Da Redação
A chacina do Rio de Janeiro, com mais de cem mortos, não é um caso isolado — é o sintoma extremo de um projeto político que transforma o medo em arma eleitoral e o sangue em narrativa. Governos estaduais de direita aprofundaram a militarização, a exclusão social e a promiscuidade entre forças policiais e crime organizado. Agora, tentam culpar o governo Lula por um colapso que eles próprios construíram.
1. O Brasil sitiado: o medo como política de Estado
A tragédia ocorrida no Rio de Janeiro no dia 28 de outubro de 2025 — uma operação policial que resultou em mais de uma centena de mortes em favelas pobres — é o espelho de uma crise nacional.
Não se trata apenas de “violência urbana”. Trata-se de violência política, uma engrenagem em que o medo e a morte são usados como ferramentas de controle social e de manipulação ideológica.
Em pleno século XXI, o Brasil vive o retorno de uma política de segurança baseada em eliminação, e não em proteção. Estados governados pela direita e pela extrema-direita, como Rio de Janeiro e São Paulo, transformaram suas polícias em braços de guerra interna, autorizando o uso desmedido da força e estimulando a lógica da “caça ao inimigo”.
Mas quem é o inimigo?
É o jovem negro da periferia, o morador de favela, o trabalhador precarizado, a mulher pobre.
A morte voltou a ser política pública — e é isso que precisa ser dito sem eufemismos.
2. A direita e seu projeto de desagregação social
A direita brasileira, desde o golpe de 2016, vem adotando um discurso duplo sobre segurança: moralista na retórica, cúmplice na prática.
Enquanto grita por “lei e ordem”, sabota programas de inclusão, enfraquece políticas sociais, corta investimentos em educação e saúde e esvazia a presença do Estado nas comunidades.
O resultado é um país onde o abandono se confunde com estratégia.
Esses governos criam o caos e depois culpam o governo federal por não contê-lo.
No Rio, Claudio Castro, herdeiro político do bolsonarismo, mantém uma política de extermínio disfarçada de “combate ao crime”. Em São Paulo, Tarcísio de Freitas militarizou o policiamento e destruiu pontes entre o Estado e a sociedade civil.
Ambos estimulam uma cultura de guerra permanente, que serve de cortina de fumaça para o fracasso administrativo e o avanço da criminalidade que dizem combater.
É o que se chama de doutrina do caos controlado: permitir que o crime prospere, que o povo viva acuado e que a extrema-direita surja como “única solução” — uma falsa salvação construída sobre a ruína social.
3. A fascistização das polícias: quando a farda vira ideologia
Desde o bolsonarismo, a militarização das forças de segurança deixou de ser apenas tática e passou a ser doutrina ideológica.
As polícias militares foram capturadas por um projeto de extrema-direita que as transformou em corporações ideológicas, com símbolos, slogans e redes de comunicação próprias.
Não se trata mais de combater o crime — trata-se de combater o “inimigo político”.
Policiais são formados dentro de um ambiente de culto à violência, à hierarquia cega e à lealdade pessoal a líderes autoritários.
O resultado é devastador: uma corporação armada, radicalizada, politizada e desconectada de valores republicanos.
A chacina do Rio de Janeiro é fruto direto desse processo.
Agentes agiram como exército de ocupação, não como servidores públicos.
A narrativa oficial repete o discurso de “guerra ao narcotráfico”, mas a prática revela o oposto: uma política de aniquilação seletiva que mata mais pobres do que criminosos.
O Estado virou o próprio agente da barbárie.
4. A simbiose entre direita e crime organizado
A hipocrisia chega ao limite quando se observa a relação entre a direita e o crime.
Enquanto os governos estaduais promovem operações espetaculares, o crime organizado se infiltra nas instituições, em conluio com setores da política, das milícias e de parte das próprias polícias.
No Rio, há décadas, a linha entre milícia e Estado é inexistente. A polícia “mata” o tráfico, mas protege milicianos que controlam territórios, cobram taxas e dominam o transporte alternativo e o comércio informal.
Essas milícias são o braço armado da política de extrema-direita.
Financiam campanhas, intimidam comunidades, manipulam o voto e produzem a narrativa de que “o povo precisa de quem imponha ordem”.
E quando o caos se instala, o governo federal — que não tem controle sobre as polícias estaduais — é responsabilizado.
Trata-se de uma estratégia deliberada: a direita produz o colapso para depois vendê-lo como culpa alheia.
A criminalidade se torna ferramenta eleitoral, e o sangue derramado, capital político.
5. A tentativa covarde de culpar o governo Lula
Nas últimas 48 horas, parlamentares da direita começaram a insinuar que a crise de segurança seria culpa “do governo federal”, acusando o Planalto de “omissão”.
É uma manipulação grosseira.
A segurança pública é competência dos estados, e os massacres — como o do Rio — são executados por forças subordinadas diretamente a governadores.
O governo Lula, ao contrário, vem tentando coordenar uma política nacional baseada em integração, inteligência e prevenção, enquanto estados bolsonaristas sabotam qualquer iniciativa que envolva controle de abusos ou transparência policial.
A narrativa de que “Lula é fraco contra o crime” é apenas a nova roupagem da velha tática fascista: criar o inimigo interno para justificar o autoritarismo.
Essa retórica não tem compromisso com a segurança — tem compromisso com a destruição da democracia.
6. O preço humano da política de extermínio
A chacina do Rio é mais do que uma estatística.
São 134 corpos — homens, mulheres, jovens, mães, filhos — marcados pela pobreza, pela cor e pela exclusão.
Cada um deles representa o fracasso de um Estado que desistiu de proteger sua população.
Representa o triunfo temporário da barbárie sobre o pacto civilizatório.
Enquanto helicópteros sobrevoam favelas e tanques avançam sobre vielas, o povo assiste a seus direitos serem assassinados junto com seus corpos.
É o retrato de um país que ainda carrega a herança colonial: a elite manda matar e o povo pobre morre sem nome.
7. Soberania, democracia e reconstrução
A reconstrução da segurança pública no Brasil passa por um princípio básico: a vida não é inimiga da lei.
É preciso refundar o modelo policial, desmilitarizar as forças, romper a cultura do ódio e da guerra, e restaurar o papel civil do Estado.
Enquanto a direita continuar governando com base no medo e na morte, o país continuará refém de sua própria violência.
A chacina do Rio é o símbolo de um projeto de poder — e não de segurança.
Mas o Brasil democrático, popular e soberano precisa reagir.
Porque cada tiro disparado contra o povo é um tiro contra o próprio futuro da nação.