Atitude Popular

O fantasma do desenvolvimentismo

Por que Lula é o inimigo número um do Império

Por Reynaldo Aragon 

Em meio a um cenário de pressões externas, ataques informacionais e disputas internas intensas, este artigo examina como o projeto desenvolvimentista recoloca o Brasil no centro das tensões globais — e por que isso tem provocado uma reação coordenada de forças políticas, econômicas e tecnológicas contrárias à sua soberania.

O nome do inimigo.

O comunismo nunca foi o verdadeiro temor das elites globais. A bandeira vermelha, o martelo e a foice, os slogans de revolução — tudo isso sempre serviu mais como espantalho do que como ameaça real no tabuleiro latino-americano do século XXI. O que provoca calafrios nas salas envidraçadas de Washington, nas mesas da Faria Lima, nos servidores da Alphabet e nos gabinetes blindados da BlackRock não é a utopia socialista. É o desenvolvimentismo soberano. É a ideia de um Brasil que se ergue com as próprias pernas, distribui riqueza, reorganiza o papel do Estado e estabelece relações simétricas com o mundo. É isso que precisa ser combatido a qualquer custo.

Lula não é o inimigo por ideologia. É por eficácia. O que o torna intolerável para os interesses imperiais é sua capacidade de reorganizar o pacto nacional em torno de um projeto que inclui o povo. Que ativa o mercado interno. Que reposiciona o Brasil no cenário internacional. Que dá protagonismo ao Sul global. Que tira o país da posição de quintal e o coloca como potência de voz própria, incomodando as estruturas neocoloniais da geopolítica ocidental.

Desde 2003, o Brasil vive sob ataque contínuo. Não se trata de alternância democrática ou diferenças programáticas legítimas — trata-se de uma guerra. Uma guerra híbrida e silenciosa, operada por meios econômicos, jurídicos, tecnológicos, informacionais e simbólicos, cujo objetivo central é impedir que o Brasil realize seu projeto de nação soberana. E nesse front, Lula é o alvo constante porque ele é, para o Império, a maior ameaça à ordem global baseada na submissão.

Não é à toa que toda vez que o Brasil ensaia crescer com autonomia, o sistema reage. E reage com tudo: operação de guerra jurídica, sabotagem do legislativo, manipulação da mídia, censura algorítmica disfarçada de neutralidade, sanções informais, tarifações absurdas, chantagens diplomáticas e, quando tudo falha, o caos. O bolsonarismo foi isso: o caos como método. Um cavalo de Troia do capital internacional para recolonizar o país em nome da “ordem”, da “família” e do “livre mercado”.

A cada tentativa do Brasil de se aproximar da China, de fortalecer o BRICS, de ampliar o Mercosul ou de regulamentar suas plataformas digitais, acende-se o alarme no sistema financeiro global. A cada dólar desviado do rentismo para obras públicas, a cada empréstimo do BNDES para infraestrutura nacional, a cada migalha de soberania informacional recuperada, cresce o pânico nas salas de comando do capitalismo financeiro digital. O país é vigiado, pressionado, punido. O Brasil não pode dar certo — essa é a lógica não-dita que move os donos do mundo.

É por isso que, em 2025, Lula continua sendo perseguido. Não pelos erros reais, mas pelos acertos intoleráveis. Sua reeleição não foi só uma vitória eleitoral: foi uma derrota geopolítica para um modelo de dominação. E por isso a guerra não cessou. Pelo contrário: ela se intensificou. Hoje, o Brasil vive sob o cerco midiático, jurídico, legislativo e tecnológico de uma ofensiva que visa destruir sua autonomia. E, no centro dessa batalha, está o fantasma que jamais deixa de assombrar o Império: o próximo ciclo de desenvolvimentismo soberano na América Latina.

É esse o nome do inimigo.

O primeiro levante – Lula 2003: soberania, povo e projeto nacional.

Lula assumiu a Presidência da República em 1º de janeiro de 2003 com a esperança do povo nos ombros e a desconfiança do mercado nas costas. O ex-torneiro mecânico nordestino, que atravessara greves, perseguições e derrotas eleitorais, finalmente tomava posse no Planalto — e, com ele, o Brasil profundo voltava a sonhar. Mas o que se desenhava não era uma revolução. Era algo muito mais perigoso aos olhos das elites: um projeto nacional de desenvolvimento com inclusão social, lastreado em soberania política e autonomia econômica.

Nos primeiros anos de governo, Lula arquitetou uma engenharia complexa. De um lado, manteve certos compromissos com a ortodoxia econômica, como a meta de superávit primário e o regime de metas de inflação. Do outro, mobilizou o Estado como instrumento ativo de transformação social: expandiu o salário mínimo, fortaleceu os bancos públicos, ampliou o crédito, criou o Bolsa Família, iniciou o Fome Zero, apostou em grandes obras de infraestrutura. O Estado voltava a agir. E agia de forma coordenada com os interesses populares — um crime imperdoável para os defensores do status quo.

