Atitude Popular

“Só existe pobreza onde não há democracia”

Rafael dos Santos da Silva, professor da Universidade Federal do Ceará, defende que a pobreza é um fenômeno produzido por escolhas políticas, não um destino individual, e que sua redução depende de ampliar a cidadania e aprofundar a democracia. A conversa foi ao ar no Programa Café com Democracia, apresentação de Luiz Regadas, em transmissão da TV Atitude Popular

No centro da entrevista, o livro Cartas marginais, sobre a pobreza e a democracia, em pré-lançamento pela editora Escola Cidadã. A obra reúne 17 textos que desdobram achados de sua tese doutoral, com linguagem voltada ao público amplo. Manfredo Oliveira assina o prefácio. Rafael explica que decidiu transformar a pesquisa acadêmica em textos curtos e acessíveis, mantendo rigor analítico sem barreiras desnecessárias

Rafael critica as leituras que culpabilizam indivíduos. “A pobreza é um cinismo por si só, ela só existe por uma determinação política”, afirma, lembrando correntes culturalistas que responsabilizam os pobres por sua condição. Em contraposição, sustenta a relação direta entre estrutura democrática e dignidade material. “Só existe pobreza no espaço onde não há democracia”, diz, associando democracia a exercício de cidadania real, com participação, políticas redistributivas e instituições responsivas

O professor distingue crescimento de desenvolvimento. Crescimento, segundo ele, é aumento de riqueza agregada, desenvolvimento é distribuição e capacidade de transformar riqueza em direitos. “O modelo que temos precisa de crise para se alimentar”, avalia, ao comentar a lógica de acumulação e os limites ambientais do crescimento infinito. Como síntese, retoma um título de capítulo seu, desenvolvimento não está em crise, ele é a crise, para mostrar que a retórica do progresso pode normalizar a concentração e a exclusão

A crítica se estende à democracia liberal quando reduzida à troca periódica de governantes e subordinada ao mercado. Rafael recorre à imagem dos dentes da democracia liberal para indicar a violência seletiva que emerge quando interesses econômicos são contrariados. Defende aprofundamento democrático em níveis institucional, participativo e comunitário, com fortalecimento de políticas públicas e controle social

Na dimensão internacional, contrapõe o gasto militar à fome global. “Ano passado foram gastos 2,7 trilhões de dólares em guerras no mundo, nós precisamos de 140 bilhões de dólares para acabar com a fome de 800 milhões de pessoas”, cita, para ressaltar prioridades distorcidas. Para ele, conflitos internos também dialogam com a desigualdade. “Os conflitos internos têm correlação direta com o grau de pobreza”, observa, lembrando que vulnerabilidade, fome e desfiliação social alimentam o recrutamento por organizações criminosas

Sobre saídas, Rafael aponta dois vetores, políticas robustas de redução da pobreza e mobilização social permanente. “Um respirador para a democracia é povo na rua”, resume. Segundo ele, governos democráticos devem suportar e estimular a pressão popular por direitos, já que “democracia é como panela de pressão, só funciona em alta temperatura”, frase que recupera de Frei Betto para defender participação ativa

O livro, em pré-venda no site da editora Escola Cidadã, traz capítulos como o cinismo da pobreza, a queda de Ícaro, a democracia hackeada e o moinho de gastar gente. A capa reproduz a escultura do Homem Sem Teto, presente do Papa Francisco à catedral do Rio de Janeiro, imagem escolhida por traduzir a urgência ética do tema. Rafael informa que o acompanhamento do lançamento pode ser feito em seu Instagram, CMA Rafael, e antecipa que prepara nova obra na mesma linha de divulgação crítica

Serviço
Cartas marginais, sobre a pobreza e a democracia, autor, Rafael dos Santos da Silva, professor da UFC em Crateús, editora Escola Cidadã, 17 textos, prefácio de Manfredo Oliveira, pré-venda no site da editora

📺 Programa Café com Democracia
📅 De segunda à sexta
🕙 Das 7h30 às 8h
📺 Ao vivo em: https://www.youtube.com/TVAtitudePopular
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