Da Redação
Aliança tácita entre Moscou, Pequim e Nova Déli mostra coordenação crescente contra pressão ocidental; analistas veem nova “troika” geopolítica ganhando corpo.
Nos últimos meses de 2025, Rússia, China e Índia têm sido apontadas por analistas internacionais como protagonistas de uma ofensiva diplomática, econômica e estratégica global que desafia o atual ordenamento liderado pelo Ocidente. A percepção é de que os três países estão cada vez mais sincronizados, mesmo mantendo interesses próprios distintos, numa dinâmica que pode reconfigurar poder no cenário internacional.
A Rússia tem buscado retomar proeminência global através de sua parceria com a China, não só militar, mas também econômica, aproveitando a tensão com países ocidentais para reforçar alianças no Leste e Sul do globo. Enquanto isso, a China tem jogado forte a carta da diplomacia e do investimento, consolidando sua influência em regiões tradicionalmente dependentes de financiamentos ocidentais ou multilaterais como África, América Latina e Sudeste Asiático.
A Índia, por sua vez, aparece nesse contexto com postura de hedge estratégico. Embora não queira se alinhar formalmente com nenhuma das potências antagonistas, demonstra que suas políticas externas consideram seriamente a necessidade de autonomia entre os blocos. Nova Déli mantém laços fortes com o Ocidente, mas também se aproxima de projetos estratégicos com China e Rússia, inclusive no comércio energético, transporte e infraestrutura.
O uso de fóruns multilaterais como os BRICS, a Organização de Cooperação de Xangai (SCO) e encontros diplomáticos de alto nível foram palcos frequentes dessas movimentações. Nessas instâncias, fórmulas de cooperação e críticas ao “ordem internacional” ocidental têm se tornado mais comuns, inclusive com declarações públicas que reforçam soberania, resiliência frente a sanções e a importância do multipolarismo.
Entretanto, essa “troika” estratégica não está livre de tensões internas ou limitações. Há desafios sérios entre China e Índia acerca de disputas fronteiriças, questões de segurança regional e alianças militares que complicam uma cooperação plena. Por outro lado, a dependência russa de apoio econômico externo — especialmente para driblar sanções impostas pelo Ocidente — faz com que Moscou necessite tanto de Pequim quanto de Nova Déli, mas também limita seu espaço de manobra.
Para os Estados Unidos e seus aliados, esse movimento conjunto serve de alerta: há o risco de que novos eixos de poder retirem influência política, comercial e diplomática do bloco ocidental. Sanções, tarifas e tentativas de contenção já estão sendo tematizadas, além de pressões para que países como Índia e China tomem posições mais claras no conflito da Ucrânia ou em disputas entre aliados ocidentais.
Em resumo, a estratégia Russo-Chinesa-Indiana está emergindo não como uma aliança formal rígida, mas como uma convergência pragmática de interesses que se reforçam mutuamente ao enfrentar o isolamento ou a pressão internacional. É uma ofensiva de redesenho das relações de poder — de blocos ou polos — que pode ganhar corpo e escala, dependendo de variáveis como postura dos EUA, respostas europeias, tensões regionais (fronteiras, economias, segurança) e o sucesso diplomático entre essas três potências.