Atitude Popular

Washington Post perfila Alexandre de Moraes e expõe ofensiva de Trump contra o Brasil

Da Redação

Reportagem exclusiva publicada nesta segunda-feira, 18 de agosto de 2025, traça o retrato de Alexandre de Moraes como pivô da defesa institucional no Brasil, em meio a sanções dos EUA, tarifas punitivas, pressões de Elon Musk e a escalada da crise diplomática Washington–Brasília

O Washington Post publicou hoje um longo perfil de Alexandre de Moraes que ajuda a organizar, em um único quadro, o embate que vem redesenhando a relação entre Estados Unidos e Brasil. O texto apresenta o ministro do Supremo Tribunal Federal como a figura que “se recusa a se curvar” e que, a partir de decisões ancoradas no combate à desinformação e na proteção do processo democrático, tornou-se alvo prioritário da Casa Branca de Donald Trump. Em termos informativos, trata-se de uma peça que combina narrativa biográfica com a cronologia recente da crise, situando Moraes no centro de um tabuleiro onde se cruzam política doméstica brasileira, plataformas digitais e geopolítica.

A reportagem chega na sequência de medidas inéditas adotadas por Washington. Em 30 de julho de 2025, o governo Trump aplicou sanções ao ministro sob o guarda-chuva do Global Magnitsky, após revogação de vistos ocorrida em 18 de julho. O ato foi acompanhado, no plano econômico, pela elevação generalizada de tarifas sobre exportações brasileiras a patamares de 50%, com efeito direto sobre setores como café, proteína animal, têxteis e frutas. Em paralelo, a Casa Branca divulgou um texto que procura justificar as sanções sob a tese de que autoridades brasileiras teriam violado direitos de expressão de cidadãos norte-americanos ao exigir cumprimento de ordens judiciais por plataformas digitais.

No Brasil, os desdobramentos internos que compõem o pano de fundo do perfil são claros. Em 5 de agosto, por decisão de Moraes, Jair Bolsonaro foi posto em prisão domiciliar no âmbito do processo que apura a tentativa de golpe e outras frentes criminais; no dia 6, houve ajuste para permitir visitas familiares sem restrições, evidenciando o caráter processual das medidas e a calibragem das cautelares. O Supremo reafirmou que não se desviará de sua missão constitucional e o governo Lula classificou como inaceitável a interferência contra um magistrado. Na frente econômica, em 13 de agosto, o Planalto anunciou um pacote emergencial para mitigar o impacto das tarifas no setor exportador, preferindo sustentação e negociação à retaliação imediata.

O perfil do Post também recupera a frente tecnológica do conflito, central para compreender a escalada. Em 2024, X (ex-Twitter), de Elon Musk, foi suspensa no Brasil por mais de um mês por descumprimento de ordens judiciais, decisão que incluiu multas e determinou a indicação de representação legal no país. A reação de Musk — que chegou a chamar Moraes de “Darth Vader do Brasil” — sinalizou a transnacionalização do embate entre jurisdição democrática e plataformas que resistem a cumprir decisões nacionais. Em 2025, com a pauta regulatória mais madura e após a experiência daquela suspensão, Moraes voltou a defender que redes sociais operem sob leis locais, o que o transformou em símbolo internacional de uma postura de enfrentamento ao modelo de negócios baseado em amplificação de extremismos.

Há, ainda, a dimensão político-transnacional. O texto do Post aparece no mesmo ciclo em que Eduardo Bolsonaro, radicado temporariamente nos EUA, fez lobby explícito por sanções Magnitsky contra Moraes e celebrou o tarifaço de julho. O Financial Times e outras publicações internacionais tratam essa ofensiva como parte de uma estratégia de pressão sobre o Judiciário brasileiro, em defesa do aliado Trumpista no Brasil. Em termos de impacto, a medida teve efeito imediato no comércio bilateral, mas também reacomodou alianças: análises apontam que a elevação de tarifas e as sanções judiciais tendem a aproximar ainda mais países do BRICS em agendas de financiamento, comércio e infraestrutura digital, ao mesmo tempo em que ampliam o custo reputacional dos EUA entre democracias do Sul Global quando a pauta é respeito à magistratura de países soberanos.

A peça jornalística de hoje cumpre dois papéis. Primeiro, consolida para a audiência norte-americana uma linha do tempo em que as decisões de Moraes — do combate a milícias digitais ao cerco a estruturas de financiamento e coordenação de atos golpistas — não são excentricidades de um juiz, mas respostas institucionais a ataques concretos à ordem constitucional. Segundo, evidencia que a disputa já não é apenas jurídica: ela se dá no terreno da economia, da diplomacia e da comunicação, com Washington tentando enquadrar decisões soberanas como “abusos de direitos humanos”, enquanto Brasília trabalha para isolar os efeitos econômicos, sustentar o Estado de Direito e impedir a importação de narrativas que relativizam o 8 de janeiro e suas consequências.

O retrato traçado pelo jornal também captura o elemento humano e de risco político. Moraes tornou-se figura polarizadora, celebrado por setores democráticos por impor limites a redes e atores que corroem o processo eleitoral e atacado por grupos alinhados a Bolsonaro e Trump que tentam reembalar crimes e complôs como “liberdade de expressão”. Entre esses polos, o que se observa é a consolidação de um padrão: decisões firmes em defesa das instituições tendem a produzir, no curto prazo, choques diplomáticos e ruídos econômicos, mas também desarmam a capacidade de coordenação de campanhas de desinformação em larga escala.

Em perspectiva, o perfil do Post é um marcador. Ao escolher contar a história de Moraes como a história de um juiz que resiste à pressão de um presidente estrangeiro, o jornal projeta para seu público a ideia de que a democracia brasileira tornou-se um caso-teste global. Se a jurisdição de um Supremo latino-americano pode ser reescrita a golpes de tarifa e sanção, abre-se um precedente perigoso para qualquer país que ouse aplicar sua lei contra redes de ódio, milícias digitais e projetos autoritários. O Brasil, por ora, não cedeu. E a reportagem de hoje indica que, desta vez, o custo político dessa ofensiva recairá menos sobre quem defende a Constituição e mais sobre quem tenta tutelar, à distância, uma Justiça que não lhe pertence.