Da Redação
Líderes evangélicos historicamente alinhados ao bolsonarismo manifestaram publicamente apoio à nomeação de Jorge Messias, atual ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), como provável indicado do presidente Lula para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). A reação surpreende pelos cruzamentos ideológicos e revela uma manobra política de aproximação com o eleitorado religioso, ao mesmo tempo que escancara tensões internas entre fé, poder e estratégia partidária.
Embora pastores bolsonaristas mantenham críticas pontuais à visão política de Messias, há reconhecimento explícito de integridade pessoal, competência profissional e legitimidade formal da indicação.
O pastor Silas Malafaia, um dos mais influentes do meio evangélico conservador, deixou claro que suas discordâncias com Messias se situam no plano ideológico, e não pessoal: “Não vejo nada que desabone” a sua reputação moral, afirmou, ressaltando que críticas eventualmente existentes passam pelo debate político. Para Malafaia, a nomeação pode fazer parte de uma estratégia de reaproximação do governo com os evangélicos, grupo que historicamente tende a rejeitar Lula.
Outro líder significativo, o pastor Robson Rodovalho (Igreja Sara Nossa Terra), foi além: elogiou o caráter de Messias, apontando-o como homem de honra, sem ver problema em sua filiação ao PT para ocupar uma vaga no STF. Segundo ele, a representação religiosa no tribunal é legítima e desejável.
Essas manifestações expõem o cálculo político das bancadas religiosas: apoiar um nome que, ainda que filiando-se à esfera governamental, mantém credibilidade moral pode ser menos custoso que romper alianças com o Executivo. Ao mesmo tempo, reforçam a ideia de que o eleitorado evangélico — estimado em cerca de 30 % da população — merece representantes institucionais na mais alta corte.
Jogada de governo ou concessão simbólica?
A indicação de Messias — já vista como certa por muitos círculos do Planalto e do meio jurídico — carrega significado estratégico alto:
- Conquistar votos religiosos
Ao apresentar um candidato evangélico, o governo Lula joga para reduzir a rejeição desse eleitorado, criar pontes simbólicas e demonstrar sensibilidade ao tema da fé — essenciais em campanhas futuras. - Legitimar o nome no terreno institucional
O apoio público de figuras conservadoras dá polimento ao argumento de que Messias é um magistrado tecnicamente qualificado, e não um nome meramente ideológico ou partisan. - Desfragmentar a oposição religiosa
Romper a resistência de pastores bolsonaristas equivale a enfraquecer mobilizações críticas que poderiam marcar a sabatina no Senado e minar a sustentação política da escolha.
Mas também há risco: pastores que elogiam a indicação podem ser acusados por seus fiéis de traição ideológica, se Messias tomar decisões que contrariem expectativas religiosas conservadoras.
Contradições e tensões simbólicas
O gesto não está livre de contradições. Pastores que apoiaram Bolsonaro por décadas agora expressam admiração por um nome ligado ao PT, demonstrando a fluidez recorrente da política de alianças no Brasil.
A aproximação ressalta a teologia do domínio, estratégia que busca converter influência religiosa em poder político institucional. Ao reconhecer políticos ou juízes como representantes da fé, segmentos evangélicos reforçam sua atuação no espaço público e a ideia de que sua voz precisa ser contemplada institucionalmente.
Mas a própria indicação de Messias é uma carta de risco: qualquer voto ou decisão controversa no Supremo poderá gerar fraturas entre suas bases religiosas e sua atuação jurídica.
Impacto institucional e expectativas de sabatina
Se for aprovado, Messias substituirá o ministro Luís Roberto Barroso e ampliará a chamada “legislatura Lula” no STF — fato que altera correlações ideológicas no tribunal. Sua trajetória como advogado e ministro da AGU já foi marcada por conflitos institucionais e defesa do governo federal, o que abre debates sobre independência judicial e legitimidade técnica.
Pastores que elogiam a indicação esperam que Messias honre o compromisso com valores morais, fé e liberdade religiosa — avaliação que acompanhará sua atuação desde as primeiras votações e decisões simbólicas do tribunal.