Da Redação
Senado dos Estados Unidos aprovou sua versão do projeto de lei que determina as políticas e o orçamento do Pentágono para o próximo ano fiscal — conhecido como National Defense Authorization Act (NDAA) — em uma votação com suporte bipartidário expressivo. O placar foi de 77 votos favoráveis contra 20 contrários, um resultado que sinaliza consenso em torno da prioridade militar em um momento de múltiplas tensões globais.
Com um valor total de US$ 925 bilhões, o projeto autoriza reajuste de 4 % nos salários das Forças Armadas, amplia incentivos à indústria bélica, estabelece limites à retirada de tropas americanas de regiões estratégicas e reforça o investimento em sistemas avançados de defesa, incluindo drones, armamentos de precisão e inteligência artificial. Trata-se de um dos maiores orçamentos militares da história dos EUA, superando inclusive os gastos combinados de todas as demais potências da OTAN.
Reformas e revogações simbólicas
Entre os destaques da proposta está a revogação de antigas autorizações de guerra que datam de 1991 e 2003 — dispositivos legais usados para justificar intervenções militares no Iraque e no Golfo Pérsico. Essa medida busca limitar o poder do Executivo em iniciar ações militares sem aprovação explícita do Congresso. É uma resposta política e institucional à crítica de que, por décadas, presidentes americanos abusaram dessas autorizações para expandir guerras sob justificativas genéricas de segurança nacional.
Mesmo assim, o texto mantém as bases que sustentam o aparato militar global dos EUA e reafirma compromissos com aliados estratégicos na Europa e na Ásia. O Senado argumenta que, diante de “ameaças crescentes” de China, Rússia e Irã, é preciso fortalecer as capacidades de dissuasão e garantir superioridade tecnológica.
Contexto político e disputa de poder
A aprovação ocorre em meio à paralisação parcial do governo federal (shutdown), o que adiciona pressão para que a versão final seja rapidamente negociada com a Câmara dos Representantes. O Senado defende um texto “limpo”, focado em defesa e segurança, enquanto deputados conservadores da Câmara tentam inserir pautas ideológicas, cortes de programas sociais e restrições culturais no projeto.
O impasse reflete o dilema clássico da política americana: como financiar a máquina de guerra sem aprofundar o déficit público e sem comprometer programas sociais que enfrentam cortes. Ainda assim, a aprovação no Senado foi vista como vitória política de setores do establishment militar-industrial e de lobbies ligados à defesa, que continuam entre os mais influentes de Washington.
A disputa sobre prioridades nacionais
O orçamento recorde expõe o contraste entre os bilhões destinados à guerra e os gargalos sociais internos. Enquanto o país enfrenta desigualdade crescente, crise habitacional e aumento da pobreza infantil, o NDAA mantém a defesa como o centro da política orçamentária americana.
Para críticos progressistas, o texto é “um cheque em branco” para o Pentágono, mantendo intacta a lógica do complexo militar-industrial denunciada há mais de meio século. Já os defensores argumentam que os EUA precisam “estar preparados para todos os cenários” — da contenção chinesa no Indo-Pacífico à dissuasão nuclear frente à Rússia.
Implicações globais
A nova legislação reforça o papel dos EUA como potência militar absoluta, mas aumenta tensões diplomáticas em múltiplas frentes. A escalada de investimentos em defesa é vista por analistas internacionais como um aceno direto à China e um recado a Moscou de que Washington manterá presença global ativa.
Ao mesmo tempo, a decisão de revogar as antigas autorizações de guerra indica um desejo simbólico de restaurar limites democráticos internos e reduzir o arbítrio presidencial sobre o uso da força. A medida, porém, não altera a realidade de que os EUA continuam engajados militarmente em mais de 80 países, com presença direta ou indireta.
Conclusão: entre contenção e expansão
O NDAA 2025 sintetiza as contradições centrais da política americana: prega contenção, mas amplia gastos; promete prudência, mas reforça a lógica da supremacia militar. O Senado agora pressiona a Câmara para aprovar rapidamente o texto, sob o argumento de que qualquer atraso pode “colocar em risco a segurança nacional”.
No entanto, a aprovação de mais um orçamento trilionário de defesa reacende o debate global sobre o papel dos Estados Unidos: se como guardião da ordem internacional ou como império incapaz de romper o ciclo permanente da guerra.