Da Redação
Em 27 de julho de 2025, as relações entre os EUA e o Brasil estão em rota de colisão após anúncio de tarifas agressivas — com impacto imediato no agronegócio e risco de escalada diplomática e legal.
Em 27 de julho de 2025, as relações entre os Estados Unidos e o Brasil atravessam o ponto mais crítico desde a redemocratização. Após meses de tensões acumuladas, o governo norte-americano liderado por Donald Trump anunciou a imposição definitiva de tarifas de 50 % sobre todos os produtos brasileiros exportados aos EUA. A medida, que entra em vigor no dia 1º de agosto, atinge duramente setores estratégicos como o agronegócio, a indústria química, a cadeia de alimentos e bebidas, além de minérios e produtos manufaturados. Trata-se de uma escalada sem precedentes, com implicações econômicas, políticas e geopolíticas de longo alcance.
A justificativa formal da Casa Branca se ancora em supostas práticas “desleais” do Brasil, mas fontes diplomáticas reconhecem que a retaliação tem natureza política: Trump quer punir o governo Lula por não apoiar publicamente o ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente envolvido em investigações por conspiração e traição. Trump chegou a declarar que o Brasil está “escravizado por burocratas globalistas” e acusou o governo brasileiro de “reprimir patriotas”. Internamente, essa retórica serve para galvanizar sua base ultranacionalista em plena corrida eleitoral.
O impacto econômico é devastador e imediato. A cotação do suco de laranja brasileiro despencou 50 % em apenas três semanas, arrastando produtores do interior de São Paulo a uma situação de desespero. Exportadores de resinas químicas e fertilizantes amargam cancelamentos de contratos que somam mais de US$ 2 bilhões, e o setor de alimentos e bebidas prevê demissões em massa até o final do trimestre. Até mesmo produtos simbólicos como o açaí sofrem: redes norte-americanas anunciaram reajustes e possível retirada do produto de seus cardápios. A guerra tarifária está afetando tanto o Brasil quanto os consumidores dos EUA — o custo de vida já sente o reflexo.
No campo diplomático, o governo brasileiro afirma ter tentado diálogo por meio de dez reuniões bilaterais e uma carta formal entregue em maio, sem retorno. A resposta dos EUA veio por uma postagem de Trump em rede social, chamando a diplomacia brasileira de “fraca e decadente”. Diante disso, o Itamaraty acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC) e aprovou no Congresso a Lei de Reciprocidade Comercial, autorizando a aplicação de medidas retaliatórias equivalentes. Celso Amorim, assessor especial da Presidência, declarou que “os EUA atravessaram uma linha vermelha” e que o Brasil não aceitará ser submetido à chantagem de potência alguma.
A crise com os EUA se insere em um contexto de reposicionamento geopolítico global. Trump firmou recentemente um acordo de redução tarifária com a União Europeia, preservando interesses euro-americanos enquanto endurece a retórica contra os BRICS. O senador Lindsey Graham chegou a sugerir tarifas de 100 % para países que mantêm relações comerciais com a Rússia, incluindo o Brasil, em clara tentativa de isolar economicamente os aliados de Moscou e Pequim.
Com a escalada, o governo Lula redobra esforços para aprofundar alianças estratégicas. A prioridade agora é acelerar acordos comerciais com China, Índia, África do Sul, Indonésia e com o Mercosul, além de fortalecer o bloco ampliado dos BRICS. Também estão em negociação iniciativas de cooperação tecnológica com a União Europeia, como forma de mitigar eventuais bloqueios norte-americanos na área digital. A possibilidade de um apagão tecnológico promovido pelos EUA — com restrições a serviços de nuvem, chips, atualizações de software e aplicativos — é tratada como ameaça real nos bastidores do Palácio do Planalto. Integrantes da inteligência brasileira admitem, sob reserva, que um eventual confisco de reservas internacionais brasileiras por bancos centrais ocidentais “poderia levar o Estado ao colapso”.
Faltando apenas quatro dias para que as tarifas entrem em vigor, o Brasil vê pouco espaço para reversão. Nos EUA, uma ação judicial movida por empresas americanas tenta barrar a medida, alegando inconstitucionalidade das tarifas sob o Ato de Poderes Econômicos Internacionais de Emergência (IEEPA). O caso está nas mãos da Suprema Corte norte-americana, que deve se pronunciar até 31 de julho. Ainda assim, mesmo que o tribunal suspenda parte das tarifas, a relação Brasil-EUA já se encontra comprometida em seu nível mais profundo desde a Guerra Fria.
Tudo indica que a crise não será apenas econômica: ela simboliza uma ruptura maior. O Brasil, ao insistir em uma política externa soberana, anti-imperialista e integrada ao Sul Global, tornou-se alvo de uma guerra híbrida multidimensional que combina sanções, desinformação, pressão tecnológica e chantagem jurídica. Como alertou um diplomata ouvido em off: “nunca tantas frentes da guerra híbrida foram abertas ao mesmo tempo, contra o Brasil. Estamos em rota de colisão com uma estrutura de dominação muito bem articulada. Se os EUA promoverem um apagão tecnológico, mantiverem as tarifas e ousarem confiscar nossas reservas, o Estado brasileiro corre risco real de ruir”.
Neste momento, o desafio do Brasil é mais do que contornar uma crise comercial. É resistir a um projeto de desestabilização estratégica que mira sua soberania, sua democracia e sua autodeterminação no século XXI.