Professor André Ferreira critica proposta de reforma administrativa e alerta para precarização do trabalho
O programa Café com Democracia, transmitido pela TV Atitude Popular, recebeu nesta terça-feira (16) o professor André Ferreira, presidente da Associação dos Docentes da UFC (ADUFC) e docente do Departamento de Teoria Econômica da Universidade Federal do Ceará. Em entrevista ao sociólogo Luiz Regadas, Ferreira analisou os impactos da reforma administrativa em debate no Congresso Nacional e defendeu o fortalecimento do serviço público como condição para o desenvolvimento do país.
Segundo o professor, a atual proposta discutida na Câmara, sob relatoria de um grupo de trabalho coordenado por Hugo Motta (Republicanos-PB), aponta para a precarização das relações de trabalho no setor público. “O serviço público é parte da solução do problema, não um peso que precisa ser cortado”, destacou. Para ele, saúde, educação, moradia e transporte são serviços fundamentais que não podem ser tratados pela lógica do mercado.
Terceirização e contratos temporários
Ferreira ressaltou que o modelo de terceirização já demonstrou sua fragilidade, com atrasos salariais, falências de empresas contratadas e trabalhadores deixados sem garantias. A nova proposta, segundo ele, repete essa lógica ao prever contratos temporários de até dez anos para servidores. “Gostaria imensamente de saber baseado em que alguém pode dizer que esse tipo de contrato é mais eficiente. Pelo contrário, isso vai gerar ineficiência, porque o trabalhador vai passar o tempo estudando para outro concurso em vez de se qualificar dentro da carreira”, argumentou.
Ele também criticou a ideia de avaliações de desempenho com caráter punitivo e a vinculação de reajustes a bônus de produtividade, práticas que, em sua visão, apenas mascaram a perda salarial acumulada desde 2016. “Não podemos trocar reposição de perdas inflacionárias por disputas internas de quem produz mais”, afirmou.
Jornada de trabalho e desenvolvimento
Durante o diálogo, o professor comparou o cenário brasileiro com países mais desenvolvidos, onde jornadas menores e investimentos em tecnologia foram acompanhados de valorização da classe trabalhadora. Para ele, a redução da carga horária não deve ser vista como privilégio, mas como conquista que garante saúde, qualificação e mais bem-estar social. “Se a tecnologia se desenvolve, é para melhorar a vida das pessoas, não para transformá-las em escravas do trabalho”, disse.
Impacto fiscal e prioridades invertidas
Ferreira chamou atenção para a falta de debate sobre o peso real dos gastos públicos. Ele lembrou que a maior parte do déficit está nas despesas financeiras, ligadas ao pagamento de juros da dívida, e não nas despesas sociais. “Todo disciplinamento fiscal recai sobre áreas como saúde, educação e previdência, mas não existe limite para os gastos com juros. Com a taxa de 10% ao ano, o serviço público sempre será tratado como oneroso, quando na realidade não é”, afirmou.
Mobilização nacional
O presidente da ADUFC informou que a entidade tem participado de atos nacionais e fóruns estaduais em defesa do serviço público, ao lado de sindicatos e movimentos sociais. “As prioridades estão invertidas. Em vez de discutirmos melhorias salariais e capacitação, estamos lutando para manter direitos básicos. A defesa do serviço público é também a defesa da democracia e da soberania nacional”, concluiu.
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