Atitude Popular

Tarifaço de Trump derruba imagem dos EUA no Brasil, diz Ipsos‑Ipec

Da Redação

Pesquisa Ipsos‑Ipec revela que 75% dos brasileiros veem o “tarifaço” como ato político; maioria defende buscar novos parceiros como China e União Europeia; imagem dos EUA piorou para 38%.

A mais recente pesquisa do Instituto Ipsos-Ipec, realizada entre 1º e 5 de agosto em 132 municípios brasileiros com 2 mil entrevistados (margem de erro de 2 pontos percentuais e nível de confiança de 95%), revelou um forte impacto político e simbólico do “tarifaço” anunciado pelo presidente Donald Trump – uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros – sobre a percepção pública dos Estados Unidos no Brasil.

Segundo o levantamento, 75% dos entrevistados atribuem ao aumento de tarifas uma motivação política, enquanto apenas 12% o veem como ação comercial, e outros 5% avaliam que se trata de ambas; 8% não souberam opinar. Reflexo direto dessa percepção foi o enfraquecimento da imagem dos EUA: antes do anúncio, 48% classificavam a imagem americana como “ótima” ou “boa”, enquanto apenas 15% tinham opinião negativa. Após o tarifaço, 38% afirmaram que a imagem dos Estados Unidos piorou, enquanto somente 6% notaram melhora e 51% não observaram mudanças.

Sobre a repercussão interna, a população está dividida quanto a uma retaliação imediata: 49% aprovam que o Brasil responda com tarifas equivalentes sobre produtos norte-americanos, contra 43% que discordam. Esse apoio à retaliação é mais evidente entre eleitores de Lula (61%), jovens de 16 a 24 anos (55%), moradores do Norte e Centro-Oeste (58%) e pessoas com ensino superior (53%). Já os que se opõem são majoritariamente eleitores de Bolsonaro (56%), moradores da região Sul (52%), periferias (52%) e evangélicos (50%).

Fora do campo tarifário, 68% dos brasileiros defendem que o país busque acordos com outros parceiros internacionais, como China e União Europeia; 60% também acreditam que o Brasil pode se encontrar mais isolado globalmente em virtude do embate comercial com os Estados Unidos.

Além disso, dados recentes destacam que metade dos brasileiros já via as políticas comerciais de Donald Trump como prejudiciais antes mesmo desse aumento substancial de tarifas. Um levantamento anterior feito entre 3 e 7 de abril mostrou que 50% dos entrevistados consideravam as políticas de Trump adversas à economia brasileira, com 25% respondendo “não afeta” e outros 25% “não sabem ou não responderam”. A percepção negativa também ultrapassa a esfera partidária, unindo tanto eleitores de Lula como de Bolsonaro.

Analistas internacionais também têm destacado os efeitos desta estratégia tarifária como instrumento político. Reportagem da revista The Economist classificou as tarifas como mais “latido do que impacto real”, dado que várias exportações estratégicas do Brasil, como aviões, minério e suco de laranja, foram isentas. Em artigo recente do The Washington Post, publicado em 7 de agosto de 2025, observa-se que as tarifas foram usadas por Trump como ferramenta geopolítica — especialmente em retaliação ao processo contra Bolsonaro —, e que a reação brasileira, baseada em diversificação de parceiros e certa resiliência econômica, tem fortalecido a imagem de Lula internamente.

Esse cenário coloca o Brasil em uma encruzilhada: com uma opinião pública cada vez mais crítica em relação aos Estados Unidos e mais pragmática na busca por novas frentes diplomáticas e comerciais, o país enfrenta desafios e oportunidades na redefinição de sua política externa e na consolidação de sua autonomia econômica.