Em 2005, o Brasil quitou sua dívida com o FMI — um gesto simbólico e estratégico que escancarava uma virada na posição do país no mundo. Saíamos da condição de devedores crônicos para assumir o papel de credores e influenciadores do sistema financeiro internacional. Essa guinada foi mais que econômica: foi geopolítica. E o Império entendeu. Era o início da reação.

Na frente interna, Lula reativava o mercado consumidor com distribuição de renda e formalização do trabalho, reduzindo desigualdades e acelerando a inclusão social. Na frente externa, ensaiava um realinhamento sul-sul, fortalecendo o Mercosul, estreitando laços com a África e com países asiáticos, e buscando autonomia nas relações internacionais, sem subordinação automática aos EUA ou à Europa. Era uma nova política externa — altiva e ativa, como batizada por Celso Amorim —, que incomodava profundamente as potências ocidentais.

A elite brasileira, colonizada e dependente, jamais perdoou essa ousadia. A mídia comercial, que sempre funcionou como braço ideológico das classes dominantes, tratou de minar a imagem do governo com escândalos seletivos, narrativas de incompetência e uma vigilância moral que jamais foi aplicada aos seus aliados. O mercado, por sua vez, oscilava entre a euforia do lucro fácil e o terror de um governo que ousava pensar para além da planilha.

Mas o que assustava não era a retórica. Era a eficácia silenciosa de um modelo que começava a funcionar. O crescimento era sólido, a inflação controlada, os índices sociais melhoravam. O Brasil, pela primeira vez em décadas, experimentava desenvolvimento com inclusão. E isso, para as elites locais e globais, era inadmissível. Não porque fosse um fracasso — mas justamente porque era um sucesso.

O primeiro governo Lula provou que era possível combinar responsabilidade fiscal com expansão dos direitos sociais. Provou que o Estado podia ser eficiente sem se render ao capital especulativo. Provou que o Brasil podia crescer distribuindo — e não apenas concentrando — riqueza. E essa prova histórica foi, para o sistema, uma heresia política.

Foi ali, naquele momento, que os contornos da guerra começaram a se formar. O Império compreendeu que não bastava domar o discurso: era preciso sabotar o projeto. O Brasil precisava ser lembrado de seu “lugar”. E os instrumentos da dominação — mídia, mercado, lawfare, manipulação cognitiva — começaram a ser organizados. A primeira bala ainda não havia sido disparada, mas a artilharia já estava posicionada.

O nome do inimigo havia sido reconhecido. E o primeiro levante do Brasil soberano sob Lula entrava na mira da história.

A guerra começa – 2005, o ano da ruptura.

O ano de 2005 marca um divisor de águas na história política recente do Brasil. À superfície, o que se viu foi um escândalo político — o chamado “Mensalão”. Mas por trás do teatro das manchetes, o que se operava era algo muito mais profundo: o início sistemático da guerra híbrida contra o projeto desenvolvimentista brasileiro. Foi ali que o Império decidiu que o Brasil não podia mais seguir impune em sua ousadia. O preço pela soberania seria alto.

2005 é o ano em que o Brasil recusa oficialmente a entrada na ALCA, o projeto de integração continental comandado pelos EUA que pretendia subordinar as economias latino-americanas ao mercado estadunidense. A decisão brasileira, construída com lideranças como Chávez, Kirchner e Evo Morales, enterrou de vez o plano de dominação econômica regional via livre-comércio assimétrico. Esse gesto, aparentemente técnico e diplomático, foi interpretado por Washington como um ato de desobediência frontal. E a resposta viria com força.

Enquanto Lula consolidava políticas sociais que reduziam a miséria, fortalecia o mercado interno e aumentava o prestígio internacional do país, as elites brasileiras — tuteladas ideológica e economicamente pelos centros de poder global — se organizavam para destruir o que não conseguiam controlar. O escândalo do Mensalão se transformou em uma operação política de desgaste, judicializada pela mídia e instrumentalizada como narrativa fundadora da criminalização da esquerda e do petismo.

A partir dali, o jogo mudaria para sempre. O Supremo Tribunal Federal se tornaria peça política. A grande imprensa adotaria a estética da denúncia permanente. As operações da Polícia Federal ganhariam protagonismo midiático. E o judiciário, antes distante da política, seria treinado e incorporado às técnicas do lawfare — o uso da lei como arma de guerra, de destruição de reputações e de neutralização de projetos políticos adversários aos interesses do capital global.

2005 também é o ano em que o Brasil começa a se consolidar como um protagonista global independente. A política externa de Lula assume o comando da articulação sul-sul, fortalece a UNASUL, avança nos acordos bilaterais com a China, Índia e África do Sul e desenha as bases de um novo projeto geoeconômico multipolar: o BRICS. Ao mesmo tempo, a Petrobras descobre o pré-sal, revelando uma das maiores reservas de petróleo do mundo sob controle estatal. O Brasil começava a incomodar não só como modelo social, mas como potência energética.

Era demais. Um país continental, com vastos recursos naturais, liderado por um operário carismático, fortalecendo seus laços com a China, defendendo uma ONU reformada, estimulando a integração regional e reduzindo a pobreza — tudo isso sem pedir licença aos EUA. Não poderia continuar.

