Atitude Popular

O mundo reage aos ataques dos EUA na América Latina: soberania, indignação e novas alianças no Sul Global

Da Redação

Nos últimos meses de 2025, os Estados Unidos intensificaram operações militares e de segurança no Caribe e na América Latina, sobretudo voltadas ao combate ao narcotráfico, e essas ações — embora apresentadas por Washington como medidas de segurança — provocaram uma onda de reação diplomática, política e simbólica no Sul Global. Países da América Latina, África e Ásia passaram a questionar a legitimidade dessas operações e a reafirmar seu compromisso com a soberania, a cooperação entre iguais e novos modelos de segurança internacional.

A provocação norte-americana e o gatilho da reação

Os episódios mais recentes revelam a escalada da tensão: ataques navais norte-americanos em áreas próximas à Venezuela e operações secretas conduzidas por agências de inteligência em países do entorno. Em uma dessas ações, uma embarcação suspeita de tráfico foi atacada no Caribe, resultando em mortes e prisões em águas internacionais. Caracas e outros governos da região denunciaram a operação como violação de soberania nacional e crime de guerra.

Além disso, Donald Trump anunciou o fim da ajuda financeira à Colômbia, acusando o presidente Gustavo Petro de “chefiar o narcotráfico”. A declaração, de forte carga ideológica, foi vista como um ato de provocação direta e reacendeu memórias das décadas de intervenção militar dos EUA na América Latina.

Esses movimentos fazem parte de uma estratégia mais ampla: reposicionar a influência estadunidense sobre o continente por meio de coerção diplomática, pressão econômica e presença militar ostensiva.


Reações no Sul Global e na América Latina: soberania em primeiro lugar

Venezuela e Nicarágua: resistência diplomática

Os governos de Nicolás Maduro e Daniel Ortega reagiram com firmeza, denunciando as operações como ataques ilegais e imperialistas. Ambos pediram uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU e convocaram embaixadores norte-americanos para prestar esclarecimentos. Em Caracas, multidões tomaram as ruas em protesto contra o que chamaram de “nova invasão disfarçada”.

Colômbia: ruptura diplomática e indignação

A Colômbia, alvo direto das ofensas de Trump, reagiu duramente. O presidente Gustavo Petro acusou os EUA de “ultrapassar todos os limites diplomáticos” e anunciou revisão de acordos bilaterais de segurança. O Congresso colombiano aprovou uma moção de repúdio e exigiu explicações formais de Washington.

Brasil: firmeza e prudência estratégica

O governo brasileiro, em tom diplomático, alertou que qualquer tentativa de intervenção estrangeira na América Latina ameaça a estabilidade regional. Lula defendeu uma resposta coletiva dos países sul-americanos e pediu “cautela e soberania” nas negociações bilaterais com os EUA. A chancelaria brasileira destacou que “o continente não pode voltar a ser quintal de nenhuma potência”.

África e Ásia: solidariedade continental

Diversos países africanos e asiáticos expressaram solidariedade à América Latina, denunciando o “padrão de ingerência seletiva” dos EUA. Nações como África do Sul, Índia, Indonésia e Irã classificaram as ações como “inadmissíveis” e pediram um novo pacto global baseado em respeito mútuo e multipolaridade.


Temas centrais da reação

  • Soberania nacional: Os países do Sul Global insistem que nenhum Estado tem direito de operar militarmente fora de seu território sem autorização expressa do país afetado. O discurso é claro: soberania não se negocia.
  • Legalidade internacional: Juristas e diplomatas alertam que as ações violam a Carta da ONU e tratados internacionais, pois nenhum país pode justificar ataques sob pretexto de combate ao narcotráfico.
  • Desconfiança nas instituições dominadas pelo Ocidente: As reações revelam cansaço com o sistema internacional desigual, em que potências violam regras que exigem dos demais.
  • Reconfiguração geopolítica: Em meio à tensão, cresce a articulação entre BRICS, CELAC e União Africana. A busca é por um bloco solidário do Sul Global que contraponha a hegemonia estadunidense.
  • Precedente perigoso: Ao agir unilateralmente no Caribe, Washington abre caminho para normalizar intervenções futuras em qualquer parte do mundo, sob qualquer justificativa conveniente.

Consequências imediatas e de médio prazo

A crise reacendeu um debate essencial: quem tem o direito de definir segurança global?
Na América Latina, vários países convocaram reuniões de emergência da OEA e da CELAC. Houve notas conjuntas de repúdio e anúncios de revisão de acordos militares com os EUA.

Governos da região começaram a discutir a criação de um sistema latino-americano de defesa conjunta, retomando a ideia de integração militar solidária proposta nos anos 2000. O tema, antes periférico, voltou ao centro das discussões sobre soberania.

No plano global, a China e a Rússia manifestaram apoio político e diplomático às nações latino-americanas, destacando que o respeito à integridade territorial é pilar da multipolaridade emergente. A Índia, por sua vez, defendeu que o episódio seja tratado como “alerta para reforma da governança mundial”.


O impacto simbólico: o Sul Global acorda

O que antes era uma crítica isolada de líderes progressistas, agora se tornou um grito coletivo de insubmissão. O Sul Global percebeu que a sobrevivência política e econômica de seus povos depende de autonomia real — tecnológica, militar e diplomática.

Da América do Sul ao Sudeste Asiático, cresce o consenso de que não há prosperidade sem soberania. E que o verdadeiro desafio do século XXI é construir um sistema internacional capaz de coexistência pacífica sem a tutela dos impérios.


Conclusão

A ofensiva norte-americana contra a América Latina reacendeu o espírito de resistência continental. O Sul Global — cansado de ser tratado como território de experimentação econômica e política — responde agora com altivez, solidariedade e construção de alternativas.

Lula, Petro, Maduro, Díaz-Canel e outros líderes regionais assumem um papel histórico: transformar a dor das agressões externas em impulso de unidade e emancipação.

O recado ao mundo é inequívoco: a era da dominação unilateral está ruindo. A nova era, nascida entre as ruínas de velhos impérios, fala com sotaque latino, africano e asiático — e proclama em uníssono: nenhum império é eterno, mas a dignidade dos povos é.

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