Atitude Popular

UE avança em caminho técnico para integrar Ucrânia e Moldávia apesar do bloqueio da Hungria

Da Redação

Frustrada por um veto político de Budapeste, a União Europeia prepara “trabalho técnico por clusters” para manter o processo de adesão da Ucrânia e da Moldávia; manobra busca preservar impulso de reformas e capital político enquanto a diplomacia tenta contornar impasses jurídicos e eleitorais.

A União Europeia decidiu avançar em uma via técnica para acelerar a integração da Ucrânia e da Moldávia, mesmo diante do bloqueio formal imposto pela Hungria à abertura de capítulos de negociação. A estratégia em debate passa por iniciar trabalhos técnicos em “clusters” temáticos — pacotes legislativos e administrativos que aproximam as legislações nacionais dos padrões comunitários — sem, por ora, depender da unanimidade exigida para a abertura oficial das negociações.

O objetivo é dar continuidade ao alinhamento regulatório necessário à adesão, mantendo a credibilidade do processo e o engajamento dos países candidatos. Essa abordagem permite transferir conhecimento, testar a implementação de normas e preservar o ritmo de reformas, evitando que o veto político paralise completamente a agenda de expansão.

A oposição da Hungria é, no entanto, o principal entrave. O governo de Budapeste tem utilizado a questão como instrumento político, alegando preocupações com o tratamento de minorias húngaras em territórios fronteiriços e transformando o processo de adesão em tema de disputa interna. Essa postura vem alimentando tensões bilaterais com Kiev e complicando o consenso dentro do bloco.

Enquanto isso, a Moldávia avança com respaldo popular em direção à agenda europeia. O resultado recente de eleições reforçou o mandato pró-europeu de seu governo, o que fortalece a pressão sobre a União Europeia para acelerar o processo. Moscou, por sua vez, observa o movimento com desconfiança, já que a entrada da Moldávia na órbita de Bruxelas significaria perda de influência direta na região.

No caso ucraniano, o país concluiu a fase de “screening” — a revisão detalhada das legislações nacionais em comparação com o acervo comunitário —, considerado um marco técnico fundamental. Esse resultado mostra que Kiev cumpriu etapas essenciais, mas a efetiva abertura de capítulos depende ainda de superar o bloqueio político existente.

Dentro da União Europeia, cresce o debate sobre possíveis mudanças institucionais para reduzir o peso de vetos individuais em processos de alargamento. Uma das ideias em circulação é permitir que certos avanços técnicos sejam aprovados por maioria qualificada, e não por unanimidade. Embora complexa, essa proposta reflete a pressão de Estados-membros que defendem ampliar a integração com países do Leste Europeu e evitar estagnação.

As implicações geopolíticas são claras. Manter a Ucrânia e a Moldávia na rota de adesão enfraquece a capacidade de influência da Rússia e reforça a mensagem de que o projeto europeu continua vivo. Ao mesmo tempo, exige um equilíbrio delicado: acelerar demais pode ser interpretado como desprezo às regras e alimentar críticas internas, enquanto retardar pode minar a confiança dos candidatos e enfraquecer sua estabilidade política.

Para Kiev e Chişinău, o avanço técnico traz benefícios práticos imediatos, como a aceleração de reformas judiciais, maior segurança regulatória para investidores e acesso ampliado a fundos de pré-adesão. Entretanto, a incerteza política permanece: sem uma decisão formal que remova o veto da Hungria, a integração plena continua distante e sujeita a disputas diplomáticas.

A estratégia da União Europeia é, portanto, dupla. De um lado, preservar a credibilidade do processo para os países candidatos, reforçando o compromisso com reformas e integração gradual. De outro, gerir as tensões internas de um bloco de 27 membros em que a unanimidade ainda é regra para decisões cruciais. O caminho por clusters técnicos representa uma tentativa de conciliar pragmatismo e política, em meio a um cenário de alta pressão geopolítica.