Atitude Popular

Tarifaço de Trump dá tiro no pé e atinge indústria de armas bolsonarista

Do DCM

A tarifa de 50% imposta pelos EUA atingiu em cheio a indústria de armamentos brasileira, especialmente a Taurus — símbolo do bolsonarismo —, resultando em férias coletivas e ameaça real de demissões, além de expor os riscos de alinhar políticas nacionais a regimes estrangeiros.

A indústria bélica nacional acaba de receber um golpe severo — não por falha tecnológica ou demanda interna, mas por uma medida protecionista de Washington. A tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, decretada pelo presidente Trump, atingiu novamente a Taurus, maior fabricante de armas leve do país, símbolo do bolsonarismo e celeiro eleitoral para o segmento da “Bancada da Bala”.

De acordo com dados oficiais, aproximadamente 61,3% das exportações brasileiras de armamentos, munições e acessórios em 2024 estiveram destinadas aos Estados Unidos — mais de US$ 323 milhões de um total de US$ 528 milhões, contra apenas US$ 17,6 milhões importados dos EUA. Nada menos que 82,5% da produção da Taurus tem como destino o mercado americano — uma dependência absoluta e perigosa.

Como reflexo imediato, uma fornecedora da Taurus em São Leopoldo (RS) colocou 40 funcionários em férias coletivas neste mês de agosto, medida que anunciava os primeiros sinais de crise. A empresa também transferiu estoques para sua unidade americana e pediu ao governo do Rio Grande do Sul liberação antecipada de créditos de ICMS para reduzir o impacto.

Essas ações ilustram como decisões políticas externas — quando abraçadas com fanatismo por líderes internos — podem repercutir como verdadeiros tiros no próprio pé. A Taurus não é apenas industrial, mas mapear os votos conservadores associados ao bolsonarismo. Sua fragilidade econômica expõe a inconsistência de uma política de armas alinhada ao populismo, mas dependente de clientelismo internacional.

O cenário estratégico e o peso simbólico

Esse setor bélico é emblemático: a indústria de defesa brasileira é uma das poucas com estrutura desenvolvida globalmente, gerando faturamento anual em torno de R$ 1 bilhão e empregando cerca de 40 mil pessoas. Marcas como Taurus, Avibras, Embraer, Imbel e Helibras compõem uma cadeia estratégica que vai muito além da venda de armas — influenciando soberania tecnológica e industrial do país.

No entanto, sob o bolsonarismo, essa engrenagem foi reduzida a símbolo ideológico e eleitoral, enquanto sua subscrição ao alinhamento com Trump expôs fragilidades graves: a falta de diversificação de mercados, a dependência de um governo externo e a ausência de resposta proativa diante das sanções.

A resposta nacional e o apreço pela soberania

A crise da Taurus contrasta com a reação firme do governo Lula, que, diante da escalada tarifária, lançou o programa “Plano Brasil Soberano”, com US$ 5 bilhões em ajuda a setores afetados, prioridade às microempresas e reforço institucional para negociar com os EUA.

Além disso, desde 2023 o Brasil tem acelerado sua inserção em mercados como China, Índia, Rússia e África do Sul, reduzindo a exposição externa. E setores estratégicos, como defesa, já começaram a buscar novos parceiros e parcerias tecnológicas no Oriente Médio, Ásia e África, preparando uma transição mais resiliente.

Moral da história: não se pode misturar política ideológica com política industrial

Se há uma lição aqui, é clara: apoiar medidas de governo estrangeiro por afinidade ideológica abre caminho para consequências desastrosas — para as empresas, para os empregos e para a soberania nacional. A Taurus, outrora símbolo de autossuficiência e apoio rural, tornou-se vítima de uma guerra comercial que nem procurou motivação nem defesa real no Brasil.

O país precisa redescobrir a lógica industrial: produção estratégica, diversificação de destinos e políticas públicas que não dependam de populismo alinhado a governos estrangeiros. Essa tarifa de Trump pode ser entendida como o ponto de inflexão — um giro forçado da rota que, se for bem aproveitado, pode fortalecer a indústria brasileira com mais autonomia, menos dependência e mais cidadania.