Da Redação
Em 2022, Tarcísio de Freitas foi vendido ao país como a nova face “técnica” da direita — o gestor supostamente racional que sucederia ao bolsonarismo caótico, mantendo a agenda neoliberal sem o verniz ideológico extremista. Dois anos depois, a promessa se desfaz. O governador de São Paulo tornou-se uma figura politicamente apagada, administrativamente inerte e ideologicamente desorientada, que não inspira confiança nem entre os grupos empresariais que o lançaram, nem entre as bases bolsonaristas que o elegeram.
O que se vê em 2025 é um Tarcísio isolado: sem carisma, sem projeto e sem rumo — um tecnocrata hesitante que tenta agradar a todos e acaba descontentando todos.
1. O mito do “gestor eficiente” ruiu
A aura de eficiência construída em torno de Tarcísio durante o governo Bolsonaro era, desde o início, mais marketing do que mérito. Sua passagem pelo Ministério da Infraestrutura foi marcada por obras reembaladas e privatizações de alto custo público. Em São Paulo, esse discurso desmoronou diante da incapacidade de entregar resultados concretos.
Projetos estratégicos — como o trem Intercidades, o VLT do ABC e as concessões rodoviárias — seguem empacados em promessas e estudos de viabilidade. Enquanto isso, a máquina pública estadual é corroída pela paralisia técnica e pela submissão política a interesses privados.
Na prática, o governo Tarcísio virou uma extensão civil do bolsonarismo sem farda, sem a energia da militância e sem a racionalidade administrativa prometida.
2. Um líder sem voz, um governo sem narrativa
Tarcísio nunca conseguiu formular uma narrativa própria. Quando tenta ser o “gestor pragmático”, irrita os bolsonaristas raiz. Quando flerta com o liberalismo, provoca desconfiança nas bases evangélicas e conservadoras. E quando acena ao empresariado, exibe um amadorismo político que expõe sua falta de repertório e instinto de poder.
A comunicação do governo paulista é errática: ora tenta se apresentar como vitrine de modernidade, ora como baluarte moralista. Nenhum dos dois papéis convence. O resultado é um governador sem identidade e sem discurso, refém das circunstâncias e dos humores de Brasília.
3. As elites perderam a fé
O grande erro estratégico de Tarcísio foi acreditar que o apoio das elites econômicas e midiáticas era duradouro. Em 2025, o empresariado paulista já percebe que o governador não é o “novo Doria” nem o “novo Alckmin”: é um gestor tímido, com baixa capacidade de articulação e sem musculatura política para disputar o centro nacional.
Os grupos financeiros e industriais, que antes o viam como o nome ideal para 2026, migraram para outras apostas mais previsíveis e cosméticas — como governadores de perfil midiático ou políticos com maior capacidade de diálogo institucional.
Tarcísio perdeu o capital simbólico que o fez parecer uma alternativa civilizada ao bolsonarismo. Para o empresariado, ele não representa eficiência; para a direita ideológica, ele não representa lealdade; e para o eleitor médio, ele simplesmente não representa nada.
4. Subserviência e medo: a política do silêncio
Tarcísio de Freitas é um homem politicamente dominado pelo medo: medo de contrariar Bolsonaro, medo de perder apoio das igrejas, medo de desagradar os empresários, medo de ser esquecido. Esse medo o transformou num político de gestos tímidos e falas calculadas — um governador de gabinete, não de governo.
Em público, evita temas polêmicos; em privado, hesita em tomar decisões que poderiam lhe dar autoridade.
Ao contrário de líderes que transformam crises em força política, Tarcísio se esconde delas. Seu governo é uma sucessão de recuos, adiamentos e notas oficiais.
5. São Paulo sem rumo: gestão de marketing e paralisia real
A realidade nas ruas e nos cofres do estado contrasta com a retórica de modernização:
- Infraestrutura urbana: obras paradas e contratos contestados.
- Educação: programas tecnológicos ineficazes e cortes orçamentários.
- Segurança pública: aumento da violência letal e da percepção de insegurança.
- Economia: crescimento pífio e fuga de investimentos estratégicos para outros estados.
A administração paulista virou um laboratório de improvisos, conduzida por secretários que não dialogam entre si e uma cúpula política preocupada apenas em manter aparências até 2026.
6. A elite não aposta em quem não aposta em si
Os sinais são claros: colunistas de mercado, empresários e banqueiros já deixaram de citar Tarcísio como possível presidenciável. Sua imagem perdeu força e carisma — e sem carisma, não há política possível.
Os partidos de direita e centro-direita tratam o governador com desdém educado: reconhecem sua lealdade institucional, mas o veem como fraco, hesitante e desprovido de ambição real. Até o bolsonarismo, que antes o celebrava como sucessor natural, o considera um corpo estranho — disciplinado demais para a guerra cultural, mas desorganizado demais para o poder econômico.
Tarcísio virou, em essência, o que sempre foi: um tecnocrata deslocado tentando fingir que entende o jogo político.
7. 2026: o fim do sonho presidencial
Se havia algum plano de Tarcísio para disputar o Planalto em 2026, ele se dissolveu. A direita brasileira busca nomes que consigam unir discurso, presença e comando — atributos que o governador não demonstra possuir.
Sem base social, sem elo emocional com o eleitor e sem respaldo das elites, Tarcísio tende a encerrar seu mandato como começou: um gestor improvisado, refém das forças que o criaram e que agora o abandonam.
Conclusão: o vazio no centro da política paulista
O caso Tarcísio de Freitas é o retrato de um erro de leitura coletiva — de um sistema político que confundiu tecnocracia com liderança e eficiência com carisma.
Em 2025, o governador de São Paulo é a metáfora viva de uma elite que quis fabricar um “presidenciável” em laboratório e acabou criando um administrador sem alma, sem narrativa e sem futuro político.
São Paulo segue governada por um homem que não inspira, não decide e não sonha. E o país já percebeu: Tarcísio é o político certo para um tempo que já passou — um burocrata do pós-bolsonarismo, sem lugar no Brasil real de 2026.