Atitude Popular

China inaugura rota Ártica de carga para a Europa e promete nova era logística global

Da Redação

Com a primeira viagem do China-Europe Arctic Express, Pequim afirma que o Ártico pode se tornar eixo de cooperação internacional, reduzindo custos, tempo de transporte e emissões de carbono.

Na madrugada de 23 de setembro de 2025, o navio porta-contêineres Istanbul Bridge deixou o Porto de Ningbo-Zhoushan, na província de Zhejiang, marcando a inauguração oficial da primeira rota expressa de contêineres China-Europa para o Ártico. Conhecida como China-Europe Arctic Express, a nova linha logística conecta diretamente portos chineses como Ningbo, Xangai e Qingdao a centros europeus como Felixstowe, Roterdã e Hamburgo, cruzando a chamada Passagem do Nordeste. A viagem deve ser concluída em apenas 18 dias — quase metade do tempo necessário pela tradicional rota do Canal de Suez.

O lançamento foi celebrado pela imprensa oficial chinesa como um marco histórico. Por séculos, exploradores imaginaram a viabilidade de uma rota do Mar do Norte; agora, a tecnologia e as mudanças geopolíticas tornam possível transformar o sonho em prática comercial. Para analistas em Pequim, a iniciativa não só reforça a resiliência das cadeias de suprimentos globais, como também oferece um contraponto ao congestionamento crescente em rotas críticas, como o Canal do Panamá e o Mar Vermelho, afetados por instabilidades políticas, disputas regionais e gargalos logísticos.

A bordo do Istanbul Bridge, além de produtos industriais como baterias e armários de armazenamento de energia, seguem mais de 4 mil encomendas de comércio eletrônico transfronteiriço, voltadas ao mercado europeu às vésperas das festas de fim de ano. Para Pequim, a rota simboliza não apenas eficiência logística, mas também a consolidação da chamada Rota da Seda Polar, integrada à Iniciativa Cinturão e Rota (BRI).

O conceito foi apresentado pelo presidente Xi Jinping em 2017, durante visita à Rússia, e formalizado em 2018 com o Livro Branco sobre a Política Ártica da China. Desde então, a estratégia tem buscado reforçar a cooperação com países costeiros e interessados no Ártico, com ênfase no uso pacífico, na coordenação internacional e no respeito à soberania dos Estados árticos. Segundo o editorial, essa abordagem tem trazido “oportunidades tangíveis de desenvolvimento econômico” às regiões ao longo da rota.

Outro ponto sublinhado pela narrativa oficial é a sustentabilidade. A nova rota promete reduzir em até 30% as emissões de carbono em comparação à passagem pelo Canal de Suez, além de diversificar opções de transporte em um contexto de pressões climáticas e disputas militares. A China apresenta a iniciativa como prova de que o Ártico pode ser mais do que palco de rivalidade geopolítica e corrida por petróleo e gás: pode ser espaço de cooperação, inovação e benefício compartilhado.

Ainda assim, o editorial reconhece que os desafios são grandes. O pleno desenvolvimento das rotas de navegação árticas exigirá infraestrutura robusta, sistemas de gestão de crises, protocolos de proteção ambiental e mecanismos multilaterais de governança. Para Pequim, o China-Europe Arctic Express marca a passagem da “era dos canais” para a “era polar” do transporte marítimo global, preenchendo uma lacuna estratégica e oferecendo um novo paradigma de cooperação internacional.