Atitude Popular

Trump abre frentes de guerra contra o BRICS e o Sul Global

Da Redação

Na véspera de cúpulas financeiras e sob uma nova onda tarifária e militar, Donald Trump arma um cerco econômico, diplomático e até cinético que mira o BRICS e países do Sul Global — de tarifas punitivas a ataques no Caribe, passando por sanções e pressão institucional.

O objetivo é explícito: enfraquecer a autonomia dos países emergentes, conter o avanço da desdolarização e reinstaurar uma ordem unipolar centrada na hegemonia norte-americana. O resultado, no entanto, pode ser o oposto — unir e fortalecer o BRICS, transformando o Sul Global em um bloco de resistência global à coerção ocidental.


1. Tarifa como arma de dominação

A Casa Branca reeditou a velha fórmula do tarifismo coercitivo, impondo sobretaxas de até 10% sobre países alinhados ao BRICS. As medidas atingem cadeias produtivas estratégicas, exportações de energia, fertilizantes e produtos industriais.

O impacto é duplo: no plano interno, os consumidores e empresas norte-americanas arcam com o custo; no plano externo, a mensagem é clara — quem tentar reduzir sua dependência do dólar será punido economicamente.

Economistas alertam que a política tarifária de Trump não é isolada, mas parte de um projeto maior de cerco financeiro e comercial ao eixo multipolar liderado por China, Rússia, Índia e Brasil.


2. Diplomacia da intimidação

Trump transformou sua política externa em um espetáculo de humilhação pública. Em discursos recentes, voltou a classificar o BRICS como um “clube de países antiamericanos” e prometeu “tratar com força quem desafiar o sistema ocidental”.

O Brasil, como uma das lideranças políticas e diplomáticas do grupo, tornou-se alvo direto. Fontes em Washington afirmam que o governo norte-americano estuda medidas específicas contra exportações agrícolas brasileiras, como forma de pressão.

Ao mesmo tempo, o presidente norte-americano tenta isolar diplomática e financeiramente a África e a América Latina, usando programas de crédito e acordos comerciais como instrumentos de chantagem.


3. Sanções e lawfare econômico

Nos bastidores, o Departamento do Tesouro e o Departamento de Estado ampliam o uso de sanções unilaterais, travando contas e bloqueando operações de bancos e empresas que cooperem com países sancionados pelos EUA.

As novas medidas incluem restrições ao uso do SWIFT, controle de exportações tecnológicas e tentativas de sufocar a Nova Arquitetura Financeira do BRICS, que busca substituir o FMI e o Banco Mundial como fontes alternativas de crédito.

Analistas classificam a ofensiva como uma guerra financeira sem precedentes, cujo objetivo é impedir que o BRICS avance em sua proposta de independência monetária e digital.


4. Pressão sobre organismos multilaterais

A retórica de Trump reverberou nos corredores do FMI e do Banco Mundial, que voltam a ser instrumentalizados como armas políticas. Ministros de países emergentes relatam um clima de ameaça velada: quem criticar as sanções ou apoiar a desdolarização pode perder acesso a linhas de crédito e programas de alívio da dívida.

A ofensiva gera um paradoxo: o sistema criado para promover estabilidade financeira global agora é usado para punir governos que buscam autonomia.


5. O front militar: o Caribe e a América do Sul

Enquanto a guerra econômica se intensifica, o Pentágono amplia presença militar no Caribe e no norte da América do Sul. Bases temporárias, navios e drones de vigilância operam sob a justificativa de “combate ao narcotráfico”, mas analistas enxergam um ensaio de contenção militar da Venezuela, país estratégico para o BRICS e para a integração energética da América Latina.

Fontes militares venezuelanas e cubanas relatam sobrevoos próximos de suas zonas marítimas e uma retórica cada vez mais agressiva vinda de Washington. O governo de Nicolás Maduro classificou as ações como “provocações imperiais de alto risco”.

Essa militarização progressiva indica que o conflito já ultrapassa o campo econômico, e abre espaço para um tipo híbrido de guerra, onde diplomacia, propaganda e dissuasão militar caminham lado a lado.


6. O que Trump quer desmontar

Trump mira diretamente quatro eixos da agenda do BRICS:

  1. A desdolarização e os sistemas de pagamento regionais;
  2. A criação de cadeias produtivas próprias, que escapem da dependência tecnológica ocidental;
  3. A integração energética e de infraestrutura entre países do Sul;
  4. A governança digital soberana, com controle nacional sobre dados e inteligência artificial.

Esses projetos, que simbolizam o avanço do mundo multipolar, são interpretados pela Casa Branca como ameaças diretas ao domínio norte-americano sobre a economia global.


7. O Sul Global reage

O endurecimento de Trump teve o efeito inverso do pretendido: aproximou os países do Sul Global.

  • A Índia anunciou novos investimentos no Banco do BRICS.
  • A China intensificou a troca de petróleo e gás com países africanos fora do sistema do dólar.
  • O Brasil lidera a diplomacia de resistência, pregando cooperação Sul-Sul e denunciando o “neocolonialismo tarifário” dos EUA.
  • A África do Sul convocou reunião de emergência de chanceleres do bloco para discutir resposta coletiva às tarifas.

Líderes latino-americanos e africanos agora falam em “autodefesa econômica coletiva” — conceito que até pouco tempo parecia inviável.


8. Efeitos colaterais internos

Nos Estados Unidos, o próprio empresariado começa a sentir o impacto: cadeias produtivas mais caras, inflação de bens importados e perda de competitividade global.
O que Trump apresenta como uma “guerra pela supremacia americana” pode transformar-se em boomerang econômico, corroendo o poder de compra doméstico e acelerando a fuga de capitais para o Oriente.

Economistas preveem que, se mantida a escalada tarifária, os EUA poderão enfrentar recessão técnica em 2026 — justamente o cenário que o BRICS esperava explorar para fortalecer suas alianças alternativas.


9. A nova doutrina: guerra assimétrica de 2025

Trump inaugurou uma nova doutrina de coerção global: a guerra assimétrica contra o Sul.
Ela não precisa de invasões formais nem de declarações bélicas. Opera por tarifas, sanções, bloqueios, lawfare, propaganda e presença militar estratégica.

O efeito é devastador: sufoca economias, sabota políticas de desenvolvimento, intimida governos eleitos e reconfigura cadeias globais de poder. Mas também expõe a fragilidade do modelo unipolar, incapaz de manter hegemonia sem recorrer à força.


10. Conclusão: o mundo em bifurcação

O planeta entra em uma era de bifurcação geopolítica. De um lado, Trump e o Ocidente tentam restaurar um império em decadência. Do outro, o BRICS e o Sul Global constroem alternativas de soberania e cooperação.

O que está em disputa não é apenas comércio, mas o modelo civilizatório: entre a dominação financeira e a autodeterminação, entre o controle imperial e a multipolaridade.

Trump aposta na intimidação. O BRICS, na integração.
A história decidirá qual dessas estratégias moldará o século XXI — mas uma coisa é certa: o Sul Global não voltará ao silêncio.