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Israel retoma operações em Gaza: cenário se complica e sinal de nova fase de guerra

Da Redação

No domingo, 19 de outubro de 2025, Israel lançou uma nova série de ataques aéreos e terrestres contra a faixa sul da Faixa de Gaza, especialmente na região de Rafah, depois de alegar que unidades da Hamas haviam disparado contra tropas israelenses. A retomada das hostilidades marca o fim — ou pelo menos a suspensão — de um frágil cessar-fogo que entrara em vigor dias antes, colocando em risco não apenas a paz provisória, mas a própria viabilidade de qualquer negociação de longo prazo.

Israel justificou a ação dizendo que era uma resposta necessária a uma “violação grave da trégua”. Por outro lado, autoridades palestinas afirmam que as acusações foram fabricadas como pretexto para retomar ofensiva, e caracterizam o movimento israelense como mais uma etapa de ocupação e guerra prolongada.


O que motivou o rompimento

Fontes israelenses afirmam que tropas operavam na periferia de Rafah para desmantelar túneis atribuídos ao Hamas quando foram atingidas por morteiros e projéteis antitanque. O comando militar israelense declarou que “não podia tolerar ataques a tropas em território sob responsabilidade israelense por mérito da trégua”.

Por sua vez, o Hamas nega relação com o ataque atribuído e afirma que sua cadeia de comando não operacionaliza unidades nessa zona desde que a trégua entrou em vigência. Analistas apontam que a trégua já vinha sendo minada por violações mútuas, mas a nova ofensiva pode ser o estopim para uma fase muito mais ampla de guerra.


Como se dá a nova fase da ofensiva

Os alvos israelenses incluem túneis subterrâneos, depósitos de armas, veículos blindados e postos de observação vinculados ao Hamas. Aeronaves, tanques e artilharia estão sendo mobilizados para dar suporte imediato às operações terrestres. A zona de Rafah e arredores – onde civis deslocados se concentram – tornou-se rapidamente zona de combates intensos e bombardamento pesado.

Além disso, Israel anunciou que regras da trégua estão suspensas até que o Hamas “restaure o princípio de rendição incondicional” ou libere todos os reféns. A fronteira para ajuda humanitária, em especial a travessia para o Egito, permanece fechada, aumentando a pressão sobre a população civil.


O impacto humanitário e social

Com a retomada das hostilidades, hospitais em Rafah, Khan Younis e centros de refugiados entram em colapso. As organizações de socorro relatam que ambulâncias não conseguem circular livremente e que há escassez de medicamentos, água potável e alimentos. Civis, muitos deslocados de zonas mais ao norte, agora se veem presos entre duas forças bélicas.

Além dos óbitos diretos por bombardeios, o ambiente propicia morte por desnutrição, falta de tratamento médico e crise de infraestrutura. A sensação de urgência humanitária reacende o debate sobre crime de guerra e bloqueio ofensivo deliberado.


Geopolítica e implicações para a paz

A nova ofensiva retira do quadro o otimismo que havia nas negociações mediadas pela comunidade internacional. Um cessar-fogo não cumprido abre caminho para que Israel justifique movimentos mais amplos, e que o Hamas responda com ataques de longo alcance ou alianças externas. O risco de envolvimento do Líbano, da Síria ou de grupos alinhados ao Irã cresce à medida que o conflito se expande.

Para muitos países da região e blocos como o Sul Global, o episódio reforça a tese de que Israel opera com duplo padrão: exige rendição do adversário e impunidade para seus próprios atos. Instituições como a ONU e tribunais internacionais voltam a ganhar centralidade, embora existam dúvidas reais sobre sua capacidade de contenção.


Um novo ciclo de guerra ou o fim da trégua?

Se o cessar-fogo se mostrou incapaz de conter hostilidades pontuais, sua quebra agora abre três cenários possíveis:

  • Escalada ampla, com operações terrestres em massa, maior mobilização de reservistas e possível extensão da guerra por anos.
  • Impunidade prolongada, onde ataques seletivos e bombardeios contínuos passam a operar como rotina, condicionando a população a conviver com estado de guerra permanente.
  • Renegociação emergencial, em que mediadores tentem fechar nova trégua, desta vez com supervisão mais robusta, prazos definidos e garantias de cumprimento — mas com o custo de concessões territoriais e políticas.

A situação sugere, porém, que o mais provável é uma combinação das duas primeiras: ofensiva contínua e bloqueio diplomático reforçado, ao menos enquanto as exigências de Israel (liberação de reféns, rendição do Hamas) não forem atendidas ou até que o Hamas recue ou colapse internamente.


Conclusão

A operação retomada por Israel em Gaza à beira de Rafah representa muito mais que uma simples escalada militar: é a derrocada de uma trégua frágil, o sinal de que o ciclo de conflito pode durar ainda mais e com intensidade crescente. Para os civis de Gaza, o futuro imediato é sombrio. Para o mundo, o momento exige que se pergunte: até quando uma guerra pode se chamar “pausa” antes de se tornar permanente?

A resposta moldará a história do Oriente Médio nas próximas gerações — e o preço mais alto, como sempre, será pago pelos desamparados.