Atitude Popular

Prof. Euclides Mance propõe: “O grande tema é mudar o lugar da realização do valor”

No programa Bancos da Democracia, o professor Euclides Mance propõe uma transição estrutural que retire a economia das mãos do capital e coloque o valor a serviço da libertação popular

No programa Bancos da Democracia exibido pela Rádio e TV Atitude Popular em 9 de junho, o professor e pesquisador Euclides Mance apresentou uma profunda análise sobre o que chama de “economia solidária de libertação”. A conversa foi conduzida por Sara Goggia, com comentários de Eduardo Barbosa, articulador da Rede de Comitês Populares pela Democracia. A edição completa está disponível no canal da emissora e foi marcada por uma síntese rara entre teoria econômica, estratégia política e proposição concreta de alternativas à lógica capitalista.

Baseado em sua obra mais recente, Economia de Libertação, Mance defendeu que a superação do sistema capitalista não se dará apenas por resistência moral ou práticas isoladas, mas sim pela reorganização concreta dos circuitos econômicos em torno da autogestão. “A principal força produtiva é a classe trabalhadora. São os seres humanos”, disse. “A gente tem que mudar o lugar da realização do valor. Ele tem que ser realizado no circuito econômico solidário.”

A ideia central, desenvolvida com base na análise marxista dos circuitos do capital, é a de que toda a cadeia — do crédito à produção, passando pela distribuição, comercialização e consumo — pode ser reorganizada com base em um projeto político autônomo, voltado à coletividade e ao desenvolvimento local. A COP de Santo André, cooperativa que hoje fatura R$ 2,4 bilhões anuais com mais de 70 farmácias e 30 mercados, foi apresentada como exemplo de êxito real, e não de utopia.

Eduardo Barbosa destacou a importância de pensar a expansão dessas experiências com apoio do poder público: “A gente precisa de um novo ciclo organizativo. A esquerda ainda patina porque não consegue escalar o que já deu certo”. O comentário gerou um desdobramento relevante sobre o papel do Estado e a distinção entre o que é público e o que é estatal: “O SUS atende ao interesse público. Já o pagamento de juros da dívida aos rentistas, não”, explicou Mance. Para ele, a transição exige fortalecer o campo democrático-popular da sociedade e reorganizar o Estado de forma a garantir crédito, produção e circulação autogeridas.

Entre os destaques da conversa, a ferramenta de inteligência artificial desenvolvida a partir dos algoritmos de sua obra foi apresentada como inovação estratégica. Disponível no site comunir.org, o sistema permite simular circuitos econômicos solidários com base nos dados de consumo locais e projetar sua viabilidade mês a mês, incluindo crédito, excedente e sustentabilidade. “Você diz onde está, quantas famílias participam, e a ferramenta calcula o potencial econômico daquela comunidade. Ela detecta problemas e propõe soluções. É uma IA a serviço da libertação”, resumiu.

Respondendo a uma crítica construtiva do economista Renato Dagnino sobre os limites da tecnociência capitalista, Mance enfatizou que “libertar as forças produtivas” envolve criar novas tecnologias compatíveis com valores ecossociais. Para ele, não se trata de usar qualquer meio de produção herdado do capital, mas de transformar a base técnica e cognitiva do próprio desenvolvimento. “As tecnologias também precisam ser libertadas. A economia solidária não pode ser dependente da estrutura técnica que sustenta a exploração.”

Ao final do programa, a apresentadora Sara Goggia destacou a potência pedagógica da proposta. “Aprender sobre economia solidária é como aprender a andar de novo. Muda nosso eixo. E tudo começa por onde a gente compra, por onde a gente organiza o valor do que produz”, afirmou. A provocação de Marta Mitidieri, ouvinte do programa, resumiu o espírito do encontro: “E a gente dando troco no capitalismo. O capitalismo usa nosso cooperativismo e a gente usa as tecnologias dele.”

Mance encerrou reafirmando que a libertação econômica não é teoria solta: “Não é utopia, é estratégia. Cada circuito novo desloca o centro de acumulação e realoca o valor. A pergunta que temos que fazer é: onde o valor será realizado?”

https://youtube.com/watch?v=xk2M-3DXSqg%3Fsi%3DnHv40-7Zv32ofE83

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