Da Redação
Após o trauma de um estudante com deficiência detido por engano diante de uma escola, o distrito escolar de Los Angeles implementa “zonas seguras”, patrulhas voluntárias e comunicação comunitária para proteger alunos imigrantes diante da intensificação das ações federais migratórias.
O início do ano letivo em Los Angeles foi marcado por apreensão e mobilização. Um incidente traumatizou a comunidade: um estudante de 15 anos com deficiência foi detido por engano por agentes federais do Departamento de Segurança Interna enquanto familiares registravam outra criança na porta da escola. O episódio ocorreu em frente a um campus e envolveu bordas escolares, deixando rastros de balas e munições, o que provocou indignação pública.
Para evitar que situações semelhantes se repitam, o Distrito Escolar Unificado de Los Angeles (LAUSD) tomou uma série de medidas emergenciais. Foram designadas “zonas seguras” dentro de um raio de duas quadras dos campi, especialmente durante a janela crítica de uma hora antes do início das aulas até uma hora após o término. Patrulhas comunitárias – compostas por professores, voluntários de organizações locais e funcionários – passaram a acompanhar a chegada dos estudantes, oferecendo escolta e vigilância discreta.
Essas ações complementam uma rede de apoio que inclui reforço psicológico, disseminação de informações sobre direitos, linhas diretas de emergência, rotas escolares adaptadas e ampliação da modalidade de ensino virtual — cuja matrícula para o ano letivo subiu 7%.
A prefeita de Los Angeles e a administração do distrito foram uníssonas: disseram que toda medida de reforço visa garantir que “crianças com medo não estejam em sala de aula”, lembrando que o aprendizado não pode ocorrer em ambiente de insegurança. Ao mesmo tempo, houve apelo para que autoridades de imigração se abstenham de atuar próximo a escolas, respeitando a lei que garante o direito à educação independentemente da situação migratória.
Essas preparações refletem o impacto de uma série de operações migratórias intensas realizadas nas últimas semanas. Desde junho, bairros com população de imigrantes vivenciaram batidas em residências, locais de trabalho, igrejas e até centros de educação, resultando em prisões em massa e protestos massivos na cidade. O medo não se restringe ao reprédio escolar — é um sentimento generalizado e profundo.
O LAUSD, que atende meio milhão de alunos — cerca de 30 mil imigrantes, muitos em situação irregular — está consolidando-se como distrito-santuário. Durante o verão, cerca de 10 mil famílias receberam orientações e suporte direto, enquanto mais de mil profissionais foram mobilizados no primeiro dia de aula para atuar em áreas consideradas de maior risco.
A combinação entre trauma coletivo, desigualdade social e políticas de mão dura ameaça abalar o direito à educação. Mas a resposta comunitária mostra que é possível proteger esse direito fundamental com empatia, coordenação e inovação operacional.