura tecnológica nacional.
O Brasil precisa investir em chips, software livre, inteligência artificial pública e formação científica se quiser ocupar lugar relevante na nova ordem econômica.
A dependência tecnológica é uma forma moderna de subordinação — e, no século XXI, ela se dá através dos servidores, das nuvens e dos algoritmos.
Enquanto alguns países produzem inteligência, outros apenas a consomem.
E essa diferença define o futuro das nações.
8. Conclusão
A Nvidia e a Apple não são apenas exemplos de sucesso empresarial — são sinais de que o capitalismo digital alcançou uma nova etapa, onde o conhecimento e o controle da informação valem mais do que qualquer recurso natural.
A economia global vive sua maior transformação desde a Revolução Industrial.
Quem dominar a IA dominará o século.
O Brasil, se quiser soberania, precisa decidir se será apenas espectador desse processo ou se construirá seu próprio caminho tecnológico — com autonomia, inteligência e coragem política.
 
								 
								


 
															