Atitude Popular

Alcolumbre determina instalação de CPI do Crime Organizado após chacina policial no Rio de Janeiro

Da Redação

O presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre, anunciou nesta terça-feira (29 de outubro de 2025) a instalação imediata da Comissão Parlamentar de Inquérito do Crime Organizado, em resposta à operação policial no Rio de Janeiro que deixou mais de cem mortos. A CPI investigará milícias, facções e suas conexões com o poder público e as forças de segurança.

1. A decisão e seu contexto político

Em pronunciamento oficial, Davi Alcolumbre confirmou que a CPI do Crime Organizado será instalada já na próxima semana, com início previsto para o dia 4 de novembro.
A medida é uma resposta direta à maior chacina policial da história do Rio de Janeiro, que expôs a gravidade da crise de segurança pública e o avanço do crime organizado dentro das instituições do Estado.

A comissão investigará a estrutura, o financiamento e a infiltração das organizações criminosas — milícias e facções — em esferas do poder público, especialmente nos governos estaduais e nas forças policiais. Segundo Alcolumbre, “é hora de enfrentar esses grupos criminosos com a união de todas as instituições da República”.


2. A chacina que motivou a CPI

A operação realizada nos complexos de favelas do Rio de Janeiro chocou o país e a comunidade internacional. Foram mais de cem mortos, a maioria moradores das periferias, em uma ação marcada por denúncias de execuções sumárias, desaparecimentos e ausência de controle judicial.
As imagens da operação mostraram um cenário de guerra urbana, com helicópteros, tanques e blindados entrando em comunidades densamente povoadas.

A Procuradoria-Geral da República já solicitou esclarecimentos sobre o cumprimento dos protocolos de direitos humanos, a ausência de ambulâncias e a falta de uso obrigatório de câmeras corporais.
Para especialistas, o episódio escancara o colapso da segurança pública nos estados e a falência do modelo militarizado de combate ao crime.


3. O papel estratégico da CPI

A nova CPI surge com três objetivos centrais:

  1. Desvendar os laços entre o crime organizado e o poder político – principalmente as milícias que controlam territórios, transporte, comércio e campanhas eleitorais;
  2. Analisar a estrutura das polícias estaduais e propor formas de controle externo sobre operações letais;
  3. Propor uma política nacional de segurança pública que vá além da lógica da repressão e aposte em inteligência, prevenção e justiça social.

A comissão deve convocar governadores, secretários de segurança, comandantes das polícias, representantes do Ministério Público, da Justiça e de organizações de direitos humanos.
A expectativa é de que apresente um relatório robusto com recomendações legislativas e encaminhamentos para responsabilizações criminais.


4. Desafios e riscos políticos

A CPI do Crime Organizado nasce cercada de pressões e resistências.
A autonomia dos estados sobre suas forças policiais limita a ação federal direta; além disso, há o risco de que setores da política conservadora tentem transformar a investigação em palanque para reforçar narrativas de “lei e ordem”.
Há também o desafio da transparência: CPIs anteriores sobre o tema foram abafadas por interesses locais e corporativos, sem gerar punições efetivas.

Mas o momento político é diferente. A gravidade da chacina e a comoção pública criaram um ambiente de cobrança nacional por justiça e por reformas estruturais na segurança.


5. O significado da CPI para o país

Mais do que um gesto administrativo, a criação da CPI do Crime Organizado é um divisor de águas.
Ela reconhece oficialmente que o crime e a corrupção deixaram de ser apenas fenômenos de periferia e tornaram-se fenômenos de Estado.
As milícias são hoje o elo entre a economia ilegal, a política conservadora e a violência institucional.
A ausência de controle sobre as forças policiais, a impunidade de operações letais e a infiltração do crime em estruturas públicas criaram um sistema de poder paralelo que desafia a soberania da República.

A CPI representa, portanto, uma tentativa de restaurar o pacto civilizatório rompido: o de que o Estado existe para proteger, e não para exterminar.


6. Um passo para romper o ciclo da barbárie

A crise de segurança pública não se resolverá com mais armas, mais fuzis ou mais mortes.
O país precisa de uma mudança de paradigma: o investimento em educação, emprego, cultura, urbanização e cidadania deve substituir a lógica de guerra.
A CPI do Crime Organizado pode ser o início desse caminho — desde que enfrente a verdade sem medo, desmascarando quem lucra com a violência e quem governa sob a sombra das milícias.

Se bem conduzida, a comissão poderá ser um marco na reconstrução do Estado de Direito no Brasil.
Se for sabotada, será apenas mais uma prova de que o país ainda não rompeu o pacto histórico entre poder e barbárie.