Foi assim que a guerra começou: silenciosa, bem articulada, coberta com ares de normalidade democrática, mas conduzida com a frieza e a persistência de uma operação de sabotagem permanente. Não se tratava mais de vencer uma eleição. Tratava-se de impedir que o Brasil se tornasse o que ele poderia ser: um ator autônomo, com voz, com força, com projeto — um exemplo inaceitável para o Sul Global.

A partir de 2005, nenhuma política brasileira seria julgada apenas por seus méritos técnicos ou impacto social. Tudo passaria a ser interpretado sob o prisma da ameaça à ordem. O Estado se tornava suspeito. O povo, secundário. A soberania, perigosa.

Foi o ano em que a elite nacional deixou de fingir neutralidade e passou a operar como quinta-coluna do capital transnacional. Foi o ano em que o Império deixou de tolerar Lula — e decidiu, ainda que não imediatamente, destruí-lo.

Nada mais seria como antes.

O ciclo de avanço – Lula 2 e Dilma 1: o Brasil começa a incomodar o centro do mundo.

Mesmo sob os efeitos da crise política forjada a partir de 2005, o segundo mandato de Lula foi uma reafirmação estratégica do desenvolvimentismo. O Brasil não apenas resistiu — ele avançou. O país cresceu, distribuiu renda, ampliou direitos e, sobretudo, projetou-se internacionalmente com uma ousadia que rompeu o cordão sanitário imposto aos países do Sul. E foi esse avanço, mais do que qualquer escândalo, que selou a sentença de guerra permanente contra o projeto de soberania nacional.

Entre 2007 e 2010, o Brasil viveu um dos períodos mais virtuosos de sua história econômica recente. O PIB cresceu, o desemprego caiu a patamares históricos, milhões foram retirados da extrema pobreza. O salário mínimo passou a ser reajustado com ganhos reais. A formalização do trabalho avançou. O crédito público se expandiu. A agricultura familiar foi fortalecida. Os bancos públicos voltaram a ser instrumentos de política de Estado.

E, em 2008, quando a crise financeira derrubou o mundo, o Brasil fez história: enquanto os países centrais afundavam em desemprego e pânico, Lula disse que a crise seria uma “marolinha” — e, no ano seguinte, o país cresceu mais de 7%. Não foi um milagre. Foi política pública. Foi decisão soberana. Foi a prova empírica de que era possível outro caminho: um caminho em que o Estado não serve ao mercado, mas ao povo.

Internacionalmente, o Brasil se tornava protagonista de uma nova ordem possível. A fundação do BRICS em 2009, ao lado de Rússia, Índia e China (e depois África do Sul), colocou o país no centro de uma articulação geopolítica que ameaçava diretamente a hegemonia financeira do dólar e o controle unilateral dos EUA sobre o comércio global. Com o fortalecimento do Mercosul, a construção da UNASUL e a retomada de relações estratégicas com países africanos e árabes, o Brasil se tornava o elo mais forte da virada multipolar.

Ao mesmo tempo, a Petrobras consolidava o domínio sobre o pré-sal, agora amparado por um novo marco regulatório que garantia exploração sob controle estatal e investimento em educação e saúde com os royalties do petróleo. O BNDES financiava infraestrutura em larga escala. O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) ativava a cadeia produtiva nacional. A indústria naval renascia. O conteúdo local virava política. O Brasil se tornava um símbolo: um país grande, com povo incluído, estado atuante, empresa pública forte e política externa soberana.

Mas não há maior pecado para o Império do que dar certo sem pedir bênção. O Brasil estava crescendo por caminhos próprios. E mais: estava inspirando outros países a fazer o mesmo.

Quando Dilma Rousseff assume a presidência em 2011, o projeto continua, com ajustes, mas sem rendição. Dilma mantém o tripé do desenvolvimentismo: presença ativa do Estado, distribuição de renda e soberania nacional. Lança o programa Minha Casa, Minha Vida. Amplia as universidades federais. Interioriza institutos federais. Garante 75% dos royalties do pré-sal para a educação. Investe no Pronatec. Cria o Ciência sem Fronteiras. E enfrenta, de forma silenciosa, a resistência brutal dos rentistas e da elite extrativista digital que começava a se infiltrar com força no Brasil via big techs.

Mas o preço começava a se tornar mais visível. O ataque midiático se intensificava. As tensões com o Congresso se agravavam. A pauta conservadora retornava ao centro da cena. O campo do capital — financeiro, agrário, digital, energético — se reorganizava para retomar o controle do país.

Nesse ciclo de Lula 2 e Dilma 1, o Brasil viveu sua maior projeção. Virou referência. Passou a incomodar.

O erro, para o sistema, não foi o excesso de corrupção — foi o excesso de soberania.

O crime não foi gastar — foi investir no povo.

A heresia não foi governar — foi fazer isso sem pedir autorização ao Império.

E então, o contra-ataque viria com força.

O ciclo de avanço precisava ser interrompido.

Não por falhas, mas por acertos.

O Brasil havia ido longe demais.

O contra-ataque imperial – Da Dilma ao golpe: desestabilização, lawfare e entreguismo.

