Trump é acusado de usar a guerra tarifária como arma de especulação global para enriquecer aliados e fundos bilionários — com reverberações também no Brasil.
Da Redação
Acordos secretos, manipulação de mercado e uso político das tarifas: o trumpismo é acusado de transformar a economia mundial em um cassino onde poucos lucram e povos inteiros pagam a conta. Um esquema internacional de especulação cambial e insider trading está sob investigação nos EUA e no Brasil — e pode se tornar um dos maiores escândalos financeiros da década.
Uma guerra com hora marcada para lucrar.
Em abril de 2025, uma postagem de Donald Trump no Truth Social chamou atenção até mesmo de seus críticos mais experientes. Em letras garrafais, o ex-presidente norte-americano e então candidato à reeleição escreveu: “THIS IS A GREAT TIME TO BUY!!! DJT” — sugerindo a seus seguidores que investissem no mercado de ações. Horas depois, Trump anunciou uma suspensão de 90 dias nas tarifas globais impostas semanas antes, provocando uma valorização imediata nas bolsas de valores de Nova York a São Paulo.
O caso não foi ignorado. Parlamentares democratas, liderados por Adam Schiff, acusaram Trump de manipulação deliberada de mercado e uso de informação privilegiada, pedindo uma investigação por insider trading. A procuradora-geral de Nova York, Letitia James, abriu um inquérito para investigar se aliados do ex-presidente lucraram antecipadamente com a valorização de ações após o anúncio da trégua tarifária, utilizando a poderosa lei Martin Act, uma das mais rígidas contra crimes de mercado dos EUA The Guardian, 2025.
Segundo o Business Insider, há indícios de que consultores e membros do círculo íntimo de Trump operaram no mercado financeiro antes dos anúncios oficiais, levantando suspeitas sobre um esquema coordenado de especulação de alta escala, alimentado por decisões políticas aparentemente arbitrárias — mas planejadas com precisão cirúrgica para beneficiar certos agentes privados Business Insider, 2025.
No Brasil, a farra cambial.
As consequências dessa estratégia reverberaram com força no Brasil. Com o anúncio do chamado “tarifaço” contra o país, feito por Trump em março, o real despencou frente ao dólar. Dias depois, com a trégua temporária anunciada e o mercado global em euforia, a moeda brasileira se recuperou parcialmente.
A súbita volatilidade, aliada ao timing perfeito das medidas, chamou a atenção da Advocacia-Geral da União (AGU), que pediu investigações à Polícia Federal e à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre possíveis movimentações irregulares no mercado de câmbio. A suspeita: investidores privilegiados teriam lucrado bilhões especulando com a oscilação do real, sabendo antecipadamente da mudança nas tarifas impostas por Washington CNN Brasil, 2025.
A operação teria envolvido fundos internacionais e intermediários locais, que atuaram simultaneamente na bolsa brasileira e no mercado futuro de dólar. “Estamos diante de um caso de delito financeiro internacional com impactos diretos na soberania econômica do país”, afirmou uma fonte da AGU sob anonimato.
Wall Street no comando.
O pano de fundo desse escândalo é um velho conhecido: a promíscua relação entre Wall Street e o trumpismo. Segundo reportagem da Wired, o ex-secretário do Comércio de Trump, Howard Lutnick — ex-CEO do banco de investimentos Cantor Fitzgerald — atuou nos bastidores como defensor das tarifas, enquanto o banco em que trabalhou apostava contra a devolução dessas mesmas tarifas, lucrando com as reviravoltas do próprio governo Trump Wired, 2025.
Além disso, as tarifas aplicadas a países estratégicos da Ásia e América Latina criaram oportunidades únicas para fundos bilionários especularem contra moedas locais, comprar commodities em baixa e revender com lucros astronômicos após o anúncio de trégua. Trata-se de uma verdadeira guerra de informação com data marcada, usada como alavanca para enriquecer os mesmos grupos que sustentam financeiramente a extrema-direita global.
O ethos do trumpismo: o cassino geopolítico.
O episódio escancara a essência do trumpismo enquanto projeto de poder: transformar o Estado em instrumento de especulação, privilegiando uma elite financeira sem qualquer compromisso com estabilidade ou soberania. O uso de tarifas não obedece a uma lógica diplomática ou comercial, mas sim à lógica da volatilidade induzida. E essa volatilidade, como mostram os dados, enriquece poucos e penaliza milhões.
Ao manipular expectativas, gerar instabilidade calculada e anunciar reviravoltas sob medida, Trump transformou as tarifas em uma arma de guerra financeira — uma espécie de cassino geopolítico, no qual seus aliados entram pela porta da frente com fichas infinitas, e os povos do Sul Global saem pela porta dos fundos, pagando a conta.
Um crime sem algemas (ainda).
Embora as investigações estejam em curso nos Estados Unidos e no Brasil, o histórico de impunidade de crimes financeiros é desanimador. A fusão entre política, mercado e algoritmos de alta frequência tornou as operações praticamente invisíveis para o cidadão comum — mas devastadoras em seus efeitos reais sobre preços, moedas, empregos e alimentos.
O que está em jogo, neste caso, não é apenas a legalidade de uma ou outra operação de Trump, mas sim a legitimidade do sistema financeiro internacional, que vem sendo cooptado por líderes autoritários e interesses corporativos para operar como uma máquina de pilhagem planetária.
Conclusão: do saque ao colapso.
A guerra tarifária de 2025 está se revelando, retrospectivamente, como um instrumento de poder, especulação e destruição econômica controlada. Não se trata de proteção econômica, mas de um plano deliberado de saque financeiro disfarçado de estratégia nacionalista.
Se não houver punição exemplar e uma reforma estrutural nos mecanismos de regulação internacional, o mundo continuará refém de líderes que fazem do planeta um tabuleiro — e da crise, um negócio lucrativo.