Atitude Popular

Thiago Ávila narra torturas, fome e sobrevivência após sequestro da Flotilha

Da Redação

Capturado em águas internacionais durante missão humanitária à Gaza, o ativista brasileiro Thiago Ávila relata condições degradantes, tortura psicológica e alimentares na detenção, além da resistência física e moral ao lado de outros sequestrados.

Thiago Ávila, ativista brasileiro integrante da missão humanitária Global Sumud Flotilla, viveu semanas de horror após o sequestro da embarcação por forças israelenses em águas internacionais. Em entrevista exclusiva ao nosso portal, ele detalha desde os momentos iniciais da operação militar até a sobrevivência nas celas, narrando fome, torturas verbais e psicológicas, isolamento e atos de resistência diária.

Segundo Thiago, tudo começou com uma abordagem abrupta entre os dias 1º e 2 de outubro: “Eles queriam nos matar”, afirma, lembrando que os soldados dispararam sobre a embarcação, usaram granadas de efeito moral e embarcaram com violência. Tiros foram feitos para o mar, e tripulantes tentaram reagir — mas foram rendidos por uma força superior e organizada.

No momento em que foi levado, Thiago foi algemado, vendado e submetido a choques psicológicos intensos: soldados gritando ordens, ameaças de morte e humilhações constantes alimentavam a atmosfera de pânico. Segundo seu relato, ele e outros presos foram mantidos em celas extremamente pequenas e barulhentas, com privação quase total de luz natural, água e alimentação adequada.

Durante os dias de detenção na prisão de segurança máxima Ketziot, no sul de Israel, Thiago conta que ele e os demais mantiveram greve de fome em protesto às condições degradantes. “Ficamos sem comer por dias; quem desmaiava, era arrastado para fora da cela e forçado a ingerir líquidos”, recorda. Ele relata que muitos foram submetidos a interrogatórios sob coação, ameaças de violência corporal e vigilância 24 horas.

A tortura psicológica, ele destaca, foi tão intensa quanto o sofrimento físico. Soldados faziam rachas de luz, ruídos estridentes, manipulação de calor e frio, e humilhações verbais para quebrar a moral dos detidos. Thiago afirma que o objetivo era intimidar e subjugar — mas que o espírito de luta entre os presos era maior. “Nos apoiávamos mutuamente; sabíamos que resistir era nossa única redenção.”

Alguns momentos são sangrados na memória dele: testemunhar companheiros sendo retirados com sangramentos, cuidados como presos de guerra e ainda assim expressando fé e esperança. “Eles tentavam nos apagar, mas não contavam com nossa dignidade”, afirma.

Quando finalmente foram libertados, após quase sete dias, Thiago conta que muitos precisaram ser hospitalizados em estado severo de desnutrição, desidratação e ferimentos. Ele se recorda que chegou a pesar poucos quilos além de sua condição normal.

Sua narrativa reforça que o episódio não foi apenas um confronto de poder militar, mas um ataque deliberado a civis em missão humanitária. Para Thiago, a operação violou o Direito Internacional Marítimo, estatutos de proteção a civis e tratados de guerra — e seu relato é, para ele, um testemunho de que os direitos humanos não podem ser sacrificados em nome de poderio militar.

A repercussão de seu depoimento já mobiliza a sociedade civil brasileira: entidades de direitos humanos exigem investigações sérias, responsabilização dos oficiais envolvidos e pressão diplomática firme do governo brasileiro junto a países e organismos internacionais. Parlamentares já protocolaram pedidos de audiência pública, moções de repúdio e até CPI para apurar o papel de autoridades israelenses e mecanismos de segurança internacional.

Para Thiago Ávila, seu relato não é lamentação, mas convocação: “Quem nos torturou queria que ficássemos silenciados. Hoje, cada palavra é resistência — e não vamos sossegar enquanto Gaza for apagada.”