A reeleição de Dilma Rousseff em 2014 foi a última gota. Contra todas as forças do sistema — mídia, mercado, Congresso, especulação financeira — o povo confirmou nas urnas a continuidade de um projeto que resistia. A vitória, por apertada que fosse, foi um recado: a maioria ainda acreditava que o Brasil podia ser um país para todos. E isso era intolerável.

Foi então que o contra-ataque imperial se desencadeou com brutalidade. O que antes era sabotagem sutil, virou ofensiva total. Com as ferramentas do lawfare afiadas, o aparato judicial e policial foi transformado em braço político do capital. A Lava Jato, travestida de cruzada anticorrupção, operou como uma operação de guerra híbrida orientada a destruir a credibilidade do Estado, neutralizar a engenharia nacional e eliminar Lula do jogo político.

Com apoio logístico dos EUA e cobertura cínica da mídia corporativa, a Lava Jato desorganizou cadeias produtivas inteiras, destruiu a indústria da construção pesada nacional, abriu espaço para empresas estrangeiras no setor de petróleo e impôs o desmonte da Petrobras e da política de conteúdo local. O que foi vendido como moralização era, de fato, uma política de desindustrialização e desmonte da soberania econômica.

Enquanto isso, o Congresso — já cooptado por bancadas vendidas ao capital internacional — movia-se para isolar Dilma, inviabilizar a governabilidade e preparar o terreno para o golpe. A pauta-bomba fiscal, o conluio de Eduardo Cunha com a oposição, a traição institucional do centrão, tudo fazia parte de um roteiro de sabotagem meticulosa. A farsa do impeachment foi só a formalização do assalto: uma ruptura constitucional operada sem tanques, mas com capas de revista, dossiês de WhatsApp e votos hipócritas em nome da “família”.

O golpe de 2016 foi o ponto alto da contraofensiva. Dilma, uma presidenta honesta, eleita democraticamente, foi derrubada sem crime. Lula, o ex-presidente mais popular da história, foi condenado sem provas. E o Brasil, de novo, foi entregue.

Michel Temer foi o mordomo do capital. Seu governo aprovou a Emenda Constitucional 95 — o teto de gastos que congelou os investimentos públicos por 20 anos, submetendo o futuro do país à lógica da escassez neoliberal. Iniciou o desmonte das leis trabalhistas. Enfraqueceu os bancos públicos. Acelerou as privatizações. Entregou o pré-sal. E tratou de apagar qualquer rastro do projeto de desenvolvimento que havia florescido entre 2003 e 2014.

Lula, condenado por Sergio Moro em uma sentença que se tornaria símbolo do lawfare, foi preso em 2018 para impedir sua eleição, num movimento que articulava judiciário, mídia e interesses internacionais. A prisão de Lula não foi um episódio jurídico — foi um golpe geopolítico. E foi exatamente isso que abriu caminho para a ascensão da anomalia política que seguiria.

O objetivo dessa fase do contra-ataque foi cumprido: aniquilar as possibilidades de um novo ciclo de soberania. E o método foi exemplar: a destruição do Estado por dentro, com juízes fazendo o trabalho dos tanques e manchetes operando como bombas de fragmentação da consciência nacional.

O Brasil, de projeto, voltou a ser produto.

E quem não entendeu isso em 2016, entendeu da pior forma em 2018.

O bolsonarismo como arma de destruição nacional.

Jair Bolsonaro nunca foi um projeto político. Foi um instrumento. Um vetor. Um cavalo de Troia tosco, mas funcional, construído para cumprir uma única missão: aniquilar o que restava da ideia de Brasil como nação soberana. Sua eleição, em 2018, não foi um fenômeno espontâneo — foi a etapa final de um ciclo de desestabilização que exigia um agente sem escrúpulos, sem compromisso institucional, sem limites morais. E ele entregou tudo isso, com brutal eficiência.

O bolsonarismo nasce do vácuo deixado pela destruição da política como instrumento do pacto social. Após anos de guerra midiática, lawfare e campanhas de desinformação sistemática, o povo brasileiro foi envenenado com o veneno da antipolítica — e o Império soube capitalizar esse ódio. Com apoio das big techs, uso intensivo de dados pessoais, manipulação algorítmica em massa, disparos ilegais no WhatsApp e redes de fake news operadas por think tanks internacionais, Bolsonaro foi catapultado ao poder como o boneco ideal para terminar o serviço iniciado pelo golpe.

Uma vez no poder, seu governo funcionou como um triturador de instituições. A destruição não era erro — era programa. Não era colapso — era método. A Amazônia foi entregue ao garimpo. O orçamento foi capturado por militares e milícias. A ciência foi sufocada. A educação desmontada. A diplomacia virou piada internacional. A pandemia foi utilizada como laboratório de morte e radicalização. E o Estado brasileiro foi reduzido a um espectro de si mesmo: uma máquina em ruínas, operada por fanáticos e saqueada por elites.

