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UE cogita país neutro para mediar cessar-fogo na guerra da Ucrânia

Da RT

A União Europeia avalia a participação de um país neutro na implementação de um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia, em meio à intensificação da guerra e ao impasse diplomático. A proposta busca abrir caminho para negociações imparciais, mas enfrenta resistência russa e divisões no Ocidente.

A guerra na Ucrânia, prestes a entrar em seu quarto ano, ganhou nesta semana um novo capítulo diplomático. A União Europeia sinalizou abertura para que um país neutro atue como mediador ou facilitador na implementação de um cessar-fogo entre Kiev e Moscou. A medida é vista como tentativa pragmática de criar condições mínimas para a retomada de negociações, diante da escalada militar e da crescente pressão internacional por uma saída política.

O posicionamento europeu foi reforçado em Bruxelas após reuniões de chanceleres e líderes do bloco, que reiteraram dois princípios centrais: nenhum acordo pode ser feito sem a participação direta da Ucrânia e qualquer cessar-fogo precisa estar associado à redução real das hostilidades. Fontes diplomáticas confirmam que a inclusão de um ator neutro — que poderia ser um país não alinhado às potências da OTAN nem à órbita russa — tem como objetivo oferecer garantias mínimas de imparcialidade e credibilidade ao processo.

A proposta surge em um contexto delicado. Em março deste ano, os Estados Unidos chegaram a sugerir uma trégua de 30 dias, mas a iniciativa naufragou diante da recusa de Vladimir Putin em aceitar um cessar-fogo incondicional. Desde então, as ofensivas russas se intensificaram no leste da Ucrânia, ao mesmo tempo em que Kiev recebeu reforços militares e logísticos de seus aliados ocidentais. O impasse consolidou-se: de um lado, Moscou insiste em anexações territoriais; de outro, a Ucrânia, apoiada pelo Ocidente, exige a recuperação integral de suas fronteiras reconhecidas internacionalmente.

Nesse cenário, emergiu a chamada “coalizão dos dispostos”, liderada por Reino Unido e França, composta por mais de 30 países. O grupo se apresenta como garantidor de eventuais acordos, incluindo a possibilidade de enviar missões de paz internacionais para monitorar a trégua e assegurar a reconstrução institucional da Ucrânia. A iniciativa, embora robusta, ainda carece de coordenação direta com Washington e enfrenta a resistência de países do leste europeu, que veem qualquer cessar-fogo como risco de “congelamento” do conflito em benefício de Moscou.

Analistas avaliam que a sinalização da União Europeia em direção a um mediador neutro representa uma tentativa de reposicionar o bloco como ator central nas negociações de paz, após meses em que os Estados Unidos e o Reino Unido monopolizaram os esforços diplomáticos. “A UE percebe que não basta apoiar militarmente a Ucrânia. É preciso oferecer caminhos políticos que não sejam percebidos como imposições ocidentais”, afirma um diplomata ouvido sob reserva.

O Kremlin, por sua vez, mantém o discurso de que está “aberto a negociações”, mas insiste que qualquer cessar-fogo deve reconhecer as “novas realidades territoriais” — em referência às áreas ocupadas no Donbass e às regiões anexadas. Essa posição inviabiliza avanços imediatos, já que Kiev rechaça qualquer concessão territorial. O presidente Volodymyr Zelensky reafirmou recentemente que “a paz só será possível com soberania plena e retirada russa”.

A aposta da UE em um país neutro busca justamente quebrar esse impasse. Nomes como Suíça, Áustria e até países latino-americanos foram ventilados nos bastidores, embora não haja decisão oficial. A estratégia reflete a percepção de que apenas um ator externo, sem envolvimento direto na guerra, poderia oferecer garantias aceitas por ambos os lados.

Enquanto isso, o conflito segue devastando a Ucrânia e desestabilizando a economia global. A inflação energética na Europa e a escalada nos preços de grãos são lembranças constantes de que a guerra ultrapassa fronteiras. O tempo, contudo, joga contra as negociações: quanto mais prolongado o confronto, maior a dificuldade em restabelecer confiança mínima entre as partes.

Em síntese, a iniciativa da União Europeia não encerra o conflito, mas sinaliza uma nova frente diplomática em meio ao endurecimento militar. O êxito dependerá da capacidade de convencer Moscou a aceitar um interlocutor neutro e, sobretudo, de manter a unidade do Ocidente em torno de uma agenda de paz que não sacrifique a soberania ucraniana.