Atitude Popular

Ciência e responsabilidade no tratamento do autismo com canabidiol

Pesquisa da Uece revela evidências promissoras, mas ainda insuficientes, sobre o uso de CBD em crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista

No programa Democracia no Ar, transmitido pela TV Atitude Popular, os cientistas Iara Késsila Milhome e Renê Felipe de Freitas apresentaram os resultados de uma ampla pesquisa coordenada pela Universidade Estadual do Ceará (Uece) sobre o uso do canabidiol (CBD) no tratamento de crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A investigação foi financiada pelo CNPq e pelo Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Ciência e Tecnologia.

Durante um ano, a equipe mapeou e analisou todos os estudos disponíveis nas principais bases de dados científicas do mundo. A revisão incluiu pesquisas pré-clínicas com animais, estudos observacionais e ensaios clínicos com humanos. Embora tenha sido identificado um potencial terapêutico do CBD na redução de sintomas como irritabilidade, hiperatividade, estereotipias e dificuldades de sociabilidade, os pesquisadores alertam que ainda são escassas as evidências robustas que sustentem sua eficácia plena e segura.

“Essa é uma pesquisa sensível, porque lida com dois temas cercados de estigmas: cannabis e infância”, afirmou a pesquisadora Iara Milhome. Ela destaca que, apesar da crescente aceitação social do canabidiol como alternativa terapêutica, sobretudo entre famílias de pessoas autistas, é necessário cautela: “A gente não pode prometer cura ou solução mágica sem base científica sólida”.

Segundo Renê de Freitas, o estudo encontrou apenas sete trabalhos com animais em todo o mundo que testaram o uso da cannabis no contexto do TEA. Em humanos, foram identificados oito estudos observacionais e 44 ensaios clínicos, muitos com limitações metodológicas como ausência de cegamento e baixa duração do acompanhamento. “O estudo mais longo que encontramos seguiu os pacientes por apenas 18 meses, o que é insuficiente para mensurar efeitos prolongados”, explicou o pesquisador.

Os resultados observados indicam melhorias em alguns sintomas comportamentais, relatadas principalmente por cuidadores, mas com elevado grau de expectativa que pode influenciar a percepção dos efeitos. Por isso, o grupo de pesquisa agora avança para uma nova fase de estudos experimentais com animais, visando preencher lacunas como a definição de dose ideal por faixa etária, tempo mínimo de tratamento, combinações seguras de fitocanabinoides e possíveis efeitos adversos de longo prazo.

Além da análise científica, o grupo se preocupa em democratizar o conhecimento. Por meio do projeto de extensão Universo e do perfil @genit_neurociencias, os pesquisadores promovem formações, palestras e eventos em escolas, associações e universidades do interior do Ceará. “A universidade pública tem o compromisso de devolver à sociedade o conhecimento que ela ajuda a produzir”, afirmou Iara.

No encerramento do programa, os cientistas reforçaram que o canabidiol não é uma panaceia, mas pode vir a integrar o conjunto de terapias utilizadas no tratamento de pessoas autistas, desde que amparado por evidências e com acompanhamento profissional. “A ciência não mata a esperança, ela a coloca no lugar certo”, concluiu Renê.

O próximo seminário promovido pelo grupo será no dia 21 de agosto, às 8h, na Unilab de Redenção, com participação aberta ao público e foco na formação de profissionais, cuidadores, educadores e interessados no tema.

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