Em entrevista ao programa Democracia no Ar, o sanfoneiro Gil Safoneiro defende a renovação do pé de serra, critica a lógica das gravadoras e revela os bastidores do seu segundo DVD, gravado no quintal de casa
O programa Café com Democracia, da Rádio e TV Atitude Popular, recebeu na última edição especial de feriado o músico cearense Gil Safoneiro, direto do Crato, em plena temporada de festejos juninos. A entrevista, conduzida por Luiz, foi ao ar na sexta-feira e pode ser assistida no canal da emissora no YouTube. Com trajetória marcada pela valorização do forró tradicional, Gil falou sobre suas composições, a formação jurídica, os desafios da produção musical independente e a importância de manter vivo o legado de artistas como Luiz Gonzaga e Dominguinhos.
Aos 7 anos, Gil descobriu a sanfona. Aos 14, começou a compor. Fez faculdade de Direito em Fortaleza, onde fundou uma banda com colegas de curso, conciliando o amor à música com a militância cultural. “Sempre gostei do pé de serra, mas queria rejuvenescê-lo sem perder sua essência”, disse. Essa busca resultou em dois volumes de DVD gravados em casa, com músicas autorais, entre elas Casinha com varanda e Beijo matador.
A canção que mais repercutiu até agora foi xote da esperança, escrita com o parceiro Rodolfo Franco em plena pandemia. “Hoje a música é muito monotemática. A gente queria compor algo que fizesse refletir, como faziam Dominguinhos e Gonzaga, com letras longas, que contavam uma história”, explicou antes de cantar um trecho ao vivo, emocionando o público.
Gil também comentou a dificuldade de competir com gêneros que dominam os algoritmos. “O forró virou ‘música de velho’ não porque perdeu relevância, mas porque deixou de ser impulsionado”, afirmou. Segundo ele, muitos colegas ainda apostam apenas em regravações por falta de apoio para projetos autorais. “Se você não tem 10, 15 mil reais pra impulsionar nas redes, seu trabalho não aparece, mesmo sendo bom.”
Mesmo assim, o sanfoneiro acredita que a internet ainda é um espaço de resistência. “Recebi mensagem de um pai de São Paulo dizendo que o filho só dorme escutando minha música. É esse tipo de coisa que dá sentido à luta.” Através da plataforma YouTube for Creators, Gil percebeu que seu público, antes majoritariamente com mais de 60 anos, passou a ser majoritariamente abaixo de 50 após o lançamento dos DVDs.
Ele também destacou a importância de rádios comunitárias como a Monteiro FM, de Flávio José, que dedica sua programação ao forró tradicional, e citou nomes com quem mantém contato, como Chambinho do Acordeon e Flávio Leandro. “A gente vai furando bolhas com muito esforço. E precisa do apoio do povo. Que curtam, comentem, compartilhem. A cultura precisa circular”, apelou.
Ao final do programa, Gil cantou mais uma de suas canções inéditas e reforçou seu compromisso de seguir compondo. Para o volume três, prometeu incluir músicas com temáticas sociais e políticas, retomando a tradição crítica de Luiz Gonzaga. “O forró tem que voltar a falar do campo, da terra, da vida do povo.”
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