Projeto Fortalezapé propõe educação patrimonial na rua, passeios gratuitos aos sábados e diálogo com escolas para que o cidadão volte a reconhecer o Centro como lugar de memória, de convivência e de futuro
O Café com Democracia, apresentado por Luiz Regadas e transmitido pela Rádio e TV Atitude Popular, recebeu o educador patrimonial e turismólogo Gerson Linhares para falar do projeto Fortalezapé, Caminhar é preciso. A matéria se baseia na entrevista ao vivo, em que o convidado detalhou a proposta, a trajetória de três décadas e os desafios de preservar e ativar o patrimônio histórico de Fortaleza a partir de caminhadas, oficinas e ações comunitárias.
Gerson resumiu a urgência com uma imagem simples, museus fechados no fim de semana, escolas que pouco trabalham a história local, praças que precisam de programação cultural contínua. O remédio, segundo ele, passa por formação de público desde a educação infantil, por parcerias entre as secretarias de Cultura, Educação, Turismo e Meio Ambiente, e por rotas que devolvam o Centro ao cidadão. Abre aspas, eu penso no turista cidadão, o cidadão que não conhece a sua história, fecha aspas.
O que é o Fortalezapé
Nascido há cerca de 30 anos, o Fortalezapé é, nas palavras do próprio idealizador, o programa de educação patrimonial mais antigo em atividade contínua na capital e no estado. Mesmo durante a pandemia, as caminhadas migraram para lives patrimoniais semanais. O formato combina três frentes, saídas a pé por roteiros históricos, palestras em escolas, exposições fotográficas e de maquetes, além de publicações autorais como o álbum de figurinhas do patrimônio, com 72 imagens e textos de referência. A cada cinco exemplares vendidos, um é doado a escolas públicas, meta que já levou mais de dez mil unidades a salas de aula.
Segundo Gerson, o acervo urbano do Centro segue subaproveitado. Há um cinturão com centenas de edificações antigas no quadrilátero formado por vias históricas, onde se concentram também equipamentos culturais. O grupo defende a criação de um Museu do Centro Histórico e políticas para reocupar o bairro com moradia, comércio de bairro e atividades culturais aos fins de semana, o que reduziria vandalismo e abandono. Abre aspas, precisamos colocar os logradouros públicos em efervescência, criar roteiros e eventos para que a população revisite o Centro, fecha aspas.
Caminhadas gratuitas, todo sábado
O convite é direto. Aos sábados, às 9 horas, em parceria com o Sesc Ceará, as caminhadas saem da Praça do Ferreira, em frente à Igreja do Coração de Jesus, com participação livre. A organização pede inscrição prévia pelas redes sociais do projeto apenas para estimar o tamanho do grupo, em geral cerca de cinquenta pessoas. O percurso dura entre duas e três horas, com mediação sobre história, arquitetura, memória social e hábitos urbanos, sempre com foco no pertencimento. Abre aspas, todo sábado nós realizamos caminhadas culturais gratuitas às 9 horas na Praça do Ferreira, faça sol, faça chuva, fecha aspas.
Museus que a cidade precisa
O mapeamento do Fortalezapé aponta mais de 70 museus em Fortaleza, sendo 25 no Centro. O dado revela potencial, mas também gargalos, desde unidades fechadas ao público no fim de semana até a necessidade de fortalecer o Sistema Estadual de Museus e a rede comunitária. Gerson valorizou equipamentos de base social, caso do Museu do Bode Ioiô, gerido por seu instituto e hoje instalado provisoriamente no térreo do Mercado Central, com acervo superior a 5 mil peças e ações educativas. Houve espaço para uma atualização importante, o Museu do Ceará segue em obra, com reabertura prevista apenas para o próximo ano, enquanto o anexo ao lado do Palácio da Luz acolhe o Bode Ioiô original, datado de 1915, que passou por restauro recente.
No campo das ideias estruturantes, o educador propõe uma linha de personagens do imaginário cearense para a educação infantil, Raquel, Patativa, Dragãozinho do Mar, e a institucionalização do Bode Ioiô como mascote oficial da cidade, estátua na Praça do Ferreira e roteiros temáticos. Abre aspas, a gente precisa repaginar a história do patrimônio e dos museus, dar voz aos museus sociais comunitários e abrir as portas quando a população pode ir, fecha aspas.
Escola aberta, cidade aberta
A entrevista trouxe um roteiro de passos possíveis, escolas públicas com quadras e pátios abertos aos fins de semana, educadores físicos orientando práticas para idosos, circuitos gratuitos de museus funcionando sábado e domingo, ônibus escolares utilizados em roteiros culturais quando a frota fica ociosa. O projeto já atendeu mais de duzentas e vinte mil pessoas em caminhadas e ações correlatas, número que poderia crescer com apoio institucional. Abre aspas, eu trabalho com solução, não com problema, o que falta é o poder público ouvir e articular, fecha aspas.
Serviço
Fortalezapé, Caminhar é preciso, caminhadas gratuitas, sábados, 9 horas, Praça do Ferreira, em frente ao Coração de Jesus, parceria com o Sesc Ceará, inscrições pelas redes do projeto. Duração média de duas horas, com possibilidade de extensão conforme o diálogo com o grupo.
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