Da Redação
Com o cessar-fogo entrando em vigor na Faixa de Gaza, analistas no Líbano dizem que Israel já mira novos embates contra o Irã, visando responder ataques e ampliar hegemonia regional — risco que pode evoluir para guerra por procuração.
O recente acordo de cessar-fogo em Gaza foi recebido mundialmente como um alívio momentâneo para a população palestina, mas logo analistas libaneses e observadores do Oriente Médio alertaram: trata-se apenas de uma pausa estratégica para que Israel redirecione o foco ao Irã. Segundo esses especialistas, Tel Aviv pretende usar a trégua como trunfo diplomático e logística para organizar um confronto mais amplo com Teerã ou grupos iranianos em sua órbita.
Expansão do conflito: do teatro palestino ao eixo Teerã-Beirute
No Líbano, governos e centros de estudo veem nas hostilidades contra a Faixa não o objetivo final, mas uma etapa de pressão sobre o Irã, acusando-o de fomentar grupos armados no Líbano (como o Hezbollah), Síria e Iraque. Esses analistas sustentam que Israel poderá autorizar ataques preventivos, operações discretas ou retaliações contra capacidades militares ligadas ao Irã, sob justificativas de contenção estratégica.
Algumas das previsões mais destacadas incluem:
- Bombardeios a instalações de mísseis em território sírio ligadas a grupos iranianos.
- Ataques cibernéticos e operações encobertas contra sistemas estratégicos de defesa iranianos.
- Ampliação de cooperações com aliados regionais (Arábia Saudita, Emirados, Egito) para criar frente unida contra a influência iraniana.
- Diversão de recursos militares e diplomáticos de Gaza para a fronteira norte de Israel e para o perímetro das forças iranianas regionais.
Motivos estratégicos para a transição de alvo
- Neutralização de ameaça indireta
Israel teme que, com maior liberdade estratégica após o cessar-fogo, o Irã ou grupos respaldados por ele possam retomar ou intensificar ataques transfronteiriços — inclusive com mísseis de longo alcance. - Retomada de iniciativa regional
Tel Aviv pode ver nesta mudança de foco uma forma de recuperar protagonismo diplomático, apontando que sua ofensiva contra Gaza foi um “moderação” estratégica e realinhando sua narrativa como potência defensiva. - Logística e tempo favorável
A trégua oferece janela para reposição de estoques, movimentação de bases e realocação de forças, facilitando que Israel desloque verbas, armamentos e estratégias para outras frentes sem a pressão imediata de Gaza. - Pressão interna e mídia doméstica
O governo israelense enfrentou críticas de segmentos internos por permitir restrições demais durante o conflito. Ao mudar o foco para Teerã, pode canalizar apoio nacional e criar consenso interno de segurança.
Cenários possíveis e riscos escalatórios
- Conflito indireto no Líbano e Síria
Grupos como Hezbollah poderão ser acionados em retaliações, convertendo o Líbano em linha de frente e jogando Beirute no epicentro de uma guerra por procuração. - Escalada regional
Se Israel atacar diretamente ativos iranianos, o Irã poderá responder via bomba drones, mísseis balísticos ou retaliações a aliados israelenses regionais. - Civis presos no fogo cruzado
A população síria e libanesa, já fragilizada pela guerra interna e crises econômicas, pode sofrer com deslocamentos, bombardeios indiscriminados e perdas materiais. - Intervenção das potências
Rússia, China, Turquia ou EUA podem intervir diplomática ou militarmente, ampliando ainda mais o conflito e transformando-o em jogo global.
O papel do Brasil e as escolhas diplomáticas
Para o Brasil, Terra distante do conflito direto, esse quadro oferece lugar estratégico como voz independente. O governo Lula pode:
- reafirmar posição de mediação, reafirmando o direito internacional e denunciando escaladas que violam soberania e vida civil;
- propor iniciativas diplomáticas multilaterais que convoquem países do Sul Global para condenar ataques e desigualdades no manejo da guerra;
- reforçar presença humanitária com envio de ajuda a vítimas colaterais, se necessário.
Além disso, se o Brasil mantiver discurso coerente e humanitário — sem alinhamentos automáticos — poderá fortalecer sua diplomacia internacional e projetar papel de guardião das vulnerabilidades globais.
Conclusão
A trégua em Gaza é só o primeiro ato de uma peça geopolítica maior. Se Israel realmente pretende mirar o Irã, o mundo entrará numa fase de tensão ampliada, onde cada bombardeio terá repercussão extensível.
Para a guerra não deixar vítimas simbólicas, é necessário que o Brasil e os países do Sul reafirmem que soberania não se negocia — e que paz verdadeira só existe quando cessam todos os combates.