Atitude Popular

Quem são os brasileiros que tiveram vistos cancelados pelos EUA no governo Trump

Da Redação

De ministros do STF a autoridades ligadas ao Mais Médicos, a lista de brasileiros com vistos revogados por Washington revela a escalada de tensões diplomáticas e jurídicas entre Brasil e Estados Unidos em 2025.

A ofensiva dos Estados Unidos contra autoridades brasileiras alcançou um novo patamar em 2025. Ao longo dos últimos meses, o governo de Donald Trump tem utilizado a revogação de vistos como ferramenta de pressão política e diplomática, atingindo ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), integrantes do Ministério Público, procuradores, familiares de autoridades e gestores ligados a programas sociais. O gesto é simbólico, mas também de forte impacto político, pois amplia a narrativa de confronto entre Washington e Brasília em meio à disputa sobre democracia, soberania e direitos humanos.

A primeira leva de cancelamentos ocorreu em julho, quando oito ministros do STF tiveram seus vistos revogados: Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Dias Toffoli, Cristiano Zanin, Flávio Dino, Cármen Lúcia, Edson Fachin e Gilmar Mendes. Na mesma ocasião, o Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, também foi incluído. O ato foi interpretado pelo Brasil como um ataque direto à independência do Judiciário e à autoridade do Supremo, que vinha julgando figuras centrais do bolsonarismo e conduzindo processos sobre tentativa de golpe e desinformação em larga escala.

Pouco depois, em agosto, o alvo foram pessoas ligadas ao programa Mais Médicos e a organismos internacionais vinculados à saúde. Washington acusou o Brasil de ter participado de um esquema de trabalho forçado envolvendo médicos cubanos. Entre os atingidos estavam Mozart Júlio Tabosa Sales, secretário de Atenção Especializada à Saúde, e Alberto Kleiman, diretor da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica. O caso ganhou contornos ainda mais delicados quando familiares do ministro da Saúde, Alexandre Padilha — sua esposa e filha — também tiveram vistos revogados. Ainda que o próprio ministro não tenha sido incluído por ter seu visto expirado, o gesto foi lido como uma forma de constrangimento indireto a um integrante central do governo.

Nesta segunda-feira, 22 de setembro, a escalada prosseguiu. O governo americano anunciou o cancelamento de vistos do Procurador-Geral da União, Jorge Messias, além de outros cinco juristas e assessores de alto escalão: José Levi, ex-Procurador-Geral; Benedito Gonçalves, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral; Airton Vieira, Marco Antonio Martin Vargas e Rafael Henrique Janela Tamai Rocha. O anúncio, feito pelo Departamento de Estado, reforçou a narrativa de que o Brasil estaria praticando perseguições políticas e violações de direitos fundamentais, tese rechaçada pelas instituições brasileiras.

O impacto diplomático é imediato. Revogar vistos não apenas atinge a vida pessoal e a mobilidade das autoridades, mas sinaliza para a comunidade internacional que os Estados Unidos não reconhecem legitimidade plena em sua atuação institucional. Do lado brasileiro, cresce a percepção de ingerência e ataque à soberania, especialmente porque tais medidas são tomadas de forma unilateral, sem base em decisões de organismos multilaterais ou instâncias jurídicas internacionais. O Itamaraty já classificou as ações como arbitrárias e contrárias ao espírito de cooperação.

No campo jurídico, as consequências internas são limitadas. Decisão recente do Supremo Tribunal Federal determinou que sanções ou atos administrativos estrangeiros não produzem efeitos automáticos no território brasileiro. Isso significa que, ainda que impedidas de entrar nos Estados Unidos, essas autoridades mantêm seus direitos e prerrogativas no Brasil. Contudo, o efeito reputacional e político é significativo: a marca de sanção norte-americana pesa em fóruns internacionais, abre espaço para campanhas de desinformação e mina a imagem das instituições brasileiras no exterior.

Há também um componente simbólico que não pode ser ignorado. Ao incluir ministros, procuradores e até familiares em listas de restrição, Washington projeta um discurso de que há abuso de poder judicial no Brasil. Ao mesmo tempo, a estratégia se insere em um tabuleiro maior de guerra híbrida, no qual medidas administrativas são usadas como armas de pressão política. Para o governo Lula, a resposta será dupla: reforçar a legalidade interna, destacando que decisões de Cortes brasileiras não estão sujeitas à chancela estrangeira, e intensificar a diplomacia nos espaços multilaterais, onde o Brasil buscará enquadrar tais sanções como ilegítimas.

A crise de 2025 é inédita pela profundidade e pelo alcance. De ministros do STF a gestores de saúde, passando por procuradores e familiares, a lista de brasileiros com vistos cancelados pelos Estados Unidos revela que a disputa deixou de ser apenas entre governos e passou a atingir diretamente o funcionamento de instituições do Estado. O próximo passo dependerá da resposta de Brasília — e de como a comunidade internacional se posicionará diante de uma escalada que já ultrapassou o terreno diplomático tradicional.