No campo da soberania digital e informacional, o Brasil foi colocado de joelhos. As plataformas digitais atuaram sem regulação. O Estado terceirizou seus fluxos de dados. A infraestrutura de comunicação foi entregue ao capital estrangeiro. A inteligência nacional foi aparelhada por redes paralelas ligadas ao trumpismo. E o país se tornou um dos maiores laboratórios do mundo em técnicas de guerra cognitiva — com a população transformada em alvo de experimentos contínuos de manipulação e desinformação.

Enquanto isso, os verdadeiros beneficiários sorriam em silêncio. O agronegócio multiplicava lucros com desmatamento e exportação em dólar. O capital financeiro celebrava os juros estratosféricos e o desmonte do Estado. As big techs capturavam dados e mentes sem qualquer controle. A mídia fingia surpresa, mas lucrava com o caos. E o Congresso, em sua maioria, seguia operando como correia de transmissão de interesses antinacionais.

Bolsonaro era grotesco, sim. Mas era também altamente funcional para o projeto imperial. Um presidente que desprezava a soberania, humilhava o país no cenário internacional, rompia laços históricos com a América Latina e submetia o Brasil aos interesses estratégicos dos EUA com um servilismo constrangedor. Trump o tratava como vassalo. Elon Musk o utilizava como ponta de lança. A CIA operava à vontade.

O bolsonarismo não inventou a destruição do Brasil. Ele apenas a executou com eficiência brutal. Foi o estágio terminal de uma infecção iniciada há décadas, acelerada pelo golpe e coroada com a corrosão da democracia por dentro.

E quando Lula retornou em 2023, não herdou apenas um país em crise. Herdou um país sabotado, vigiado, envenenado, com o Estado capturado, a soberania dilacerada e a população ferida por dentro.

A reconstrução seria, necessariamente, uma nova declaração de guerra.

E é exatamente isso que está em curso em 2025.

Lula 3: o retorno do pesadelo para as elites.

Quando Lula voltou à presidência em 2023, o Brasil já não era o mesmo país de 2003 — nem mesmo de 2010. Era um país ferido, desconfiado, fragmentado, cindido por bolhas cognitivas, dominado por lobbies armados e por uma lógica institucional profundamente capturada. O Estado havia sido sequestrado por interesses estrangeiros. O senso comum estava envenenado por anos de propaganda de ódio e desinformação. A soberania era uma ruína. E, ainda assim, o povo fez Lula voltar.

O que retornou ao Planalto não foi só um homem — foi uma memória histórica e uma promessa reacesa. Mas, para o sistema, a volta de Lula não significou apenas um incômodo. Foi o retorno do pesadelo. Porque, mesmo num cenário de ruínas, mesmo sob chantagem fiscal, sabotagem legislativa e cerco midiático, o novo governo reacendeu a centelha do desenvolvimentismo. E isso, para as elites do Norte global, é inaceitável.

Lula 3 não é o mesmo Lula de 2003 — e nem poderia ser. Ele governa agora com plena consciência de que está no centro de uma guerra híbrida global, onde cada gesto é rastreado, cada decisão é atacada antes mesmo de ser compreendida. Mesmo assim, ele voltou a reposicionar o Brasil. Retomou obras paradas, reativou bancos públicos, relançou o PAC, investiu em educação, cultura, inovação. Apostou na reindustrialização. Reaproximou-se da África, da Ásia, do mundo árabe e, sobretudo, da China — parceiro estratégico no novo desenho multipolar.

Foi nesse governo que o Brasil reativou sua presença soberana nos BRICS, agora ampliado e mais forte. Junto da China, liderou esforços de desdolarização do comércio global, passou a negociar em moedas locais e defendeu uma nova governança digital mundial, enfrentando abertamente os monopólios das big techs. Em fóruns internacionais, Lula voltou a ser ouvido, respeitado, convocado. A periferia do mundo voltou a ver no Brasil um farol possível, uma alternativa concreta à subordinação permanente.

E foi justamente por isso que a guerra se intensificou.

A partir de 2023, os EUA ampliaram sua ofensiva contra o Brasil. Através de think tanks, fundações privadas, pressão diplomática, lobby legislativo e ofensivas informacionais articuladas pelas plataformas digitais, o Brasil passou a ser punido por sua ousadia. E os episódios se acumulam: espionagem aberta sob pretexto de segurança, sanções econômicas disfarçadas, chantagens comerciais, pressão sobre o STF, incentivo à oposição parlamentar desleal, manipulação da opinião pública com inteligência artificial generativa e, mais recentemente, as tarifas retaliatórias do trumpismo digital — uma resposta direta à tentativa brasileira de regular plataformas e proteger sua soberania informacional.

A guerra não é simbólica. Ela é estrutural. E está em curso. As big techs — Google, Meta, X, Amazon — tratam o Brasil como campo experimental. A cada passo rumo à autonomia regulatória, uma nova retaliação. A cada esforço por uma internet soberana, uma campanha de desinformação. A cada discurso de Lula sobre multipolaridade, uma tentativa de desqualificação internacional.

