Atitude Popular

Um planeta em marcha: protestos contra o genocídio palestino explodem em outubro

Da Redação

De Roma a Barcelona, de Londres a várias cidades dos EUA, o fim de semana foi tomado por oceanos de gente pedindo cessar-fogo, libertação de reféns civis e dignidade ao povo palestino. A cada passeata, a mesma sentença: não em nosso nome.

Panorama até agora
Dois anos de guerra transformaram a causa palestina numa praça global. As ruas não se calaram — multiplicaram-se. O grito insistente costura temporadas inteiras de mobilização: vigílias de velas, assembleias estudantis, marchas de sindicatos, atos de judeus antissionistas, bloqueios criativos, boicotes culturais. Ao redor do mundo, as cidades aprenderam a grafia de uma palavra simples e impossível de confundir: vida.

O fim de semana que incendiou as capitais
Sábado amanheceu com tambores e bandeiras. Em Roma, o cortejo cobriu avenidas históricas com verde, branco, vermelho e preto — um rio humano que não pedia: exigia. O recado aos governos europeus foi direto: a diplomacia não pode continuar divorciada da ética. Na Catalunha, Barcelona reocupou a rua com uma maré de cartazes “Fim do cerco” e “Parem de bombardear civis”, alimentada pela revolta com a interceptação de uma flotilha humanitária que partira do próprio porto catalão. Em Londres, mesmo sob vigilância cerrada e clima de intimidação política, manifestantes insistiram no direito de protestar, com prisões em massa que transformaram a praça num espelho desconfortável do tempo presente. Do outro lado do Atlântico, a agenda de atos se espalhou pelo mapa americano: pontes fechadas, caminhadas silenciosas, rezas públicas, cadeias humanas em frente a prédios oficiais — e, entre elas, contingentes judaicos reafirmando que combater um genocídio é dever moral e civilizatório.

Depois da flotilha, a indignação
A tomada da flotilha humanitária e a detenção de ativistas catalisaram um sentimento que já vinha em ebulição. As imagens de pessoas algemadas, deportadas, incomunicáveis, atravessaram oceanos. Em cada aeroporto onde aterrissou um deportado, havia abraços, cânticos e promessas de não recuar. A rua entendeu algo que governos hesitam em admitir: ajudar civis não é crime; calar diante da fome é.

Mudança do vento diplomático
As marchas não operam ministérios, mas empurram portas. Nas últimas semanas, uma sequência rara de reconhecimentos formais do Estado da Palestina — Reino Unido, Canadá, Austrália, Portugal, entre outros — varreu o tabuleiro. É mais que gesto simbólico; é um reposicionamento. Se a política não consegue parar as bombas, pelo menos começa a reconhecer quem é bombardeado como sujeito de direito, e não como estatística descartável.

Quem faz o barulho do mundo
Os blocos são diversos. Estudantes levam faixas pintadas à mão, pesquisadores trazem dados de vítimas, sindicatos param turnos inteiros, artistas cantam onde antes havia silêncio, pais empurram carrinhos de bebê entre fileiras de policiais, e rabinos e rabinas erguem placas em hebraico lembrando o mandamento primeiro: não matarás. Em muitos lugares, as prisões se acumulam — e, com elas, cresce o compromisso de defender juridicamente quem ousa dizer que a lei sem humanidade é só aço e papel.

A estética da resistência
Há uma coreografia que se repete, mas nunca se esgota: lenços que ondulam, nomes de mortos lidos em uníssono, minutos de silêncio que são mais barulhentos que qualquer sirene. Cada cidade inventa um rito — mar de keffiyehs na chuva, pichações-poema, mosaicos de velas. A rua virou uma oficina de símbolos contra o esquecimento.

As perguntas que não calam
Quantos hospitais precisam ruir para que se aceite a palavra genocídio? Quantas escolas precisam ser evacuadas, quantas cozinhas populares destruídas, quantos jornalistas e paramédicos enterrados? A cada nova contagem de corpos, a marcha cresce. A cada nova desculpa oficial, a rua responde com mais passos.

Brasil na engrenagem global
Da Esplanada a praças de capitais, da frente de embaixadas a universidades, o país tem integrado esse circuito internacional de solidariedade. Há comitês, coletas, vigílias, cartas a autoridades e uma diplomacia civil que pressiona por corredor humanitário, proteção consular e responsabilização de crimes. Sem fogos de artifício, mas com a persistência de quem sabe: só a constância move o que parece imóvel.

O que pedem as ruas
Cessar-fogo imediato e permanente. Respeito ao direito internacional humanitário. Proteção a civis, jornalistas, profissionais de saúde. Fim do cerco e da fome fabricada. Liberdade para presos políticos. Reconhecimento pleno do Estado da Palestina e, com ele, uma geografia onde crianças possam crescer sem aprender primeiro o som das explosões.

Visceral, porque é urgente
Este não é um texto sobre geopolítica apenas — é um texto sobre carne. Sobre famílias inteiras vivendo à luz de celulares porque a eletricidade foi cortada; sobre olhos infantis que conhecem mais túmulos que parques; sobre idosos que escolhem entre água e segurança; sobre mães que preparam pão sem farinha. As ruas do mundo estão dizendo: nós vimos, nós sabemos, nós não vamos fingir que não é conosco.

O que vem agora
Mais marchas, mais assembleias, mais escudos humanos para proteger escolas e hospitais, mais boicotes econômicos e culturais, mais petições e ações judiciais, mais prefeitos declarando cidades pelo cessar-fogo, mais câmaras legislativas votando moções de reconhecimento. O calendário está cheio; a paciência, vazia. Até que a vida, finalmente, vença.