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Antártica à beira do colapso: cientista alerta para desastre global iminente

Da Redação

Pesquisadora do British Antarctic Survey diz que cada dia de emissões fósseis empurra o planeta para pontos de virada irreversíveis, com impactos devastadores nos oceanos e no clima mundial.

A cada dia em que a humanidade continua a consumir combustíveis fósseis, aproximamo-nos perigosamente de pontos de não retorno que ameaçam a estabilidade climática global. O alerta parte da Dra. Louise Sime, pesquisadora do British Antarctic Survey, que estuda a dinâmica polar e seus impactos no planeta. Conforme a especialista, a Antártica está à beira de mudanças abruptas e potencialmente irreversíveis em razão do aquecimento global, fenômeno acelerado pelas emissões de gases de efeito estufa. “Cada dia que queimamos combustíveis fósseis, a catástrofe se aproxima”, resume a cientista, em entrevista publicada no The Guardian em 27 de junho de 2025 (THE GUARDIAN, 2025).

Um dos sinais mais alarmantes foi registrado em 2023, quando a extensão do gelo marinho antártico encolheu em 2,5 milhões de quilômetros quadrados — uma queda considerada estatisticamente extrema, classificada como um evento cinco-sigma. Isso significa, em termos práticos, um acontecimento tão raro que não seria esperado em condições climáticas normais. A redução do gelo marinho compromete o chamado albedo, a capacidade de refletir a luz solar de volta ao espaço, gerando ainda mais aquecimento e criando um círculo vicioso difícil de interromper.

Enquanto a Groenlândia sofre perda de gelo de maneira relativamente linear, a Antártica, segundo Sime, apresenta riscos muito mais graves, pois grande parte de sua massa de gelo repousa abaixo do nível do mar, tornando-a estruturalmente vulnerável. Esse fator aumenta as chances de um colapso repentino, especialmente nas camadas de gelo da Antártica Ocidental, que incluem os glaciares Pine Island e Thwaites. Caso essas gigantescas plataformas cedam, o nível global dos oceanos pode subir de forma rápida e descontrolada, provocando deslocamentos populacionais em massa e destruição de infraestrutura costeira ao redor do mundo.

O derretimento do gelo antártico também altera profundamente a composição do oceano Austral. A água doce liberada tende a enfraquecer a salinidade, prejudicando as correntes oceânicas que desempenham um papel fundamental na regulação do clima do planeta. A interrupção dessas correntes pode desencadear desequilíbrios atmosféricos, afetando regimes de chuva, padrões de tempestades e a estabilidade de ecossistemas marinhos críticos. Além disso, o retrocesso do gelo expõe solos antes congelados, liberando poluentes armazenados ao longo de milhares de anos, como metais pesados, PCBs e pesticidas, o que agrava ainda mais os riscos ambientais.

Diante desse quadro, cresce a preocupação de que estejamos muito próximos de cruzar o limiar do chamado ponto de virada, a partir do qual as transformações no sistema climático se tornam irreversíveis em escala humana. Sime alerta que alguns desses pontos menores podem já ter sido ultrapassados, mas enfatiza que ainda existe uma oportunidade de evitar o colapso das grandes estruturas de gelo, desde que a humanidade consiga reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa.

O desafio, contudo, é colossal. Em 2024 e 2025, as medições de temperatura global já superaram de forma consistente a marca de 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais, aproximando-se rapidamente de patamares incompatíveis com as metas do Acordo de Paris. Esse cenário eleva as chances de rompimento de pontos críticos na Antártica e no Ártico, ampliando a necessidade de ações imediatas. Para os cientistas, ainda há espaço para mitigar a destruição, mas o tempo está acabando.

Os próximos passos da comunidade científica incluem o aprimoramento dos modelos climáticos que consideram as instabilidades oceânicas e as retroalimentações de albedo, além do monitoramento intensivo dos glaciares mais frágeis, como Pine Island e Thwaites, tanto via satélites quanto em expedições presenciais. Também está em curso o mapeamento de mudanças precoces nos ecossistemas antárticos, visando orientar políticas de adaptação e resposta rápida. Paralelamente, há consenso de que só será possível evitar o colapso total se ocorrer uma mudança radical na matriz energética global, com a substituição dos combustíveis fósseis por fontes renováveis e a implementação de medidas rigorosas de descarbonização.

A mensagem de Sime ecoa como um grito de alerta: a janela para agir está aberta, mas se fecha rapidamente. Ignorar os sinais de colapso no sistema polar pode significar perder o controle sobre dinâmicas ambientais que afetam diretamente toda a civilização. Evitar a catástrofe climática passa, mais do que nunca, por decisões políticas e sociais capazes de priorizar a vida sobre os lucros de curto prazo. A crise polar é apenas a face mais visível de um planeta que clama por ação — antes que não reste mais volta.

Fonte original: The Guardian, 27 de junho de 2025, disponível em: theguardian.com.

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