Mesmo com tudo isso, Lula governa. Com coragem e cautela, costura alianças, escapa de armadilhas, enfrenta chantagens. Reorganiza ministérios, reestrutura o Estado, aposta na ciência, na cultura, na reconstrução do laço nacional. Seu governo é um campo de batalha — e, mesmo assim, conseguiu conter o colapso institucional promovido por Bolsonaro, frear a sanha entreguista e reconectar o Brasil ao mundo.

Mas o cerco não afrouxa. E a lição está clara: o Brasil não pode existir como projeto autônomo sem enfrentar guerra. O que está em jogo não é o mandato de um presidente. É o direito de uma nação se autodeterminar.

E é por isso que Lula, hoje, continua sendo o maior inimigo estratégico das elites globais. Porque ele não se ajoelha. Porque ele representa o retorno de algo que nunca conseguiram enterrar: a ideia de um país que se constrói de dentro pra fora, com o povo como sujeito e com o Estado como ferramenta.

O nome disso é desenvolvimentismo soberano.

E esse nome segue assombrando o Império.

A guerra híbrida total: como os EUA e as big techs estão reagindo hoje (2025).

Em 2025, o Brasil está sob ataque. Um ataque sem tanques, sem drones visíveis, sem tropas oficiais — mas com poder de fogo muito mais letal: dados, algoritmos, lobby legislativo, manipulação informacional e sabotagem econômica direta. A guerra híbrida não é mais um conceito acadêmico — é o nome da realidade vivida todos os dias por um país que ousa retomar o controle de seu próprio destino.

O primeiro sinal claro veio de onde menos se esperava: as tarifas impostas pelos EUA ao Brasil, sob justificativa comercial, mas com motivação política nítida. Um movimento capitaneado pelo núcleo trumpista republicano, com apoio de setores do Vale do Silício, como resposta direta ao avanço brasileiro sobre a regulação das plataformas digitais. Era o Império dizendo: “vocês não têm o direito de se proteger”. Foi uma retaliação explícita à tentativa de Lula, do STF e de setores democráticos de impedir a colonização cognitiva do país pelas big techs.

Mas a guerra não se resume à economia. Ela se aprofunda no Congresso Nacional, onde bancadas inteiras — financiadas por plataformas, agronegócio transnacional e grupos religiosos internacionais — atuam como correias de transmissão do projeto imperial. Projetos de lei que impedem a regulação da internet, que flexibilizam a proteção de dados, que criminalizam movimentos sociais, que esvaziam a educação pública e que desmontam a estrutura fiscal do Estado são apresentados em série, com apoio de think tanks financiados por fundações dos EUA e da Europa.

No campo da informação, a sabotagem é constante, massiva e invisível para a maioria. Plataformas como X, Meta e YouTube operam com critérios opacos, privilegiando conteúdos reacionários, silenciando vozes progressistas, manipulando algoritmos para empurrar radicalização política, desinformação e desmoralização do governo. A máquina de guerra cognitiva funciona em tempo real: faz trending topics, derruba engajamento, amplifica fake news, fabrica escândalos e destrói reputações.

Ao mesmo tempo, operações de lawfare 2.0 voltam ao centro da cena. Acusações forjadas, investigações seletivas, processos vazados estrategicamente para a imprensa, tudo reaparece com roupagem renovada — agora com auxílio da inteligência artificial, capaz de fabricar provas, forjar vídeos, simular vozes e textos com aparência legítima. O objetivo? Desestabilizar a credibilidade institucional e, principalmente, antecipar a destruição de lideranças antes das eleições de 2026.

A disputa não é só contra Bolsonaro ou seus asseclas — eles são peças. A disputa é contra a recolonização do país via instrumentos não convencionais de dominação. A big tech não é apenas uma empresa: é o novo braço civil-militar do Império, operando sob a retórica da inovação, mas promovendo sabotagem de soberanias, exploração de dados e manipulação das subjetividades.

O Brasil, em 2025, se tornou o principal laboratório de guerra híbrida do planeta. Nada menos. Aqui se testam armas informacionais, estratégias de captura legislativa, modelos de lawfare digital, formas de intervenção econômica indireta, mecanismos de censura algorítmica. Aqui se experimenta o novo imperialismo do século XXI.

E tudo isso tem um alvo central: impedir o retorno pleno do projeto desenvolvimentista, impedir que o Brasil volte a pensar com sua própria cabeça, a produzir com seu próprio povo, a falar com sua própria voz.

Essa guerra não será vencida apenas com tweets, discursos ou boas intenções. Ela exige estratégia, organização, unidade. Exige nomear os inimigos reais — sem medo, sem eufemismo.

O inimigo não é apenas a extrema-direita. O inimigo é o sistema que a pariu, que a sustenta e que a utiliza como escudo para continuar mandando no Brasil sem parecer que manda.

E esse sistema, hoje, se vê obrigado a escancarar suas garras porque, apesar de tudo, o Brasil resiste.

O Brasil no centro da nova geopolítica mundial.

Não é exagero dizer: o Brasil está hoje no epicentro das disputas que vão moldar o século XXI. Não pelas armas, mas pelo que representa: um país do Sul global com recursos, território, povo, cultura, biodiversidade, indústria e, sobretudo, projeto. Um país que se recusa a ser colônia — e, por isso, tornou-se ameaça. Uma ameaça concreta à ordem global do capital ocidental. O Brasil está onde nunca foi permitido estar: no centro das decisões, nas mesas de negociação, nas articulações que escapam ao controle de Washington.

