Atitude Popular

Semana decisiva no Congresso: Câmara, governo e a agenda de poder

Da Redação

Nesta semana, o Câmara dos Deputados e o governo federal entram em ritmo acelerado para avançar sobre medidas fiscais, controle de gastos, articulação legislativa e embates partidários. A tensão está nos bastidores: como prevalecerá a agenda oficial do Luiz Inácio Lula da Silva diante da fragmentação política e do desgaste público de segurança?

1. O cenário político: de volta ao campo de batalha

Começando em 2 de novembro de 2025, a semana promete ser de movimentação intensa em Brasília.
Após a retomada das atividades legislativas, o governo busca consolidar apoio em torno de sua agenda fiscal e de segurança pública, enquanto enfrenta pressões simultâneas: da oposição, que tenta ampliar o desgaste do Executivo, e de sua própria base, que cobra mais espaço e resultados.

O ambiente no Congresso é de tensão e disputa narrativa.
De um lado, o Planalto tenta mostrar que mantém controle político e capacidade de articulação. Do outro, setores independentes e conservadores da Câmara querem provar que o Legislativo retomou o protagonismo e que não aceitará “pautas prontas” vindas do Executivo.


2. A agenda fiscal e o controle de gastos

O principal foco do governo é o pacote fiscal, que retorna à pauta após semanas de impasse.
O Ministério da Fazenda aposta todas as fichas na aprovação de medidas que reforcem a credibilidade do novo arcabouço, incluindo o controle de gastos, a limitação de incentivos tributários e o aumento da fiscalização sobre operações financeiras digitais.

A Câmara deve receber nesta semana o relatório com as alterações propostas ao texto. O governo quer votar em regime de urgência para evitar emendas que desfigurem o projeto.
Líderes governistas afirmam que o equilíbrio fiscal é condição indispensável para manter os investimentos públicos e preservar programas sociais, especialmente o Novo PAC e o Minha Casa, Minha Vida.

Nos bastidores, a articulação política trabalha para conter resistências — inclusive dentro da própria base, onde parlamentares temem o impacto das medidas em setores empresariais de suas regiões.


3. Segurança pública e CPI do crime organizado

A CPI do crime organizado é outro eixo que concentrará atenção.
O embate entre PT e PL pela presidência da comissão reflete não apenas uma disputa de cargos, mas também duas visões de país.
De um lado, o PT tenta associar a investigação à necessidade de combater a infiltração das milícias nas estruturas estatais. De outro, o PL quer transformar a CPI em palco de ataques ao governo, explorando a crise de segurança no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Essa disputa se conecta diretamente ao debate sobre o novo Plano Nacional de Segurança Pública, que o governo pretende enviar ao Congresso ainda nesta semana. O texto deve prever a criação de um sistema integrado de informações e recursos federais condicionados a critérios de transparência.

Enquanto isso, movimentos sociais e organizações civis cobram que o tema não seja monopolizado por disputas eleitorais, lembrando que o foco deve estar nas vítimas e não apenas na retórica da “guerra ao crime”.


4. Relação entre governo e Câmara: o xadrez da articulação

Nos bastidores, a articulação política vive dias de teste.
O ministro Alexandre Padilha intensificou as reuniões com líderes de bancada para recompor a base aliada, especialmente com o MDB, PSD e União Brasil, cujos votos são essenciais para as próximas votações.

O Palácio do Planalto aposta em pactos de governabilidade pontuais: concessões regionais, liberação de emendas e nomeações em segundo escalão.
O presidente da Câmara, Arthur Lira, mantém discurso de independência, mas já sinalizou que não quer ruptura com o governo — embora faça questão de preservar a autonomia da Casa.

O jogo é fino: o governo precisa aprovar matérias centrais sem parecer refém do centrão, e Lira precisa demonstrar força sem romper pontes.


5. O Senado como contrapeso

Enquanto a Câmara se ocupa da pauta fiscal e da CPI, o Senado concentra debates sobre reformas estruturais e indicações políticas.
A expectativa é que o presidente Lula anuncie nesta semana sua nova indicação ao Supremo Tribunal Federal, decisão que será imediatamente analisada pelos senadores.
O nome indicado terá impacto direto na relação entre os poderes e será medido tanto pelo perfil técnico quanto pela afinidade política.

Além disso, tramita no Senado a proposta de revisão do marco das estatais, que pode flexibilizar regras para nomeação de dirigentes. A oposição critica a medida, afirmando que ela abre espaço para indicações políticas. Já a base defende que o projeto moderniza a governança e devolve autonomia ao Executivo.


6. As tensões regionais e o peso dos governadores

Governadores voltam a ter papel central nas negociações.
Após o massacre policial no Rio de Janeiro e a repercussão nacional do episódio, cresce a pressão sobre os estados para rever protocolos de segurança.
Governadores de oposição acusam o governo federal de omissão, enquanto aliados cobram maior coordenação e repasse de recursos.

O Planalto busca transformar a crise em oportunidade de liderança, reforçando o discurso de integração federativa. O presidente Lula deve reunir governadores até quinta-feira para discutir estratégias conjuntas de combate ao crime e apoio a políticas sociais em áreas vulneráveis.


7. O tabuleiro da semana: poder, imagem e estabilidade

Nos próximos dias, o Congresso se tornará o verdadeiro termômetro político do governo.
As decisões tomadas na Câmara e no Senado indicarão se a base de Lula está consolidada ou em processo de desgaste.

A agenda fiscal definirá o tom da política econômica e a confiança do mercado.
A CPI do crime organizado testará a capacidade do governo de lidar com a pauta da segurança sem se deixar capturar pela lógica do confronto.
E a indicação ao STF será o gesto mais simbólico da semana, capaz de redesenhar a relação entre Executivo e Judiciário.

A soma desses fatores transformará esta semana em uma das mais decisivas do semestre — tanto para o governo quanto para o equilíbrio institucional do país.

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