Atitude Popular

“A flotilha é invencível”

Indigenista vê avanço do clamor global por cessar-fogo e diz que acordos não apagam o caráter genocida do Estado de Israel

A pressão mundial por um cessar-fogo imediato em Gaza cresceu e ganhou novo fôlego com a ação da Flotilha da Liberdade e com manifestações massivas em vários continentes. A avaliação é de Gustavo Guerreiro, indigenista e membro do Observatório das Nacionalidades, entrevistado no programa Democracia no Ar, apresentado por Sara Goes. As declarações foram dadas na edição de 9 de outubro de 2025 e ancoram esta matéria, que se baseia na entrevista transmitida pela Rádio e TV Atitude Popular

O convidado descreveu a flotilha como um ato humanitário e político, com poder de deslocar o debate internacional e expor o bloqueio israelense. “A flotilha é invencível”, disse, ao defender que a operação venceu tanto na hipótese de conseguir entregar alimentos e medicamentos, quanto na de ser impedida, porque “mostrou a face de um processo de genocídio”

Flotilha e opinião pública
Para Guerreiro, o sequestro de ativistas desarmados e o confisco de remédios e mantimentos evidenciam a natureza do bloqueio. Ele rejeita leituras que tentam reduzir a missão a espetáculo midiático e afirma que o efeito diplomático se multiplicou porque houve parlamentares a bordo. Segundo ele, a presença de representantes de dezenas de países criou constrangimento real, ampliou a vigilância internacional e ajudou a pressionar governos europeus a reverem exportações de armas

Cessar-fogo em disputa
O entrevistado reconhece o alívio imediato que um acordo de trégua pode trazer para a população exausta de bombardeios, mas alerta para a continuidade de ataques mesmo após anúncios de entendimento. “Um acordo de paz não apaga o que está acontecendo”, afirmou. Ele recordou uma sequência de negociações frustradas nas últimas décadas e disse temer cláusulas que pedem a desmilitarização palestina sem garantias efetivas de cumprimento por Israel. Outro ponto sensível, na sua avaliação, é a criação de uma força internacional de estabilização sob tutela estadunidense, questão que abre dúvidas sobre convivência com a realidade de incursões militares israelenses

Sionismo, colonialismo e linguagem
Guerreiro separa crítica ao governo de Israel do antissemitismo e rejeita eufemismos. “Ser sionista é aderir a uma ideologia colonial e racista”, afirmou, ao lembrar que todo projeto colonial envolve expulsão de populações e práticas de extermínio. Ele criticou a padronização que estigmatiza palestinos e transformou a sigla Hamas em sinônimo de desumanização, mas sem relativizar o ataque de 7 de outubro, classificado por ele como terrorista. O ponto, insiste, é compreender causas históricas e a corrosão da Autoridade Palestina, processo que abriu espaço para a ascensão de grupos radicais em um território cercado e submetido a ocupação

Diplomacia brasileira e debate público
Na cena interna, Guerreiro vê ganhos políticos na postura assertiva do governo Lula ao denunciar o massacre em foros multilaterais, inclusive na ONU. Essa posição, disse, oferece contraponto à narrativa dominante, ajuda a deslocar mentes e corações e inspira a sociedade civil a manter mobilização, boicotes, desinvestimentos e sanções. Ele faz uma ressalva sobre a hashtag que classifica o Congresso como inimigo do povo, argumento que considera perigoso porque generaliza e deslegitima uma instituição democrática que precisa ser disputada e transformada

Redes sociais e disputa de sentidos
O programa trouxe críticas à desinformação e ao linchamento cotidiano que se reproduzem nas plataformas. Guerreiro apontou o papel de influenciadores que tentam ridicularizar a solidariedade internacional, citou ataques pessoais contra a deputada Luizianne Lins e advertiu para a banalização do sofrimento quando imagens de guerra circulam no mesmo fluxo de entretenimento trivial

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