A ampliação do BRICS foi um marco. Em 2024, o bloco passou a incorporar novos países — como Egito, Irã, Etiópia, Emirados Árabes e Arábia Saudita — e, mesmo com a exclusão temporária da Argentina por razões políticas internas, a lógica multipolar se consolidou. O BRICS se tornou não apenas um espaço simbólico, mas uma força geoeconômica real, responsável por mais de 35% do PIB global, com um banco próprio, linhas de crédito independentes e a proposta mais concreta de desdolarização da economia internacional.

E o Brasil está lá. Com protagonismo. Com credibilidade. Com voz.

A diplomacia brasileira retomou o papel que os governos golpistas tentaram apagar: ponte entre continentes, articulador entre blocos, defensor do multilateralismo, da paz e do direito ao desenvolvimento soberano. Lula, com seu prestígio internacional reconstruído, tornou-se figura central em encontros do G20, ONU, BRICS e Mercosul. E não por acaso: é o único líder do Ocidente ampliado que fala com todos os lados do mundo — e é ouvido.

Mas nada causa mais calafrios no Império do que a integração física e logística do Sul global sem sua intermediação. A proposta da ferrovia bioceânica, que ligará o Brasil ao Oceano Pacífico através do Peru, passando por áreas estratégicas de produção agrícola e mineral, é uma revolução silenciosa. Com apoio chinês e investimento multilateral, essa rota encurta distâncias, rompe com a dependência dos portos atlânticos controlados pelos EUA e Europa, e fortalece a cadeia logística da América do Sul.

Essa ferrovia muda tudo. Porque conecta o Brasil à Ásia com eficiência, fortalece o Mercosul, valoriza a integração sul-americana e enfraquece os gargalos logísticos impostos pelo comércio subordinado. É geopolítica de infraestrutura. É soberania sobre trilhos. E, por isso, é tratada como ameaça estratégica pelos EUA. Não à toa, os think tanks de Washington e os lobbies multinacionais intensificaram campanhas de sabotagem e difamação do projeto, usando desde ambientalistas capturados até o Congresso brasileiro como instrumento de contenção.

Enquanto isso, o Brasil avança em acordos com China, África, Oriente Médio e Sudeste Asiático. Amplia o uso de moedas locais no comércio bilateral. Promove feiras de tecnologia. Exporta conhecimento. Retoma o debate sobre tecnologia de semicondutores, transição energética, soberania digital, inclusão global. O país começa, timidamente, mas com firmeza, a se apresentar como líder do século XXI que não se curva à lógica colonial.

E o Império? Reage. Reage com tarifas, com manipulação de ratings, com sabotagem legislativa, com pressão de big techs, com tentativas de isolar o país em fóruns internacionais, com criação de narrativas difamatórias, com uso de inteligência artificial para produzir medo, desconfiança e ruptura interna. Reage porque sabe: um Brasil soberano, conectado ao Sul global e respeitado no cenário internacional, é o começo do fim da ordem imperial baseada na desigualdade.

O que está em jogo é o mundo.

O que está em jogo é o futuro das nações que querem existir fora da coleira.

O Brasil é — queiram ou não — protagonista da nova geopolítica mundial.

E é por isso que a guerra não vai parar.

A menos que o povo se organize para vencê-la.

O que está em jogo – Soberania, povo, projeto.

O que está em jogo não é uma eleição. Não é um governo. Não é uma ideologia. O que está em jogo é se o Brasil vai existir como nação ou se vai continuar sendo uma peça descartável no tabuleiro dos impérios. E isso não se decide nas manchetes nem nas redes — se decide nos rumos do projeto nacional. Se decide na disputa pelo que é o Brasil e para quem ele serve.

A guerra híbrida em curso, com todas as suas camadas — judiciais, econômicas, digitais, simbólicas — tem um único objetivo: impedir que o povo brasileiro retome o controle do país. Por isso atacam Lula. Por isso atacam o STF. Por isso sabotam a regulamentação da mídia. Por isso mentem sobre o BRICS. Por isso vendem o desmonte como “modernização”. Porque sabem que, se o Brasil acordar, não haverá força no mundo que contenha sua potência.

O Brasil é uma ameaça à ordem global porque tem tudo para ser soberano. Tem território, biodiversidade, base industrial, matriz energética, ciência, cultura, mercado interno, povo trabalhador e criativo. Tem o que nenhum império tolera: potencial autônomo. Mas isso só se realiza com projeto. E o projeto está em disputa.

De um lado, o modelo da servidão moderna: um país controlado por bancos, big techs e latifúndios digitais; onde a política é refém de think tanks estrangeiros, a mídia é vassala do capital financeiro, e a população é tratada como massa de manobra algorítmica. Esse é o Brasil que eles querem: produtivo para fora, obediente para dentro.

