Atitude Popular

Tarifaço de Trump ameaça Ceará

Ex-deputado denuncia sabotagem bolsonarista, defende soberania nacional e detalha impacto da guerra tarifária nas cadeias produtivas do estado

Da Redação

O impacto do tarifaço de Donald Trump sobre o Ceará foi o tema central da entrevista concedida por Denis Bezerra ao programa Democracia no Ar, da TV Atitude Popular. Advogado, titular da Secretaria Especial das Relações Federativas do Governo do Estado e ex-deputado federal, Denis denunciou a sabotagem promovida por setores bolsonaristas, criticou a postura do Congresso diante da crise internacional e alertou para os efeitos da guerra tarifária sobre a economia local.

“É inconcebível que um deputado brasileiro vá aos Estados Unidos comemorar sanções contra o seu próprio país”, afirmou, referindo-se ao deputado Eduardo Bolsonaro, que declarou publicamente trabalhar para impedir qualquer negociação entre os governos brasileiro e norte-americano. Segundo o ex-parlamentar, esse tipo de conduta fere diretamente os interesses do povo brasileiro e evidencia uma tentativa de sabotagem política e econômica.

A medida de Trump, que impõe sobretaxa de até 50% a produtos brasileiros, atingiu de maneira particularmente sensível o Ceará. Apesar da inclusão de mais de 700 itens na lista de exceções, o estado permanece como um dos mais afetados do país, devido à forte dependência do comércio exterior, sobretudo com os Estados Unidos. Entre os produtos cearenses atingidos, Denis destacou o pescado, responsável por cerca de 50% das exportações do setor. “Estamos falando de quase 100 mil pessoas envolvidas diretamente ou indiretamente na cadeia produtiva do pescado, que agora estão em risco”, alertou.

Para mitigar os impactos imediatos, o governo federal avalia a aquisição dessa produção para uso interno, como merenda escolar. Mas a medida é emergencial e, segundo Denis, não resolve o problema estrutural da perda de mercado internacional. “Trocar um mercado como o dos Estados Unidos não é como trocar um produto na prateleira. Leva tempo, exige negociação, certificação sanitária, adaptação logística. As cooperativas e pequenas cadeias produtivas podem ser dizimadas se não houver reação rápida”, explicou.

Durante a entrevista, Denis Bezerra elogiou a postura do vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, que tem liderado as tentativas de negociação com os norte-americanos desde abril. “Ele é um articulador respeitado, calmo, experiente. Representa o Brasil com dignidade e responsabilidade. Mas não se dialoga com quem se recusa a conversar”, disse. Ele também criticou a manipulação ideológica da medida, afirmando que a retórica de defesa da “liberdade de expressão” serve apenas como cortina de fumaça para justificar interesses econômicos e geopolíticos.

“O tarifaço é um gesto de protecionismo disfarçado. Ele responde à ascensão dos BRICS, ao fortalecimento da China e à articulação por uma nova moeda de referência global. Os EUA se sentem ameaçados e tentam retaliar. E usam o Brasil como alvo, aproveitando o embate político interno e a atuação de sabotadores locais”, avaliou.

A entrevista também abordou a reação popular e institucional à ofensiva trumpista. Denis apoiou a mobilização convocada em defesa da soberania nacional e criticou o uso político da tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 por setores da extrema direita. “Tentam anistiar quem planejou crimes, inclusive assassinatos. Isso é inaceitável. O que está em jogo não é apenas o presente, mas o futuro do país e da nossa democracia”, afirmou.

Relembrando sua trajetória no Congresso, Denis foi saudado por internautas por sua atuação em defesa do Fies, especialmente durante a pandemia. Ele apresentou o projeto que suspendeu temporariamente as dívidas dos estudantes, com medidas que incluíam descontos, renegociação e liberação de crédito estudantil. “Educação é liberdade. O diploma é um patrimônio que ninguém pode tirar. E não pode ser transformado em sentença de endividamento eterno”, defendeu.

Por fim, Denis confirmou sua pré-candidatura à Câmara Federal em 2026 e reforçou a importância da consciência política da população. “Deputado não é despachante de emenda. É legislador, fiscal, representante do povo. Precisamos de um Congresso comprometido com a soberania, com a democracia e com os interesses reais da população. O resto é cortina de fumaça e espetáculo para enganar eleitor”, concluiu.

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