Atitude Popular

Índia exibe orgulho nacional em meio a tensões internas e choques geopolíticos

Da Redação

Desfiles, homenagens militares e campanhas de “autossuficiência” convivem com protestos regionais e debates sobre política externa — um mosaico que revela como o discurso do orgulho nacional é usado tanto para mobilizar consenso quanto para enfrentar crises internas.

A Índia viveu nesta semana mais um capítulo de sua afirmação como potência global emergente. Em um evento grandioso, o governo apresentou ao mundo uma combinação de orgulho cultural, inovação tecnológica e força militar, projetando não apenas uma imagem de unidade nacional, mas também de protagonismo internacional.

As celebrações, repletas de símbolos tradicionais, desfiles e exibições tecnológicas, tiveram como objetivo demonstrar ao mundo a capacidade do país de equilibrar sua milenar herança cultural com os avanços modernos. No palco, danças clássicas dividiram espaço com demonstrações de drones autônomos, veículos elétricos e painéis solares de última geração, reforçando a mensagem de que a Índia caminha com firmeza rumo à liderança no século XXI.

O governo de Narendra Modi tem utilizado esses eventos como parte de uma estratégia maior de soft power, vinculando desenvolvimento econômico, modernização tecnológica e patriotismo. A mensagem central é clara: a Índia não é apenas um ator regional, mas uma força global capaz de influenciar a política, a economia e a cultura mundial.

Essa narrativa tem efeito direto na política interna. A ênfase no orgulho nacional funciona como um fator de coesão em um país diverso e por vezes fragmentado, marcado por desigualdades sociais, diferenças religiosas e disputas regionais. Ao exibir a Índia como uma nação forte e unida, o governo busca consolidar apoio popular em torno de sua liderança e neutralizar críticas da oposição.

No campo externo, a Índia procura mostrar que pode ocupar um espaço autônomo diante das disputas entre grandes potências. Ao mesmo tempo em que fortalece sua parceria estratégica com os Estados Unidos, mantém cooperação com Rússia e China, além de apostar nos BRICS e em fóruns multilaterais. O espetáculo desta semana, portanto, não foi apenas uma demonstração interna de orgulho, mas também uma mensagem enviada ao mundo de que Nova Délhi deseja ser respeitada como protagonista no cenário global.

Críticos, contudo, alertam para os riscos dessa exaltação nacionalista. Se por um lado reforça a coesão interna, por outro pode alimentar tendências autoritárias e restringir o espaço para a crítica e a diversidade. Há também preocupações de que o discurso de poder e grandeza mascare problemas sociais urgentes, como a desigualdade, a pobreza e as tensões comunitárias.

Ainda assim, o impacto do evento é inegável. Ele projeta a Índia como uma potência que alia tradição e modernidade, cultura e tecnologia, orgulho interno e ambição global. Essa narrativa, cuidadosamente construída, tende a fortalecer ainda mais a posição indiana nos próximos anos em um cenário internacional marcado por disputas acirradas e transformações profundas.