Jornalista brasileiro-palestino alerta para a espetacularização da violência e afirma que a cobertura na Palestina exige coragem diante da perseguição e da censura
No programa Democracia no Ar, transmitido pela TV Atitude Popular, o jornalista brasileiro-palestino Kais Husein, da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), relatou os desafios e os riscos de fazer jornalismo em territórios ocupados. Ele afirmou que comunicadores estão entre os principais alvos da ocupação. “Nós jornalistas somos o perigo do Estado de Israel. Nós relatores, investigadores de direitos humanos e porta-vozes da verdade somos a maior ameaça para a ocupação israelense”, disse.
O caminho até a Palestina
Husein contou que sua viagem começou na Jordânia, por onde os palestinos precisam passar para tentar entrar na Cisjordânia. O trajeto, segundo ele, já é um exemplo da falta de liberdade de movimento imposta pelo regime israelense. “Não existe aeroporto na Palestina. Desde 2001, quando Israel bombardeou o aeroporto de Gaza, os palestinos são proibidos de acessar terra, mar e ar. A entrada só acontece por checkpoints controlados pela ocupação”, explicou.
Ele narrou que passou pelo posto de fronteira de Allenby, conhecido pela rigidez e pelo controle minucioso de documentos e pertences. Ali, teve o passaporte retido por mais de uma hora e foi chamado para uma sala de interrogatório. “O soldado sabia detalhes da minha vida, nomes da minha família e até tentou usar minha orientação sexual como forma de intimidação”, relatou. No interrogatório, também foi questionado sobre suas postagens em redes sociais e ameaçado de prisão caso publicasse críticas durante sua estadia.
“Eles usam a pressão psicológica para dar medo, para que os palestinos não voltem à sua terra. É um tormento que todos enfrentam, não só jornalistas, mas qualquer palestino que tenta entrar”, disse. Apesar das ameaças, Husein decidiu seguir com o trabalho de campo e registrar histórias da população local.
Mostrar a vida para além da guerra
O jornalista contou que sua motivação era mostrar que a Palestina não pode ser reduzida apenas à imagem da destruição. “Eu quis mostrar que os palestinos têm família, acolhimento, culinária, cultura. São receptivos como qualquer povo, e querem viver apesar da ocupação”, destacou. Ele ressaltou que buscou retratar a vida cotidiana, os casamentos, a hospitalidade das famílias e até entrevistas com mulheres no mercado de trabalho, em contraposição à visão estereotipada de submissão.
Fetichização da violência
Husein alertou ainda para a espetacularização da tragédia. “O genocídio em Gaza virou entretenimento e fetiche. As pessoas olham, curtem e passam como se fosse uma série de Netflix. Isso banaliza o extermínio e desumaniza ainda mais os palestinos”, afirmou. Para ele, a solidariedade internacional não pode se restringir a curtidas ou discursos simbólicos. É preciso pressionar governos e instituições a adotarem sanções e medidas concretas contra Israel.
Resistência e solidariedade
Apesar do risco, Husein reafirmou o compromisso com seu ofício. “Eu coloquei minha vida em perigo porque acredito que mostrar a realidade palestina é essencial. Defender a liberdade de imprensa na Palestina é defender o direito à informação no mundo inteiro”, concluiu.
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