Do outro lado, o projeto que começou a ser erguido em 2003 e que hoje ressurge com força: um Brasil que decide suas prioridades, protege seu povo, regula sua informação, distribui sua riqueza, defende sua floresta, investe em ciência, integra-se com o Sul global, olha nos olhos da China, da África, do mundo árabe — e fala com voz própria.

Não é comunismo que eles temem. É nacionalismo popular. É Estado ativo. É soberania energética. É política industrial. É educação emancipadora. É a descolonização do imaginário. É o povo entendendo seu papel histórico. É o Brasil deixando de ser colônia.

E é por isso que a guerra seguirá brutal. Não vão aceitar perder sem lutar. Vão radicalizar o lawfare. Vão espalhar desinformação. Vão comprar o Congresso. Vão pressionar o judiciário. Vão investir em sabotagens econômicas. Vão retomar a máquina de ódio. Porque sabem que 2026 pode ser o ponto sem volta.

Mas há uma força que eles não dominam: a união popular. A organização de base. O despertar da consciência. A inteligência coletiva que brota nas periferias, nas universidades, nas redes de resistência, nos quilombos, nas aldeias, nas fábricas, nas escolas, nas redes de afeto que sobrevivem à barbárie. Eles têm tudo. Mas não têm o povo acordado.

E quando esse povo acorda, nenhuma big tech, nenhum fundo especulativo, nenhum think tank financista, nenhum Congresso corrupto segura.

Porque um povo em luta por sua soberania não pede licença — toma de volta o que é seu.

O que está em jogo é isso:

Se seremos para sempre quintal ou se seremos, enfim, país.

Uma nação em disputa.

O Brasil está em disputa. Não apenas nas urnas ou nas instituições. Está em disputa na memória, na linguagem, na história, na economia, na geopolítica, no algoritmo, no imaginário. Está em disputa na capacidade de um povo retomar o controle de seu destino diante de um sistema global que opera para impedir qualquer lampejo de soberania real.

Não estamos vivendo uma simples crise política. Estamos vivendo a fase aguda de uma guerra de longa duração, travada em múltiplas frentes, contra a possibilidade de o Brasil existir como projeto autônomo. Tudo o que vimos — do golpe de 2016 às fake news de 2018, da prisão sem provas de Lula às tarifas retaliatórias de 2025 — é parte de uma mesma lógica: a contenção de um país que ousa querer mais do que lhe foi permitido.

Mas há algo que sobreviveu a tudo: a ideia de Brasil. Um Brasil que produz para dentro. Que redistribui. Que preserva sem se ajoelhar. Que se conecta ao mundo com dignidade. Que forma seu povo com ciência, arte e consciência. Que não aceita ser mera engrenagem da máquina extrativista dos impérios. Essa ideia ainda pulsa — e é ela que guia cada tentativa de reconstrução.

Hoje, em 13 de julho de 2025, o campo está formado. De um lado, as elites globais e seus operadores locais: big techs, fundos financeiros, think tanks, mídia colonizada, Congresso capturado, exército de bots e discursos moralistas que escondem o medo de perder privilégios. Do outro, um povo que começa a se reerguer, a compreender a natureza do ataque, a enxergar no desenvolvimentismo não uma nostalgia, mas uma ferramenta estratégica para um futuro possível.

Essa luta não será decidida com discursos bonitos nem com gestos simbólicos. Será decidida com organização, disputa de narrativa, resistência material e projetos concretos. Exige um novo pacto de soberania — informacional, econômica, energética, ambiental, cognitiva. Exige que os setores progressistas abandonem a ilusão da conciliação e assumam, com lucidez e firmeza, a responsabilidade de defender o Brasil contra seus verdadeiros inimigos.

Lula não é apenas um presidente. É um símbolo que sobreviveu à máquina de moer lideranças. Mas o futuro não pode depender de símbolos. O futuro precisa de estratégia. E a estratégia precisa de clareza. De método. De base social organizada. De trincheiras digitais. De ruas mobilizadas. De legisladores comprometidos. De jornalistas valentes. De professores firmes. De artistas dissonantes. De cientistas com coragem. De juventude disposta. De uma aliança nacional que compreenda que o que está em jogo é o direito de existir.

O mundo está mudando. O império está em crise. As brechas estão se abrindo. E o Brasil está no centro.

Eles não têm medo de um passado vermelho.

Eles têm pavor de um futuro soberano.

O que está em jogo não é o lulismo. É o país.

E essa guerra — por mais longa e suja que seja — ainda pode ser vencida.

Mas só será vencida se nomearmos os inimigos, compreendermos o campo e, acima de tudo, decidirmos lutar.

Porque o Brasil — esse Brasil real, vasto, múltiplo, ferido, potente — ainda pode vencer.

E vencer, agora, é resistir com estratégia.

Reynaldo Aragon é jornalista especializado em geopolítica da informação e da tecnologia, com foco nas relações entre tecnologia, cognição e comportamento. É pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos em Comunicação, Cognição e Computação (NEECCC – INCT DSI) e integra o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Disputas e Soberania Informacional (INCT DSI), onde investiga os impactos da tecnopolítica sobre os processos cognitivos e as dinâmicas sociais no Sul Global.