Atitude Popular

Sostenes nega ser mensageiro de Bolsonaro nos EUA e admite tensão com Eduardo

Da Redação

Em entrevistas e contatos públicos, o deputado Sostenes afirma que não atuou como “garoto-recado” do ex-presidente em viagens aos EUA e reconhece desgaste na relação com Eduardo Bolsonaro, num momento de divisão na base bolsonarista.

O deputado federal Sostenes Cavalcante (PL) negou publicamente ter atuado como mensageiro político para o ex-presidente Jair Bolsonaro em interlocuções realizadas nos Estados Unidos e admitiu que há tensão entre ele e o deputado Eduardo Bolsonaro. As declarações surgem em meio a um momento de fragmentação na base conservadora, quando diferentes alas discutem estratégias para a sobrevivência política do núcleo bolsonarista diante de investigações e da preparação do calendário eleitoral de 2026.

Sostenes procurou distanciar-se de versões que o apresentaram como emissário informal de pautas controversas, políticas ou de negociação no exterior. Segundo o parlamentar, suas viagens e contatos foram de caráter institucional ou pessoal, e não se traduziram em ordens ou acordos negociados em nome de Jair Bolsonaro. Ao reconhecer desgaste com Eduardo, ele buscou, entretanto, deixar claro que divergências internas não equivalem necessariamente a um rompimento definitivo com o projeto político que congrega a direita mais alinhada ao ex-presidente.

A confusão sobre o papel de intermediários ganhou força nas últimas semanas, quando atos, declarações e agendas nos Estados Unidos foram interpretados por segmentos do bolsonarismo como tentativas de exercer influência externa sobre pautas internas, como propostas de anistia, revisões de dosimetria penal e articulações jurídicas. Para líderes pragmáticos da base, a circulação de mensagens não oficiais alavancadas em solo estrangeiro tem o potencial de atrapalhar costuras políticas no Congresso e de gerar desgaste público que complica trocas de bastidor.

A posição de Sostenes reflete uma tensão recorrente no campo conservador: há uma ala que defende acordos negociados e recuos táticos para preservar espaços institucionais e eleitorais; e outra, mais radical, que privilegia confrontos públicos e pautas maximalistas — entre elas a insistência em anistias amplas que, na avaliação de parlamentares moderados, não têm viabilidade no Congresso. O equilíbrio entre essas correntes é apontado como decisivo para a capacidade do bolsonarismo de se reorganizar e disputar 2026 com unidade.

No centro do debate, aparecem riscos práticos: posturas consideradas intransigentes por figuras como Eduardo Bolsonaro podem isolar interlocutores externos e tornar mais difícil costurar acordos internos com partidos do Centrão, com governistas e com parte do empresariado. Já os que defendem linha dura argumentam que recuos enfraquecem a base eleitoral e traem compromissos políticos com apoiadores incondicionais.

Além do aspecto político, há também preocupação com o impacto narrativo. Em um momento em que a imagem pública do grupo está sob escrutínio — por processos, condenações e denúncias — episódios de disputa interna ou mensagens trocadas no exterior são imediatamente explorados pela imprensa e por adversários, ampliando o custo reputacional. Por isso, aliados mais pragmáticos têm tentado mediar conflitos e realinhar prioridades para não perder espaço no eleitorado.

A negação de Sostenes e seu reconhecimento das tensões com Eduardo mostram ainda que o bolsonarismo vive uma fase de reavaliação: ajustes de estratégia, recomposição de lideranças e negociações com outros atores políticos serão determinantes nos próximos meses. O desfecho desta disputa interna tem potencial para influenciar tanto o ritmo das iniciativas parlamentares que favorecem a base quanto o desenho das candidaturas e alianças para as eleições de 2026.